Os três dos cinco maiores jornais dos Estados Unidos intensificaram os testes com novas fórmulas de produção tanto na parte editorial como na parte comercial e gerencial, diante do contínuo deterioro das receitas publicitárias e o avanço do jornalismo através da internet. É dificil dizer se é uma estratégia coordenada ou se o esforço é fruto da angustiante pressão que os executivos da imprensa sofrem de acionistas e anunciantes. O certo é que há uma coincidência de iniciativas, onde a mais impactante é sem duvida a da cadeia de jornais Gannet (uma das cinco maiores dos EUA) que optou por uma mudança radical ao reduzir drasticamente as redações dos jornais regionais e municipais, substituindo-as pelo que batizou de Centrais de Informação (Information Centers). A Gannett, dona do USA Today (o mais vendido no país), vai reorganizar toda a sua estrutura de coleta e edição de notícias ao integrar as redações de todos os veículos (jornais, radios e TVs) para que a informação deixe de ser produzida pensando na forma como será distribuida. Isto significa que os repórteres e editores deixarão de ser vinculados a um veículo e sim a um sistema de informação.Cada redação será transformada numa Central de Informações. Mas as novidades não param aí. A atividade jornalística deixará de ser baseada nas tradicionais editorias de economia, política, internacional, esportes, locais etc para priorizar sete áreas: serviço público, inovação tecnológica, estatísticas, diálogo com leitores, assuntos comunitários, informações personalizadas e produção multimídia. A mudança que já está em curso provocou algumas reações hostís de jornalistas mais experientes e há uma espectativa em torno do que vai acontecer nos próximos seis meses. É uma aposta radical, onde o tema mais polêmico é o do diálogo com os leitores, uma política editorial que altera o tradicional unilaterialismo nas relações entre a redação e o público de jornais como o USA Today. Já o Los Angeles Times , da cadeia Tribune, resolveu experimentar por meio do controvertido Projeto Manhattan cujo principal objetivo é saber o que o futuro reserva para o maior jornal da costa oeste dos Estados Unidos. Trata-se na verdade de uma grande reportagem sobre as alternativas para a imprensa escrita num ambiente informativo onde a internet e os leitores têm uma visibilidade cada vez maior. O Projeto Manhattan, nome dado anteriormente ao esforço norte-americano para produzir a bomba atômica, está sendo tocado por três repórteres investigativos em tempo integral e seis editores em tempo parcial. O grupo recolhe experiências em todo mundo em matéria de participação dos leitores no processo editorial de jornais, para descobrir quais os projetos que podem ser aplicados no LA Times. A preocupação do jornal de Los Angeles com o seu futuro pode ser explicada parcialmente pela sucessão de crises internas provocadas por divergências entre os executivos da rede Tribune e os principais editores do LA Times. No início de novembro o editor responsavel e o editor chefe do jornal foram demitidos sumariamente porque se recusaram a demitir jornalistas. Em Nova Iorque, quem deseja mudanças são os investidores na bolsa de valores que pressionam a familiar Sulzberger, que controla o The New York Times, a ceder parte do controle corporativo para os acionistas minoritários. A reação da família foi negativa e a briga pode esquentar depois que a corretora Morgan & Stanley tomou as dores dos acionistas e exige que os descendentes de Adolph Ochs, que comprou o jornal em 1896, vendam parte do capital social. Aqui a disputa é mais financeira do que editorial. A familia Sulzberger quer impedir a repetição do episódio da venda da rede de jornais Knight & Ridder, no ano passado, sob pressão dos acionistas descontentes com a desvalorização das ações dos grandes jornais norte-americanos. Conversa com os leitores
O tema do texto pode parecer distante da realidade brasileira mas na verdade mostra como até mesmo os grandes jornais norte-americanos estão preocupados com a temática que marcou os últimos posts do Código Aberto: a participação dos leitores no processo informativo. Lá já existe até o jargão crowdsourcing, que significa busca de informação por meio de multidões. Por isto não se trata de uma questão marginal ou alternativa. Ela está no centro da busca de novos modelos para a imprensa. Leio todos os comentários dos leitores e tenho que admitir que eles já são hoje uma das minhas principais fontes de informação. As queixas e censuras são importantes mas contribuem muito menos que a exposição de idéias e de experiências, porque estas alimentam o debate com insumos novos e diversificados.