Esta semana eu fiz uma exposição sobre a Web para professores de uma faculdade de jornalismo e no final um dos participantes saiu-se com uma observação surpreendente: ‘Poxa, nós estamos indo na contramão deste processo’. O desabafo é um reflexo da confusão que toma conta de muitos professores de jornalismo a partir do momento em que entram em contato mais direto e amplo com as mudanças de valores, rotinas e percepções que a internet está provocando no dia a dia da imprensa. A ficha caiu apenas para um reduzido número de professores que já se deram conta que o jornalismo é, entre todas as áreas da comunicação, a que foi mais afetada pela avalancha de inovações tecnológicas e de informação, nos últimos 15 anos. A grande maioria de nossas faculdades ainda encara a Web como uma espécie de moda passageira, quase um brinquedo sofisticado, e não como uma ferramenta de ampliação dos fluxos de informação. Ainda estão deslumbradas pelas novidades tecnológicas sem levar em conta que elas estão mudando radicalmente o ambiente de trabalho, as rotinas e normas da atividade jornalística. É fácil perceber um nítido desconforto de muitos professores quando constatam que é cada vez maior o número de alunos que tem mais intimidade com a internet do que os responsáveis pela disciplina. Isto aumenta a distância entre alunos e professores, diminuindo enormemente a eficiência do ensino. Há faculdades que ainda ensinam diagramação de jornais usando papel reticulado quando quase todos os jornais já usam programas como o PageMaker. Nota-se claramente que permanece forte entre os professores o apego a rotinas e processos tradicionais no jornalismo impresso. Há muitas dúvidas sobre o ensino do jornalismo online. Será que as faculdades devem ensinar os alunos a usar softwares de edição, publicação e interatividade
Tudo indica que está se aproximando rapidamente o momento em que as escolas de jornalismo terão que rever seus métodos, disciplinas e ementas (conteúdo das aulas) para não correr o risco de formar profissionais para o desemprego.
Mas não é só isto que está em jogo. A universidade tem uma função experimental insubstituível na questão da comunicação online porque, nas atuais circunstâncias do país, é a única instituição capaz de pesquisar a interface humana e social das inovações tecnológicas, especialmente na área da informação.
Algumas poucas faculdades já se deram conta da mudança e estão adaptando a sua grade curricular aos novos tempos. Mas na maioria dos casos a atualização está emperrada porque o ritmo das mudanças é muito mais rápido que os processos burocráticos da academia.
Conversa com os leitores
O tema que acabei de abordar é altamente polêmico, o que é muito bom, porque no ensino do jornalismo online não há verdades estabelecidas e nem modelos a serem seguidos. Tudo indica que a melhor maneira de avançarmos nesta área é através da conversa, do debate, da troca de opiniões e da recombinação de idéias. Todas as opiniões são necessárias desde que focadas no tema. O Código está aberto para este debate porque vocês tem tanto direito quanto eu de ter dúvidas sobre a questão do ensino do jornalismo na era da internet.