Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ouçam (de novo) o Geraldo

Na posição de atirador de elite da reeleição, por ter sido o candidato a deputado mais votado do país, em porcentagem, e por causa de sua notória língua solta, o ex-ministro Ciro Gomes aparece nos jornais de hoje com uma frase irrefutável:

‘Moralista tem que ser mais sério do que os outros.’

Ciro criticava o controlador-geral da União, ministro Jorge Hage, flagrado quarta-feira quando chegava de carro oficial a uma reunião de campanha de Lula em Brasília. ‘Metam o pau nele’, instigou os repórteres, numa entrevista.

Mas, pelas últimas notícias, ele estaria ainda mais certo se estivesse falando do tucano Geraldo Alckmin, em razão do apoio que obteve do casal Garotinho, no Rio.

Até ontem se achava que a dupla dinâmica teve a iniciativa de oferecer o apoio, atendendo a um pedido do pemedebista antilulista Michel Temer.

Tanto que o Estado de hoje critica o tucano no editorial ‘Chance de ouro perdida’, por não ter refugado a adesão.

‘Presumindo-se que não partiu de Geraldo Alckmin a iniciativa de pedir o apoio do estigmatizado casal Garotinho’, argumenta o jornal, o candidato deveria dizer que ‘não há nada de errado em buscar e receber apoios, desde que apoiadores e apoiados tenham inequívocas afinidades com o mais absoluto respeito pelos valores morais básicos’.

Mas a história foi outra, a crer na versão do ex-governador Garotinho.

Ele negou ontem ter oferecido apoio a Alckmin. Quando Temer ligou para perguntar-lhe o que seria necessário para ele aderir ao tucano, teria respondido:

‘É preciso que alguém me peça. Eu não vou ficar batendo na porta dos outros pedindo apoio.’

Dez minutos depois, segundo Garotinho, ‘o Geraldo ligou’.

Quando o presidente Lula se queixa de que a mídia o trata com muito menos’condescendência’ do que tratou o antecessor Fernando Henrique, ele parece esquecer que o seu partido passou a vida se dizendo diferente de todos os outros no quesito ética. Ora, nas palavras de Ciro, ‘moralista tem que ser mais sério do que os outros’.

Que dizer então de Alckmin? Ele passou meses tocando um samba de uma nota só – decência, decência, decência – e o seu primeiro ato político depois de ir para o segundo turno foi pedir o apoio do ‘estigmatizado casal Garotinho’, como afirma o editorial do Estadão.

Portanto, ouçam de novo o Geraldo – não o Alckmin, mas o Vandré:

‘…todos iguais, braços dados ou não…’

P.S. Da série ‘Por falar em…’

Por falar em editoriais, excelente o da Folha de hoje, jogando água na fogueira em que foram postos a arder, principalmente pelo Estado, os pilotos do jatinho que colidiu com o Boeing da Gol.

O que se sabe da tragédia, pondera a Folha, ‘é muito pouco para sustentar a condenação prévia dos pilotos norte-americanos’.

E mais: ‘Não há como responsabilizar ou isentar, no estágio atual [das investigações], qualquer parte envolvida.’

O editorial não descarta a hipótese de que, na raiz da tentativa de incinerar os pilotos, exista ‘uma reação de autodefesa corporativa’ – da Aeronáutica, responsável em última análise pelo sistema de controle de vôo e pela infra-estrutura de comunicação do tráfego aéreo no país.

‘Os interesses que cercam uma tal apuração de causas e responsabilidades são múltiplos’, assinala o jornal, ‘e manter eqüidistância em relação a todos eles constitui um requisito básico de prudência’.

E de ética jornalística, é o caso de acrescentar.

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