Promete render a notícia da Folha de hoje com o petebista Ricardo Izar, presidente do Conselho de Ética da Câmara.
Ele adiantou ao jornal que o parecer do relator do processo de cassação de Roberto Jefferson, o pefelista Jairo Carneiro, deverá “derrubar” a tese do mensalão, estridentemente exposta pelo então presidente do PTB a partir da momentosa entrevista a Renata Lo Prete, da mesma Folha, em 6 de junho.
Não havendo mensalão, não haverá mais lugar na Câmara para o denunciante sem provas.
É mais complicado do que isso. O mensalão de Jefferson seria uma mesada de R$ 30 mil que o PT teria pago sistematicamente a muitas dezenas de deputados do PL e do PP para apoiarem o governo. Pouca gente acredita (ou diz acreditar) nisso.
O que se acredita é que deputados então no PFL, PSDB e outros menos votados receberam dinheiro para entrar no PL e PP para formar a majoritária base governista na Câmara.
Também se acredita que, além dessa compra de passe, o PT/governo, por intermédio de Marcos Valério, o “carequinha” que Jefferson apresentou aos brasileiros, molhava generosamente o bico dos deputados de cujo apoio precisava em votações importantes.
Membros da CPI dos Correios e jornalistas estabeleceram com razoável segurança uma suspeita proximidade entre datas de saques na célebre agência do Banco Rural em Brasília e datas de tais votações.
Alguém “pagaram” e alguém “receberam”
Os políticos flagrados com a cara no melado e o ex-ministro José Dirceu, a quem Jefferson acusa de ser o cérebro do mensalão, dizem que não houve nem compra de passe, nem mensalão, nem suborno ocasional, mas transferência de recursos do esquema Delúbio-Valério para pagamento de dívidas de campanha – os tais “recursos não contabilizados” que engordam os caixas 2 da politicalha.
A distinção é irrelevante. Alguém “pagaram” e alguém “receberam” dinheiros que não podiam ser pagos nem recebidos. Benefícios ilegais houve. Se os beneficiados usaram a grana da corrupção — esse é o nome — para quitar débitos, fazer caixa para a próxima disputa, acender charutos ou remunerar as prestativas meninas de Madame Corner, tanto faz como tanto fez.
Como pergunta o relator do processo contra Dirceu no Conselho de Ética, o socialista Júlio Delgado: “Qual a diferença entre um deputado que recebeu recursos mensalmente e outro que recebeu para pagar despesas de campanha? Nenhuma. Ambos ficam comprometidos com o governo.”
Mesmo se ficar provado que mensalão existiu, Jefferson está a um passo da guilhotina. Por causa dos R$ 4 milhões que ele próprio diz que recebeu, sem recibo, do PT.
E mesmo se não ficar provado que Dirceu comandava o mensalão – ou que nome tenha o toma-lá-dá-cá assumido por Delúbio, Valério e Silvinho, supostamente restrito ao caixa 2 eleitoral –, ele dificilmente se livará da cassação por quebra de decoro parlamentar.
Por uma única e singela razão. Quando depôs no Conselho de Ética, não mais como ministro, mas como deputado, disse que nunca tinha dado audiência aos dirigentes da Portugal Telecom. Horas depois, apurou-se que ele mentira.
Mas na política brasileira ninguém morre de véspera. E Dirceu, especialmente, é um político que amarrou ao peito um volume de explosivos capaz de rasgar crateras no Congresso e no Planalto. Ele não é de abrir o paletó para desfilar a sua condição de homem-bomba. Mas sabe que os outros sabem que é.