Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A classe médica em julgamento

O Big Bosta Brasil é ou não é um jogo? Até que ponto os participantes estão dispostos a abrir mão de princípios, opiniões, preferências e laços externos para colocar as mãos em 1 milhão de reais? A peneira seletiva que escolhe os candidatos se mostra muito eficiente em trazer à casa pessoas com disposições distintas: o primeiro time faz de tudo para sobreviver aos paredões, de intrigas e confabulações a mentiras deslavadas, que são confrontadas nas transmissões globais; o segundo grupo é formado por aqueles que, aparentemente, tentam preservar uma conduta compatível com valores familiares, devido ao temor da exposição ao público, mas quando percebem algum perigo a sua permanência na casa passam a agir de forma semelhante aos ‘jogadores’. O intuito do BBB é esse: transpor barreiras individuais, levando a pessoa ao limite do que pode ser considerado certo ou errado.

A quinta edição do BBB está servindo de laboratório para uma análise mais profunda da relação entre os indivíduos e as atividades que exercem. Para nós, um consultor de informática, uma cabeleireira, um engenheiro, um jogador de futebol, um professor universitário, entre outros profissionais, podem ter lá seus percalços e, com certeza, serão julgados pelos telespectadores. Entretanto, um médico jamais pode cometer erros, sob a pena de ser execrado em praça pública.

Capaz de qualquer coisa

O curioso: o principal jogador do BBB 5, aquele que arma, confabula e mente regularmente, é um cirurgião-geral. O doutor se considera uma pessoa ‘cabeça quente’, que briga em quase todos os lugares que freqüenta. Enfim, o perfil que todo brasileiro espera que seu médico não tenha. Algumas manifestações públicas, inclusive, já foram captadas pelas lentes da Globo, e os entrevistados mostraram-se chocados com o participante do interior de São Paulo.

Realidade brasileira: os cursos de Medicina, sempre um dos mais concorridos do país, são freqüentados em sua grande maioria por estudantes oriundos de escolas particulares, ou seja, pela elite brasileira, e nas instituições de nível superior ingressam apenas os que podem pagar mensalidades estratosféricas. Portanto, esses profissionais são, em teoria, pessoas abastadas, que tiveram facilidades na formação educacional e cultural. Isso costuma trazer certo preconceito das camadas menos favorecidas da sociedade, que vêem a classe médica como um grupo de ‘mimados’ sem sensibilidade social. Antes de médico, o profissional da área de saúde, pela importância de sua atribuição, tem que ser amigo e conselheiro. Tanto que costumamos nos referir a eles como ‘meu médico; seu médico’. Em muitos casos a relação não se limita aos consultórios…

E aparece no BBB um doutor com fama de brigão e mentiroso, que declarou ser capaz de qualquer coisa pelo prêmio de 1 milhão de reais… Até que ponto a ambição do médico Rogério interfere em sua conduta como profissional?

******

Jornalista (www.raciociniocritico.com)