Informar? Entreter? Comunicar? Divulgar? Que faz atualmente a diversidade de profissionais da comunicação atuantes na complexa gama de cenários existentes em todo o Brasil?
Em toda a história da humanidade passamos por várias mudanças, mas já está evidente que as recentes transformações sociais no Brasil (governo do PT, expansão do Terceiro Setor, inserção cada vez maior no mercado global etc.) provocaram irreversíveis alterações em nossos fazeres, principalmente no que diz respeito aos processos de criação e veiculação da comunicação e da informação. O estudo dos caminhos a serem percorridos e o papel desempenhado pelos profissionais e organizações de mídia no Brasil torna-se um imperativo em meio aos fatores conjunturais que almejam satisfazer os moldes exigidos pelo sistema capitalista.
Quando a luta por cidadania está no centro da pauta, a mídia brasileira continua tendo dificuldades de atingir o alvo. A cobertura cotidiana dos acontecimentos é marcada por uma conduta que reprime o direito do leitor por uma informação de qualidade, pluralista e propositiva. Entendemos que a mídia deve atender ao interesse público, o que é substancialmente distinto de interesse do público, caracterizado num processo em que ‘o interesse do público’ estaria legitimado e diagnosticado pelos índices de audiência.
Superação de desafios
A mídia atual manipula pensamentos, uniformiza idéias e influência comportamentos. Isto é feito de forma mascarada, quase que imperceptível – através de suposições, informações descontextualizadas, ausência de um histórico acerca da notícia, em suma, o superficialismo encobrindo o que realmente é relevante.
As empresas de comunicação têm se deparado com dificuldades de ordem estrutural e funcional. Os grandes grupos de mídia procuram trilhar novos caminhos a fim de driblar a crise que há muito se anuncia. O modelo dos jornais impressos está na contramão das inovações do setor. Isso não é fruto do descaso e do desconhecimento deste fenômeno pelos jornalistas e donos das empresas de comunicação. O modelo funcional está na berlinda devido ao temor por mudanças estruturais diante de um futuro repleto de incertezas. De certo mesmo, somente a necessidade de algumas reformulações básicas, que já se tornaram de domínio público. Mesmo assim, os detentores dos grandes veículos de comunicação, atuantes no setor de mídia impressa, insistem no conservadorismo com a imposição de fórmulas suplantadas há bastante tempo.
Essa conjuntura organizacional preocupante, aliada à imprescindibilidade do papel exercido pela mídia nas sociedades modernas, traz à tona a importância de uma permanente atualização dos comunicadores, buscando caminhos alternativos de superação aos desafios de mercado para o exercício digno da função de comunicador social.
‘Removam-se os limites’
O conceito de mídia-cidadã, agregado a este artigo, é desenvolvido a partir da abordagem de temas sociais, sob a perspectiva dos direitos humanos. Este fenômeno, relativamente novo na imprensa brasileira, ocorre em conseqüência da disseminação de uma consciência de co-responsabilidade, que evidencia a importância de que cada indivíduo da nossa sociedade pode contribuir para o desenvolvimento e a transformação positiva da sua comunidade. Descobrindo gradualmente o seu papel, nesse novo contexto, profissionais e veículos de comunicação produzem um número cada vez maior de reportagens e programas que ajudam a população a identificar seus problemas e a buscar soluções.
Pode-se ampliar, também, o conceito de mídia-cidadã às questões relativas à ética empresarial jornalística. Atualmente o contexto mundial requer empresas aptas a assumir mais responsabilidades sociais, econômicas e ambientais, o que reflete a mudança de ênfase do econômico para o social. Não basta um bom produto com preço justo, é preciso haver preocupações sociais, éticas e ecológicas. As organizações começam a ser cobradas pela postura em relação à responsabilidade social. Aos poucos o setor privado, inclusive as empresas de comunicação, vem se conscientizando de que é preciso ter participação constante e eficiente no ambiente comunitário, porque é parte integrante dele e, portanto, depende de seu correto e bom funcionamento. Ninguém mais obterá benefícios a partir da carência social, porque as ações de responsabilidade social não se limitam somente à doação de verbas as instituições: é preciso que sejam legitimadas. Deste modo, necessita-se de um planejamento meticuloso e vinculado a todos os setores da empresa, tais como as relações internas, passando pelos setores de RH.
A existência de uma diversidade de obstáculos estruturais a prática diária do jornalismo, que implica pensar e praticar a atividade de comunicador social sob um modelo dissonante à proposta da responsabilidade social, serve para endossar ainda mais a certeza de que é preciso pôr em prática discursos como o do professor José Francisco Karam, que em recente entrevista ao sítio do Observatório da Imprensa [ver remissão abaixo] afirmou que ‘se há limites para o exercício ético jornalístico, removam-se os limites, não a ética profissional’.
Construção da cidadania
Hoje, comunicadores e empreendedores da mídia devem ser capazes de perceber que o modo de gerir negócios, bem como o exercício da profissão, sob a égide de uma ética universal, são os alicerces para a construção de uma sólida estrada em direção a um futuro comum mais promissor.
Já existem indícios de que os profissionais e empresas de mídia estão começando a despertar para a forma pela qual o desempenho e a eficácia do atual modelo de gestão e atuação da mídia são afetados pela ausência de equilíbrio e responsabilidade social. Há diversas iniciativas que fazem resplandecer a aurora da mídia-cidadã: a abordagem – enfática, crítica e rotineira – de questões como educação, saúde, Aids, drogas, direitos e justiça, violência, comportamento e Terceiro Setor, entre outros. Estes exemplos representam princípios integrantes de praticamente todos os códigos nacionais e internacionais que estabelecem a conduta profissional. Estão explícitos na declaração da Unesco sobre os meios de comunicação, nos códigos adotados pela Organização Internacional dos Jornalistas etc. No entanto, os profissionais da comunicação precisam encontrar uma motivação – maior, pessoal e sensível – para atuarem de forma engajada pela melhoria da condição humana. O simples reconhecimento da função social da profissão, numa atmosfera de respeito ao ser humano e à coletividade, nos instantes de gestão de empresas e concepção dos produtos da comunicação, talvez seja uma das vias para iniciar um processo conducente à atuação da mídia como instrumento de inclusão social.
No Brasil, ainda são poucas as empresas de comunicação em que à consciência cidadã é propagada, incentivada e seguida à risca. É necessário que haja um direcionamento no sentido de que os futuros profissionais e detentores dos meios de comunicação aperfeiçoem seu modo de pensar, a partir de uma consciência centrada em valores éticos que preguem a construção da cidadania, para que o panorama da comunicação social possa crescer a passos largos e planejados rumo aos novos desafios que surgirão, indubitavelmente, no passar dos tempos
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Jornalista, Natal (RN)