‘Os piores covardes são os anônimos, agem na escuridão, falam o que querem e, sem identificação, ficam impunes’ – Daniel Fiúza Pequeno, cordelista, do site www.usinadeletras.com.br
‘Em nome da pluralidade de opiniões e da interatividade, O POVO é um dos poucos jornais do Brasil a manter aberto na internet todo material impresso e ainda dar oportunidade ao leitor de se manifestar, sem qualquer tipo de cadastro ou pagamento. Essa postura já começa a ser questionada. Não por editores, repórteres ou devido a questões empresariais. Mas pelos próprios leitores que se queixam dos comentários anônimos.
Por e-mail, Roberto Valette discorda da forma como os comentários são acatados. ‘Vocês deveriam exigir um cadastro, pois a maior parte usa nomes fictícios e faz comentários maldosos, inclusive contra quem comenta algo’, escreveu ele. Luciano Ferraz Alencar vai mais adiante. ‘Quase todos esses lixos só são escritos porque sabem que estão protegidos pelo anonimato’, explicou, relembrando alguns comentários. Entre eles, um sobre a visita da ex-ministra Dilma Rousseff ao Ceará, que coloco apenas para demonstrar o grau da baixaria. ‘Imagina o que vai dar Dilmão e Ruizianne juntas? Muito velcro, muito sabão e, umas carreirinhas do PÓ maldito’. A única identificação é o número do IP (Internet Protocol), uma espécie de endereço do computador de onde saiu a mensagem. No caso, o de número 201.36.156.81. O post já foi retirado do ar. ‘Como pode um jornal publicar coisas desse tipo?’, questionou Ferraz.
Ambos têm razão. Não há legislação específica na área, o que incentiva o vandalismo. Jornais brasileiros como Folha, O Globo e A Tarde só abrem o noticiário na internet para assinantes. Não deixa de ser uma proteção. Há menos de uma semana, o New York Times e o Washington Post, dos Estados Unidos, anunciaram mudanças para desestimular o anonimato nos posts. Não serão proibidos totalmente, mas quem se identificar ganha privilégios.
Hora de refletir
A editora de Convergência do O POVO Online, Marília Cordeiro, afirmou que algumas medidas foram implantadas desde o ano passado como a identificação do IP, a criação de filtros especiais e a possibilidade de denunciar comentários impróprios. ‘Mesmo assim há pessoas que criam novos termos, burlando os filtros’, afirmou ela. Para o leitor Luciano Ferraz, as ferramentas não funcionam. ‘Já denunciei comentários cheios de termos chulos e eles continuaram lá. De que adianta denunciá-los então?’, questionou.
Segundo Marília, existe moderação somente nos blogs e nas colunas redigidas por Fábio Campos (Política) e Francisco Campelo (Circuito A), feita pelos próprios autores. A fiscalização no restante é diária, no entanto, há carência de pessoas devido ao crescimento do número de mensagens, de acordo com ela. ‘Porém, o assunto deve ser refletido’, colocou. O Governo já estuda proposta de regulamentação para o tema. A tendência é o provedor do site ser o responsável pelas irregularidades.
Lado prejudicado
A última quinta-feira (15) foi o dia decisivo do plebiscito para os docentes da Universidade Federal do Ceará (UFC) escolherem se a Associação dos Docentes da UFC (Adufc) deveria se desfiliar ou não do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior e entrar para o Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior. Uma questão importante para a categoria. O POVO publicou, no mesmo dia, na página de Opinião, artigo da professora e ex-presidente da Adufc, Adelaide Gonçalves, defendendo o ‘Não’. Os defensores do ‘Sim’ se consideraram injustiçados. A assessoria de imprensa da Adufc ligou para o ombudsman alertando que a editoria já tinha em mãos, há mais de uma semana, o artigo de um dos diretores da entidade e não o publicou. Queria explicações.
A editora de Opinião, Manoella Monteiro, confirmou que recebeu os dois artigos, mas que cometeu uma falha. ‘Não consegui publicá-los em um único dia por conta do espaço dos articulistas fixos. ‘Houve um erro meu quanto à data da eleição. Este erro inviabilizou a publicação do outro artigo’, esclareceu ela. E errou de novo. Melhor se não tivesse publicado nenhum, já que era o último dia da votação. Em tempo. o ‘Sim’ venceu.
Mais do contra
Há 15 dias comentei na coluna ‘Sou do contra. E daí?’ matéria feita pelo O POVO que analisava, de forma jocosa, movimentos que eram contrários a projetos governamentais intitulada ‘Como age e o que defende a turma do não’. O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, que não respondeu às críticas naquele momento, pediu e eu abro & para o bem do debate – novo espaço para resposta. Segundo ele, não houve qualquer intenção de demonizar ninguém. ‘Todo o tempo deixa-se claro que mais do que importante, o movimento de resistência é -indispensável- à quebra dos consensos convenientes e a uma democracia’. Ele diz que o uso de termos e imagens, como o smurf Ranzinza, está dentro do contexto e tratado de maneira respeitosa. ‘Ser justo com os movimentos é, inclusive, uma forma de ser coerente com a linha histórica de O POVO’, finalizou Guálter.
Não é o que acha a missionária indigenista Maria Amélia Leite. ‘Lamento profundamente que O POVO, noutras eras com um compromisso importante com a defesa dos direitos humanos, chegue a ponto de publicar uma matéria com tamanho estardalhaço e ênfase a pessoas que discordam das ações governamentais, baseadas no direito de defender o que lhes parece justo e verdadeiro’. Precisa dizer mais?’