Vejam como são as coisas na imprensa.
Lendo o Estado de hoje, fica-se sabendo que 73,3 milhões de eleitores, ou perto de 3 em cada 5, não têm nem quatro anos de escola.
Desses, 8,2 milhões são analfabetos e 21,3 milhões são analfabetos funcionais – só sabem ler e escrever.
Abra-se a Folha e não se encontrará uma única palavra sobre o perfil escolar do eleitor brasileiro. Mas se encontrará as palavras e os números necessários sobre a distribuição do eleitorado por sexo e faixa de idade.
As mulheres são 51,5% do total, os homens 48,3%. Os eleitores livres para votar ou não – entre 16 e 18 anos e com mais de 79 – somam 3,6 milhões (1,6 milhão de jovens).
Aí o leitor se perguntará: será que a Folha comeu mosca, não dando nada sobre o fator talvez mais importante do que sexo e idade na decisão do voto – o grau de escolarização do votante?
Não. Comeu mosca foi o Estadão, ao não relativizar os números desse quesito. Informa o Valor, em matéria de Juliano Basile:
”Esses dados [sobre nível de instrução] estão defasados. O tribunal [eleitoral] não tem condições de atualizar essas informações. Por exemplo, se o eleitor tirou o seu título em 1989, com 16 anos e registrou, na ocasião, que não possuía segundo grau completo, mesmo que ele tenha se formado depois disso é essa primeira informação que conta para efeito das contas do TSE.”
Em outras palavras: só se pode afirmar ao certo, nesse departamento, o percentual de eleitores que informaram ter curso universitário completo. Pelo óbvio motivo de que para trás eles não podem ir. Ao passo que uma parcela de analfabetos, semi-analfabetos e colegiais podem ter subido na escala da escolarização desde que tiraram o título.
É claro que o padrão geral não se altera: os eleitores que estudam em faculdades ou já se diplomaram são um contingente ínfimo do eleitorado: nem 6%. E a grande maioria, sejam os 58% anunciados pelo Estado ou menos do que isso, estão na base da pirâmide educacional.
Mas jornais têm obrigação de esclarecer o leitor de que certos números não devem ser tomados ao pé da letra. Ocorre que isso só se faz indo além dos burocráticos press-releases da fonte dos dados.
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