Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novo modelo de transmissão

Em 2001, este Observatório publicou um artigo meu [‘Globo na Sapucaí: Silvio Santos sacudiu’ (remissão abaixo)] que analisava a transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro daquele ano pela Rede Globo. Assistindo ao evento de 2005, constato que pouca coisa evoluiu e ainda há problemas evidentes para quem se aventura a virar a noite diante da TV no fim de semana do carnaval.

A maior crítica à cobertura da Globo é o modelo da transmissão. Os locutores Cléber Machado e Maria Beltrão – que, justiça seja feita, conseguem ser espontâneos e se esforçam em passar as notícias obtidas na apuração realizada semanas antes do desfile – só informam as alas, as fantasias e os carros alegóricos quando a escola chega a um determinado ponto da Marquês de Sapucaí, o que leva cerca de meia hora. Até lá, as imagens se repetem: comissão de frente, carro abre-alas e o início do desfile não cansam de ser mostrados pelas câmeras. Por maior que seja a empolgação do telespectador, isso enfastia. Ainda mais às 3 da manhã.

Não seria melhor começar a transmissão das informações logo no início do desfile? Assim, quando o último folião atravessasse o portão de entrada da Marquês de Sapucaí, as explicações já foram dadas pelos locutores e os comentaristas, muito bons, mas que hoje só podem falar quando convocados, poderiam entrar em cena e dar suas opiniões e debater a participação da escola, que ainda teria uns 20 minutos para encerrar sua passagem na avenida. Ainda sobraria tempo para as reportagens na dispersão e na concentração da escola seguinte. E, para solucionar um problema recorrente da transmissão global (já citado no artigo de 2001), os locutores ainda poderiam ficar em silêncio durante o ‘esquenta’ da bateria, momento precedente ao desfile em que o puxador canta algum samba antigo para animar a platéia.

Sugestões para 2006

A emissora também vacilou em questões técnicas. Várias vezes os narradores comentavam uma ala que não era a mesma focalizada no vídeo. As correções foram freqüentes. Pareceu falta de treino e/ou de coordenação.

Na apuração das notas, na Quarta-Feira de Cinzas, a cobertura foi correta, mas o locutor Márcio Gomes e o comentarista Haroldo Costa, embora preocupados em transmitir a aflição e o nervosismo na leitura da última nota, quando a Beija-Flor já estava a um décimo da Unidos da Tijuca, não informaram um detalhe que aumentava dramaticamente a carga emocional daquele instante: se, naquela nota, a escola tijucana empatasse com a agremiação de Nilópolis, o título iria para a Unidos da Tijuca pelos critérios de desempate. Ficou a impressão de que a igualdade de pontos confundiria tanto o público quanto a própria Globo. O 10 da Beija-Flor foi oportuno e acabou facilitando as coisas.

Vale registrar que, de toda a cobertura, destacaram-se dois repórteres. Um foi Edmilson Ávila, que buscou conversar, de forma bem-humorada sem ser boboca, com espectadores que assistem ao desfile fora da avenida, como na arquibancada popular montada em frente à concentração, no viaduto ao lado e até nas árvores próximas à Sapucaí. A outra repórter que fez um bom trabalho foi Mônica Sanches. Ela entrevistava, na Praça da Apoteose, não apenas as celebridades, mas também personagens importantes das escolas que acabavam de desfilar, como membros da comissão de frente, ritmistas, diretores e coreógrafos. Os dois bons exemplos mostram que a Globo tem material humano competente para fazer uma transmissão do desfile bem mais informativa, atraente e emocionante. Ficam as sugestões para 2006.

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Jornalista e mestre em Sistemas de Informação pelo NCE/IM/UFRJ