INTERNET
‘A capa do Link da semana passada era dedicada a fóruns que dão origem às manias de internet, piadas que chegam a seu e-mail na forma de links, fotos e vídeos. Um dos textos da matéria, com o título ‘Onde nascem os memes do Brasil’, começava assim: ‘O berço dos memes brasileiros também é um fórum. Mas não se trata das versões brasileiras do 4chan, o brchan ou o 55chan.’
Bastou essa menção ao 55chan para que seus frequentadores reagissem. O motivo? Entre os usuários do 55chan, autodenominados ‘anões’, há uma lei do silêncio. Não se fala sobre sua existência. A ideia é evitar que novas pessoas entrem ali. Os novos usuários são chamados de ‘câncer’ ou ‘cancro’, apelidos que dão a medida de sua resistência.
Expostos em uma matéria no jornal – é bom lembrar que o fórum é aberto para qualquer um e basta entrar no Google para achá-lo – os ‘anões’ começaram uma campanha de perseguição à repórter que assinou a matéria. As ameaças iam de trotes infantis (mandar pizzas para a casa dela) a ameaças de violência física.
Em poucos minutos, circulavam pelo fórum fotos da repórter e links para os perfis dela em redes sociais. Em poucas horas, seus dados pessoais, endereço e telefone, eram postados repetidas vezes. enquanto os usuários, protegidos pelo anonimato, incitavam atos de violência.
Em paralelo, integrantes do fórum organizaram ataques ao site Estadão.com.br. A intenção era inundar as áreas de comentário, na tentativa de, ao gerar excesso de tráfego, tirar o site do ar. Durante toda a terça-feira, a versão digital do jornal foi pesadamente atacada. Blogs saíram do ar e páginas perderam formatação. Tudo rapidamente contornado.
No idioma da internet, isso é chamado de ‘trollagem’. No idioma do Direito, o nome é outro: ‘São vários os crimes cometidos neste caso, que vão da ameaça implícita à explícita, passando pelas ofensas pessoais – e qualquer ofensa pode ser classificada como injúria, também classificável como crime’, diz Olavo Torrano, gerente-jurídico do Grupo Estado, que acompanha o caso desde o início das ameaças no 55chan. Ele explica que apesar do anonimato, os autores podem ser identificados – a punição pode recair inclusive sobre o dono do fórum.
O advogado espera que as ações não tenham de ser tomadas, ‘pois quem está fazendo as ameaças não percebe que dá argumentos para aqueles que querem fazer da internet um ambiente controlado’.
A moderação do 55chan começou a apagar posts com ameaças à repórter. Mas a cada post apagado, surgiam vários outros. Entre os tantos comentários ameaçadores, um dizia: ‘É muita hipocrisia um chan perseguir um jornalista, ainda mais porque chan é sinônimo de liberdade de expressão’. O fórum não é frequentado apenas por ‘trolls’. E nem todos são resistentes à exposição. Em um comentário no blog do Link, um ‘anão’ ensina como se logar no serviço – é preciso preencher um formulário com truques para dificultar a entrada de novatos.
O sucesso desses fóruns se deve em parte ao fato de as postagens serem anônimas e à moderação quase nula. Ali vale tudo. De dedicadas sessões de criação de piadas a aterradoras trocas de imagens de racismo, nazismo e pedofilia.’
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Folha de S. Paulo