Se as empresas de tecnologia funcionassem como os jornais, quase todas elas estariam em crise. Esta é a conclusão a que chegou Derek Willis, um jornalista do The Washington Post que, há cinco meses, vem publicando uma série de trabalhos sobre as mudanças na imprensa convencional e no jornalismo na internet. A comparação entre as indústrias de tecnologia e os jornais foi feita a partir da forma como ambas tratam a informação, a matéria prima básica tanto para o desenvolvimento de softwares como na publicação de notícias. Para as indústrias, o compartilhamento de informações é condição indispensável para a criatividade e inovação. Já para os jornais, a compartimentação é um hábito tão arraigado que raros profissionais admitem sequer abrir o seu caderno de endereços. Estes dois tipos de comportamento mostram dois extremos no tratamento da matéria prima mais valorizada dos tempos atuais. A indústria da alta tecnologia parte do princípio de que a rentabilidade do seu negócio depende da maior circulação possível de informação entre seus funcionários, a pré-condição para a criação de novos produtos. A informação também é a matéria prima da indústria dos jornais, mas estes adotam uma postura totalmente diferente. Ainda se comportam como se fossem donos da informação e portanto capazes de determinar quando e como ela será passada adiante. Trata-se de uma ilusão, pois hoje as fontes de informação não dependem mais dos repórteres para serem ouvidas. Cada vez mais os políticos, governantes, personalidades e empresários colocam na web a versão original de uma entrevista dada a um jornalista, antes mesmo da matéria sair publicada. Caso a imprensa não revise as suas normas e comportamentos em relação ao uso e posse da informação, ela corre o risco de ser atropelada pelo público, ou seja, ela deixará de ser uma referência para ser apenas um complemento. A avalancha de informações disponíveis na internet ultrapassa hoje a capacidade de processamento das redações. Com isto os jornais deixam de publicar material que poderia aumentar seu público, ou produzem reportagens e análises capengas, que comprometem a credibilidade do veículo. A mesma avalancha liberou a produção de dezenas de percepções e enfoques distintos sobre o mesmo fato ou processo. É a chamada teoria do ‘spin’, expressão inglesa que indica uma torção ou um giro na informação. Trata-se de algo menos forte que a distorção ou adulteração, mas é hoje um fenômeno generalizado na imprensa mundial, inclusive aqui, como pode ser visto na manipulação de dados durante o debate para o referendo sobre comercialização de armas de fogo. Os americanos chegam a afirmar que vivemos numa ‘spin society’ tal a intensidade do uso deste recurso onde cada pessoa procura apresentar os fatos e estatísticas da forma mais favorável. Os leitores já se deram conta que os jornais praticam largamente o ‘spin’, ou seja a meia verdade, e portanto não os levam mais em conta como referência única decretando na prática o fim da propriedade exclusiva da informação pela imprensa. Aos nossos leitores: Serão desconsiderados os comentários ofensivos, anônimos e os que contiverem endereços eletrônicos falsos.