No texto A Mídia Perde a Chance de Explicar, do colega Luis Antonio Magalhães, há dois grandes destaques: o texto propriamente dito e os comentários dos leitores. A matéria mostra as indefinições e omissões de imprensa na cobertura dos resultados da pesquisa que apontou um índice de 84% de popularidade para o presidente Luis Inácio Lula da Silva, um recorde em matéria de aceitação popular.
Mas vale também a pena ler os comentários postados por leitores, que não se limitaram à tradicional dicotomia entre os elogiam e os que xingam. Alguns leitores foram mais longe mostrando que grande parte da perplexidade gerada pela divulgação do índice deve-se ao divórcio crescente entre a opinião pública e a opinião publicada nos jornais.
De fato, não há outra explicação para que um presidente dispare nas preferências do eleitorado ao mesmo tempo em que a imprensa traça um cenário pessimista do país, com uma avalancha de manchetes sobre desemprego, recessão e violência, sem falar num patrulhamento implacável dos menores deslizes da gestão Lula.
É o que escrevem leitores como Marcos Chaves (BH-MG) e Ibsen Marques (Caçapava-SP) cujos comentários bem que poderiam ser publicados como textos aqui no Observatório. Quase todos os demais comentários foram unânimes em criticar o papel da imprensa na avaliação da realidade nacional.
É impossível dizer que duas dezenas de comentários sejam um espelho da opinião nacional. Mas não há dúvidas de que eles representam um segmento que pode ser expressivo em matéria de influência na agenda das comunidades onde cada comentarista está inserido.
A imprensa sempre teve um papel predominante na formação do cardápio de assuntos que a população discute antes de formar sua opinião. Pelo jeito, ela está perdendo também esta função, porque aparentemente os eleitores estão discutindo outras coisas, como ficou refletido na pesquisa da CNT/Sensus, divulgada no dia dois de janeiro. É mais ou menos o que diz o leitor Álvaro Marins (RJ-RJ) quando afirma que a imprensa está perdendo a batalha pela opinião pública.
O que estamos começando a perceber é que a capacidade de “leitura crítica” por parte dos leitores não se restringe apenas à crítica pela crítica. Já é nítido que o público dá sinais de que está interessado em ir mais fundo na análise da realidade, e começa a fazer isto por conta própria.