Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Moralidade questionável

Mais uma vez o grupo gaúcho RBS se vê diante da moralidade questionável dos eventos pelos quais é responsável. Recentemente, a maior rede gaúcha de comunicações realizou no litoral do Rio Grande do Sul o festival Planeta Atlântida, que é rotulado como o maior do estado e é destinado basicamente ao público adolescente e pré-adolescente. Pelo que a empresa divulga, este é o único festival musical que permite a presença de crianças de 12 anos livremente nas suas dependências assistindo aos shows. Entretanto, o evento é patrocinado por uma marca de bebida alcoólica, vendida abertamente durante os dois dias de shows na Praia de Atlântida.

Primeiro: um evento destinado ao público adolescente e pré-adolescente não deveria ser associado a uma marca de cerveja, para não estimular o consumo num público em que sobra vontade mas falta cabeça para conseguir lidar com uma regalia mais adequada para quem tem maturidade. Não é uma questão de caretice, mas sim de bom senso.

Segundo: a lei (velho referencial eventualmente levado em conta pela sociedade) proíbe a venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos, ao contrário do que acontece no Planeta Atlântida. Cabe às autoridades averiguar que tipo de punição é cabível ao grupo RBS, e este deve refletir sobre os aspectos morais vinculados ao tal Planeta Atlântida – que este ano completou 10 anos e nunca esteve tão decadente como nesta edição.

Mau exemplo

O que pode se esperar de um evento que nasceu na Rádio Atlântida? Famosa rede de rádio FM que já ganhou fama no Sul por não se preocupar muito com o conteúdo das músicas que apresenta e cujos locutores passam recados como ‘Não vai dirigir drogado. Usa e pede pra outro dirigir’, como se o ato de se drogar fosse aceitável e plenamente normal para todos adolescentes. Mais uma vez, a moralidade é questionável. Poderia muito bem estar dizendo ‘não se drogue, seja consciente’. Mas para eles o que vale é o poder de escolha de cada adolescente (sic), cada um tem que decidir o que é melhor para si (sic) e aconselhar contra as drogas seria careta.

Outra cria da RBS continua por aí infringindo a lei e difundindo o mau exemplo entre jovens e crianças no Sul do Brasil. Trata-se de Armandinho e Banda. Grupo de reggae contratado da Orbeat Music (leia-se braço musical da RBS), que construiu uma carreira inteira com base em músicas que incentivam abertamente o consumo de maconha como se fosse algo correto e aceitável. Versos como ‘fuma na boa e só de brincadeira’, ‘acender um pra liberar o infinito de nós dois’, entre outros tão reprováveis, continuam propagados em praças públicas e shows pelo Rio Grande do Sul e por Santa Catarina.

Limado do mercado

Por exemplo, o tal Armandinho tocou na festa de virada de ano na Praia de Capão da Canoa, no litoral norte do Rio Grande, induzindo crianças de 5 anos presentes a cantar suas músicas, juntamente com grupinhos de adolescentes tapadas e histéricas que acham isso o máximo. Claro, crianças não vêem a maldade da música, mas já vão ficando acostumadas a celebrar esse tipo de coisa.

Revoltante é que toda vez que alguém da RBS resolve justificar a conduta de Armandinho usa aquela justificativa evasiva, do tipo ‘o incentivo ao consumo de drogas está na cabeça de quem acha isso’. Mais uma vez, cabe ao Ministério Público, à Vara da Infância e da Juventude e talvez até à própria polícia dar um rumo a esse cantor. E por que não fizeram isso até hoje? Será que é porque ele é contratado da RBS? E Armandinho segue perpetrando sua música abertamente, disfarçando a gravidade das suas mensagens com a suavidade do seu ritmo – o que faz com que a maioria dos adolescentes sequer pare para pensar nos refrões que estão cantando e no ideal que estão difundindo.

O caso do cantor Armandinho é um exemplo grave de como a RBS busca o dinheiro acima de tudo. Gerando polêmica, gera-se atenção e, assim, vendas. Ou será que a direção da empresa não tem conhecimento dos empreendimentos e lançamentos pelos quais é responsável? Garanto que se Armandinho não fosse contratado da Rede Brasil Sul já teria sido limado do mercado.

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Gerente de comunicação, Novo Hamburgo, RS