Pesquisa da ONG Plan sobre bulllying na escola, divulgada no dia 14 de abril, foi destaque na cobertura da segunda quinzena do mês, sendo tema de reportagens em O Estado de S. Paulo, Tribuna do Brasil (DF) e Folha de S.Paulo, além de editoriais, como na Gazeta (MT), Diário Catarinense e no Correio Braziliense.
Os jornais acertaram ao salientar que se trata de um novo termo para um velho problema, mas não trouxeram informações que permitissem compreender os dados da pesquisa. Folha, Estado e Correio ouviram especialistas, mas as reflexões foram superficiais e não estabeleceram relações entre bullying, violência escolar e discriminações a grupos específicos. (Leia aqui um estudo sobre preconceito e discriminação no ambiente escolar da Fipe, em parceria com o Inep, publicado no ano passado. A pesquisa mostra, por exemplo, que as crianças negras estão entre as principais vítimas.)
Chama a atenção que não tenham sido divulgados dados comparativos do fenômeno entre as escolas das redes públicas e privadas; só a Folha de S.Paulo informou que a pesquisa foi desenvolvida entre os dois grupos, mas não apresentou os dados. Em geral, a cobertura da mídia sobre violência na escola tem foco apenas nas escolas públicas e esta seria uma boa oportunidade de verificar a situação nas privadas.
‘Segredos’ desvendados…
A cobertura também reduziu a responsabilidade da superação das agressões às escolas, mais especificamente aos professores. Nenhum/a gestor/a da área da educação foi cobrado sobre programas e projetos relacionados ao tema e também não foram feitas referências às normas que determinam ações no campo, como o Programa Nacional de Direitos Humanos e o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.
Mais uma vez, a revista Época (26/4) levou à capa sua opção editorial de reduzir os problemas educacionais brasileiros a duas únicas variáveis. Depois de ‘investigar’ o esforço individual dos bons alunos (tema de primeira página da publicação no início de março), a revista se debruçou agora sobre a responsabilidade individual dos docentes pelo sucesso dos alunos nos sistemas de avaliação.
Na última edição, diz ter desvendado ‘os segredos dos bons professores’, que ‘transformam nossas crianças em alunos de sucesso’. O editorial ressalta duas conclusões da repórter: uma que diz não ser nova, ‘premiar os professores competentes e punir os incompetentes’, e outra, considerada ‘surpreendente’ pela revista, que educação se aprende fazendo.
Acesso ao ensino de presidiários
Mas assim como na polêmica reportagem ‘Professores de castigo’ (22/2), a repórter não consegue embasar sua tese com fontes e dados consistentes. Ao dizer que o sistema de bonificação implantado em São Paulo foi responsável pela melhora no nível de matemática dos alunos, por exemplo, não cita – porque não existe – nenhum estudo que comprove sua eficácia.
O Saresp, inclusive, foi criticado por mudar sua metodologia no período citado pela revista para aumentar a faixa de alunos incluídos no nível satisfatório, o que passa longe de dizer que a melhora é resultado da política de bônus.
O Estado de S. Paulo publicou nesta terça-feira (27/4) uma reportagem sobre o desempenho dos presidiários no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e foi o único jornal a fazê-lo. Abordar o tema da educação de pessoas privadas de liberdade – um dos temas invisíveis da cobertura de educação – e sobre a questão da remição da pena por estudos, em si já é bastante positivo.
Piso descumprido
No entanto, a reportagem poderia ter fornecido dados que contrariam a impressão transmitida pela matéria de que as pessoas presas têm, todas, acesso à educação. Pelo contrário, o direito de estudar na prisão ainda é visto como privilégio e, segundo relatório da Plataforma Dhesca (acesse aqui), a oferta é muito inferior à demanda pelo acesso à educação, geralmente atingindo de 10% a 20% da população encarcerada nas unidades pesquisadas.
Sobre o tema, vale ainda acompanhar as discussões sobre as ‘Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais’. O Conselho Nacional de Educação já aprovou e divulgou as diretrizes (leia o documento aqui) e o texto aguarda agora homologação do MEC.
A última edição do ‘Ação na Mídia’ criticou o fato de os jornais ignorarem o descumprimento do piso salarial nacional para os professores. No dia 19/04, o Diário de Natal (RN) publicou a reportagem ‘Piso não é cumprido no RN’, relatando que professores das escolas públicas recebem 950 reais, somados ao vencimento básico (salário) e às gratificações.
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Da equipe do Observatório da Educação