Em dois textos de opinião, vemos o assunto girando em torno da Educação.
Primeiro, em Veja de 21/04/10, o colunista Claldio de Moura e Castro se dedica a atacar possíveis más utilizações das teorias construtivistas, no meio educacional, até com alguma coerência. Até que no frigir dos ovos solta uma pérola que vez por outra aparece na revista: ‘Os materiais detalhados são amplamente superiores às improvisações de professores sem tempo e sem preparo.’ A menção do autor a materiais didáticos tem o objetivo de criticar teóricos que defendem que os livros didáticos têm um caráter auxiliar nas aulas, sendo que a formulação e o conteúdo destas são de responsabilidade exclusiva do professor.
Ora, considerando o montante de dinheiro dispendido pelo MEC na compra e distribuição de livros didáticos através do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), não é nada desarrazoada a utilização destes materiais. Embora os resultados de algumas pesquisas da área apontem na direção que, mesmo com a utilização do livro didático, a tonalidade que mais sobressai na tintura das aulas é referente à formação e à concepção de mundo dos professores(as). O argumento de que com duras condições de trabalho e carga horária elevada os profissionais do ensino possam encontrar um poderoso auxiliar no livro didático de maneira alguma é descabido. Mas não é difícil perceber no texto do colunista o quanto as condições de trabalho dos professores são encaradas como que naturalizadas, pois podem bem ser utilizadas como justificativa de argumentos diversos sem a menor cerimônia. É como se dissesse: não é um problema, é assim, sempre foi e não percamos tempo pensando nisso. Deixemos em suspenso.
Realidades locais desiguais
Segundo, o secretário Paulo Renato de Souza, na Folha de S.Paulo de 22/04/10, constrói um emaranhado de justificativas por motivo de outra reportagem da Folha acusar que o salário dos professores de São Paulo caiu de posição em relação a outros estados. No meio do novelo surge: ‘(…) Na remuneração dos professores paulistas, é preciso considerar a bonificação por resultados e a política de valorização pelo mérito. Trata-se de muito dinheiro que vai para o bolso dos professores (…)’. Além da expressão ‘muito dinheiro’ não combinar com ‘bolso dos professores’, outros elementos merecem ponderação.
A política de valorização do mérito defendida pelo secretário como algo a ser levado em conta na hora de calcular os salários do professores é capenga e destacamos dois motivos.
1.
Frisa Paulo Renato que São Paulo é o estado com maior número de matrículas da federação. Concluímos, então, que o contexto sócio-educacional é heterogêneo devido às desiguais realidades locais. A valorização por mérito ignora esta questão, dando bonificações a professores cujos alunos atingirem determinado nível de aquisição de conhecimento, pois na medida em que diferentes regiões têm características que interferem diretamente no ensino e não estão relacionadas à suposta incompetência dos professores (as).Ignoram-se as causas reais
2.
Os defensores da meritocracia na educação argumentam que os países que adotaram políticas nessa direção tiveram um grande avanço e que na educação pública não falta investimento, mas sim formas de incentivar e reconhecer o talento dos melhores profissionais. Ocorre que a adoção desta política também nos remete a mais um matiz de uma prática existente no país de longa data entre nós, brasileiros: a de copiar o que outros países fazem para resolver seus problemas. O efeito pernicioso que esta gera é eliminar qualquer forma criativa de pensar nossos problemas de maneira original.O preconceito, revelado na coluna de Veja, e a política peessedebista para educação podem ser interpretadas como duas faces de uma mesma moeda. Constata-se má qualidade no ensino público e responsabiliza-se uma natural incompetência dos professores. Procura-se resolver o problema ignorando suas causas reais. Assim, neste viés, mais salas de aula e professores são dispensáveis.
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Professor de História, Ponta Grossa, PR