O ativismo cibernético está definitivamente sendo incorporado ao dicionário político da era digital como uma estratégia de ação que foge completamente ao modelo convencional e desafia a capacidade de análise dos cientistas políticos.
Ao contrário das estratégias tradicionais baseadas em lideranças fortes e propostas ideológicas, o novo tipo de ativismo abandona esses dois itens e aposta em dois itens básicos: comunicação e informação.
A nova modalidade de ação política substituiu os líderes carismáticos e manifestos altissonantes pela simbologia da mobilização anônima, pela adesão discreta, pela disseminação viral de informações, pelo uso dos canais eletrônicos de comunicação e, principalmente, pela recuperação de valores como honestidade, transparência, colaboração, diversidade e democracia.
Todos esses elementos estão sendo invocados pelos cidadãos russos que decidiram desafiar o autoritarismo do primeiro-ministro Vladimir Putin prometendo uma megamanifestação para o dia 4 de fevereiro, em Moscou, para exigir a anulação das eleições parlamentares de 5 de dezembro, sobre as quais pesam acusações de fraude generalizada.
Será a reedição ampliada o protesto do dia 24 de dezembro, quando quase 100 mil oposicionistas desafiaram a neve e o frio de menos seis graus Celsius para expressar sua indignação com os resultados do pleito. Os ativistas prometem levar o movimento para toda a Rússia, usando o know how desenvolvido para juntar dinheiro e distribuir noticias pela internet por meio do Yandex, uma espécie de Google russo.
A circulação de informações e a formação de redes locais descentralizadas por meio do Facebook permitiu que, em dezembro, os ativistas conseguissem juntar quase sete milhões de rublos (cerca de 405 mil reais) em menos de duas semanas para financiar a organização do protesto de Natal do dia 24, em Moscou.
A mesma estratégia está sendo usada na Hungria, outra ex-república socialista da antiga União Soviética, onde o primeiro-ministro Viktor Orban enfrenta uma onda de protestos populares desde as eleições parlamentares de 2010. O pleito, considerado fraudulento pela oposição, trouxe de volta ao poder o partido direitista Fidesz, de Orban, cujo apelido é Viktator, por causa de seu autoritarismo.
Também na Hungria, a internet exerce um papel fundamental na mobilização oposicionista, embora em menor escala do que na Rússia. Viktator está em rota de colisão com a imprensa húngara por conta dos rígidos controles sobre a publicação de notícias envolvendo os protestos. Jornalistas estão em greve de fome diante da TV estatal há quase um mês, contra a demissão de colegas acusados de simpatias oposicionistas.
Os protestos na Hungria tendem a se agravar porque o país — que está na lista negra das organizações financeiras internacionais por conta de seu endividamento — prepara-se para impor um pacote recessivo similar aos já adotados na Grécia, Espanha e Itália.
A situação é complicada porque os demais países europeus exigem a mudança da nova constituição em vigor desde o dia 1º de janeiro, considerada autoritária e centralizadora. Para o jornal inglês The Guardian, a situação na Hungria caminha para um agravamento explosivo.
Os novos dirigentes políticos surgidos nos países do antigo bloco comunista europeu perdem rapidamente apoio popular conquistado após o fim da União Soviética porque acabaram praticando os mesmos erros que provocaram o fracasso do socialismo no Velho Mundo: autoritarismo, corrupção e sectarismo. As promessas de recuperação econômica também estão virando fumaça por conta da crise do euro e da gastança generalizada dos novos dirigentes. A frustração alimenta a nostalgia dos mais velhos, especialmente na Rússia, e o coletivismo cibernético entre os mais jovens.