Tarzan pula de um cipó para outro ao se deslocar pela floresta. É um clichê para lá de conhecido, que inclui um movimento que passa despercebido pela maioria dos admiradores do personagem criado em 1912 por Edgar Rice Burroughs. É quando o herói das selvas africanas solta o cipó onde estava agarrado com segurança e pega o outro, na expectativa de que seja igualmente seguro. Na ficção, Tarzan nunca pega um cipó inseguro, o que o livra de tombos constrangedores, mas todo mundo sabe que é impossível saber de antemão qual é o bom e qual é o podre.
A indústria dos jornais enfrenta hoje a mesma situação. Precisa abandonar um cipó seguro, o modelo de negócios baseado na receita publicitária, por outro cipó, um sistema cuja segurança ainda é uma incógnita. Tarzan não pode pensar antes de pular de um cipó para outro porque, se o fizesse, não sairia do lugar. Mas os jornais só querem o que for seguro, porque temem perder privilégios e bens, o que os leva a meditar sobre cada passo e tender ao imobilismo.
Esta parábola serve para ilustrar o contexto da indústria da comunicação contemporânea, em especial a dos jornais. É impossível fazer uma escolha a prova de erros porque estamos em plena transição de um modelo de negócios jornalísticos para outro, que está sendo identificado na base da experimentação empírica, no erro e acerto. Portanto, não há como evitar o risco e muito menos a possibilidade de um fracasso.
Aqui está a grande diferença entre Tarzan a indústria dos jornais. O mítico personagem das historias em quadrinhos e do cinema arrisca a cada troca de cipó. Já nossos executivos temem o risco, porque acumularam demasiado prestigio e fortuna. Estão mais presos ao passado do que dispostos a apostar no futuro. Já se esqueceram que os fundadores dos grandes impérios jornalísticos atuais fizeram uma aposta arriscada há décadas, e em vários casos mais de um século atrás.
Não há como ignorar o risco e a incerteza na busca do novo modelo de sustentabilidade financeira na indústria da comunicação jornalística. A maneira de minimizar essa insegurança é o compartilhamento de experiências e de conhecimentos. Significa abandonar um comportamento baseado na competição e na exclusividade.
O discurso dos executivos da indústria da comunicação endeusa o risco, mas o rejeita na pratica diária; coloca-o como parte integrante da filosofia corporativa, mas o demoniza na rotina das redações. O resultado é uma cultura comportamental conservadora que dificulta enormemente a experimentação e a inovação.
Pela experiência e pelos conhecimentos acumulados ao longo dos anos, os donos e executivos de jornais deveriam saber disso mais do que qualquer outra pessoa nas redações. Mas a longa convivência com a busca do lucro seguro — e com os privilégios do acesso ao poder político — acabou por obstruir a sua percepção da realidade.
E o que temos hoje são jornalistas e leigos tentando despertar os proprietários e responsáveis por veículos de comunicação para a sua responsabilidade social. A digitalização da mídia não eliminará os jornais impressos, apesar de já estar claro que eles perderão muitas de suas características atuais. A leitura em papel permanecerá essencial, embora sem a hegemonia e a exclusividade dos dias de hoje. Se os atuais donos de jornais não se derem conta disso, e da necessidade de apostar em novos formatos, outros o farão.