Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Expressão livre, responsabilidade e soberba na mídia

O papel fundamental da mídia é conhecido pela sociedade desde muito tempo. Quando nos referimos ao desenvolvimento e organização cultural de antepassados como os maias, astecas e incas, por exemplo, citamos não só a alta complexidade de suas obras arquitetônicas, mas, sobretudo, o domínio da linguagem, logo, da comunicação.

Comunicar-se é comprovadamente fundamental para a evolução de qualquer comunidade. A prática da transmissão de informações é preponderante frente a muitas outras, claro, sem desmerecê-las.

Talvez por isso haja, muitas vezes, a impressão de glamour em fazer parte da mídia. Equívoco que acarreta ao meio uma debandada de ‘profissionais’ sem qualidade, desprovidos de valores éticos e morais, completamente alienados quanto à real função do comunicador.

Encobertos pelo constitucional direito de liberdade de imprensa, muitos agem de forma irresponsável, sem o mínimo de respeito ao seu verdadeiro empregador: o povo. Não bastasse a hipocrisia usual em seus discursos ou artigos, suas ‘livres expressões’ mostram-se envoltas num falso moralismo, quase viral, nos tempos atuais.

Desmoralizar ou promover alguém

O jornalista, em particular, tem em mãos o enorme poder de entrar a casa das pessoas na condição de detentor da verdade. Este ‘poder’ deve também ser classificado como um direito – alicerçado pelos pilares da liberdade de expressão.

Romancista consagrado, Érico Veríssimo considerava que o preço da liberdade deve ser pago com a moeda da responsabilidade. Consideração perfeita. O problema é que esta ‘moeda’, ao menos em meio à mídia contemporânea, encontra-se num momento de absoluta escassez, sem previsão para que seja normalizada sua distribuição.

Um dos muitos exemplos da falta que a responsabilidade faz a um comunicador, dá-se na veiculação constante de artigos com opiniões de pouca inteligência, ou matérias levianas, produzidas com fins claros de desmoralizar ou promover alguém ou alguma empresa ou entidade.

Alguns acreditam ser Deus

Há de se lembrar, contudo, que nem sempre a origem do problema está na execução final da matéria em questão, mas mesmo quando as intenções são oriundas do núcleo de produção, a culpa termina por recair sobre o reprodutor do material, normalmente feito de fantoche.

Por mais que tal argumento pareça inocentar estes meros reprodutores de informação – sem vida ou vontade própria –, esta ausência de senso crítico – decorrente de má índole e/ou formação profissional – pode ser categoricamente apontada como a maior responsável pela má qualidade de boa parte do produto jornalístico atual.

Um ponto de importante ressalva diz respeito à classificação, feita por gente do meio, de que a mídia é uma formadora de opinião. De fato exerce tal papel, entretanto, entendo o pensamento de um de nossos mais importantes estudiosos das ciências da informação, José Marques de Melo, que trata, com sua habitual lucidez, o comunicador como um orientador da opinião pública.

Considerações à parte, é preciso que haja uma maior reflexão das novas gerações de comunicadores sociais, até porque, julgar-se um formador de opinião, principalmente em tempos de globalização – no qual a cultura se tornou muito mais acessível – é de certa forma, sintoma de soberba.

Por falar nesta ‘patologia’, típica do ego de muitos jornalistas atualmente, este é assunto para alguns outros tantos artigos, visto que soberba tem sido sinônimo de comunicador ultimamente. Alguns acreditam ser Deus. Publicam o que lhes convém e brincam com vidas e opiniões alheias.

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Estudante de Jornalismo, Dourados, MS