Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais acabam com versões diárias impressas

A cidade de Nova Orleans, tornou-se a primeira entre a metrópoles com mais de um milhão de habitantes, nos Estados Unidos, a não ter mais um jornal diário impresso. O The Times- Picayune, fundado há 175 anos, anunciou na quinta feira (24/5) que passará a imprimir apenas três edições por semana a partir de agosto,  diante da queda dos leitores da versão em papel e do aumento do público online.

O novo modelo de negócios do jornal aposta na internet como canal para distribuição de notícias e prevê a ampliação da cobertura local como parte da estratégia de aproximação com as comunidades urbanas em Nova Orleans.  The Times Picayune tornou-se mundialmente conhecido pela mobilização de seus repórteres durante a tragédia do furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em agosto de 2005.

A decisão adotada pela empresa controladora do jornal, a NOLA Media Group, está sendo acompanhada por todos os segmentos da indústria jornalística dos Estados Unidos porque ganha cada vez mais força a tendência a uma mudança forçada no cardápio informativo dos leitores. A nova estratégia seria concentrar todo o chamado "noticiário duro", o dia a dia da noticia, nas versões online.

Isto seria acompanhado pela redução da periodicidade das versões impressas e uma importante alteração no seu conteúdo editorial.  Em vez de tentar cobrir tudo, como fazem atualmente, os jornais impressos passariam a adotar uma estratégia delineada já em 207 por Jeff Jarvis,  norte-americano consultor de jornais e professor de jornalismo em Nova York. 

A opção poderia ser sintetizada na frase “publique no papel aquilo que você sabe fazer melhor e faça links para o resto”.  Isso representa uma tendência à especialização e à busca de públicos segmentados. As versões impressas passariam a aprofundar e contextualizar o noticiário publicado nos sites jornalísticos, aumentando o  leque de opções do leitor. Os que querem entender como as coisas acontecem, ou quais as suas consequências, passam a ler as versões impressas; e os que desejam estar informados ou debater os temas de atualidade, vão para a internet.

O leitor é que será obrigado a uma mudança de hábitos enraizados há gerações.  A leitura diária do jornal deixará de ser rotineira para ser algo que as pessoas fazem porque desejam ou necessitam. Isso terá reflexos imediatos na forma como são produzidas as versões impressas. A produção mecânica de edições diárias terá que ser substituída por uma política editorial de valorizar conteúdos específicos,  muito próximo do que já fazem as revistas, que também sentirão o baque da mudança de estratégia dos jornais.

A agonia das versões impressas diárias é uma consequência da queda de 21% na vendagem de jornais entre 2007 e 2012, segundo o Audit Bureau of Circulations (Escritório de Auditoria de Tiragens), dos Estados Unidos. O Times-Picayune, que em 2005 vendia diariamente 261 mil exemplares, não consegue hoje passar dos 132 mil , na soma de assinaturas e venda em bancas.

O jornal passará a ser vendido apenas às quartas e sextas-feiras e aos domingos, os dias em que a publicidade paga supera os custos de produção.  Vários outros matutinos de cidades menores dos Estados Unidos anunciaram também a redução da periodicidade de suas versões impressas, um fenômeno iniciado em 2009 quando o jornal da cidade de Ann Harbour, no estado de Michigan, deixou de ser diário. Ao que tudo indica, o processo já se tornou irreversível, na opinião do consultor Jeff Jarvis.

O problema é que a nova estratégia também tem riscos altos. Os dois mais importantes são :

  1. O tempo que levará para que a perda da receita publicitária dos dias em que não haverá circulação de jornais seja compensada pelo aumento do faturamento nas versões online;
  2. A outra grande incógnita é a orfandade dos leitores de cidades com fraca penetração da internet, como é o caso de Nova Orleans. A versão impressa chegava a 75% da população enquanto apenas 36% dos moradores da cidade têm acesso à internet.