Uma pesquisa feita nos Estados Unidos, e que bem poderia ser feita também no Brasil, mostrou um dado surpreendente: o público das pequenas cidades e pequenas comunidades é o que registra o grau mais alto de diversificação em matéria de fontes de informação.
A pesquisa realizada pelo Pew Center for Internet and American Life (Centro Pew para a Internet e Vida Americana) revelou como são diferentes as preferências informativas entre cidades grandes e pequenas. Nestas, a TV é a fonte preferida para informações sobre o tempo, situação no tráfego e notícias de última hora; os jornais são mais procurados para problemas comunitários como impostos, multas e novas leis; enquanto a internet é a preferida para questões de educação, saúde e alimentação, e o rádio para debates e reclamações pessoais.
Nas metrópoles, as pessoas concentram as suas fontes em poucos veículos, com predominância para a TV, rádio e internet. Os jornais são os que menos procuram por causa de um fenômeno simples: as pessoas têm cada vez menos tempo e espaço para ler jornais ou revistas. A rotina urbana obriga as pessoas a um tipo de acesso mais impressionista à informação, ou seja, drops noticiosos que vão se acumulando até formarem uma percepção. É a ecologia informativa ideal para as mídias móveis tipo tablets e smartphones.
Já no interior, a mobilidade não é tão importante e necessária. Há mais tempo e espaço para mídias fixas como jornais, computadores, aparelhos de TV e rádio. A vida é menos agitada porque as pessoas percorrem menos distâncias entre a casa e o trabalho. A menor densidade demográfica faz com que as pessoas se encontrem mais para trocar informações.
A comparação feita pelos pesquisadores do Pew mostra que o público urbano não é mais bem informado do que o rural ou das pequenas comunidades. O tipo de informação e o tipo de acesso é que são diferentes. Isso explica também por que os jornais passam por tantas dificuldades nas metrópoles enquanto enfrentam menos sobressaltos no interior, embora a sobrevivência seja uma batalha diária.
Os dados norte-americanos mostram uma realidade que pode se repetir aqui no Brasil. Os jornais e revistas impressos são, nas pequenas cidades, um componente mais importante na formação de opiniões do que nas grandes cidades.
O que acontece é que nas metrópoles as pessoas se informam sobre o que poderíamos chamar de macronotícias (conflitos internacionais, guerras, grandes desastres etc), recolhidas de forma segmentada em vários veículos, especialmente os móveis. No nível local, o foco da informação está no nível da micronotícia (matrículas na escola, horário do posto de saúde, debate sobre novos impostos etc.).
Nas grandes cidades, a informação móvel atende às exigências da população enquanto nas comunidades é a variedade de fontes de informação que atende às necessidades das pessoas. Nos Estados Unidos, o Pew mostrou que as chances de sobrevivência de um jornal são maiores nas pequenas cidades do que nas metrópoles. Sinalizou também que a internet metropolitana é imbatível na noticia móvel e ubíqua, enquanto nas pequenas comunidades ela é a ferramenta preferida para intercâmbio de informações utilitárias sobre o quotidiano doméstico.
Tudo isso indica que há necessidade de estratégias informativas diferenciadas conforme o lugar onde as pessoas vivem e trabalham. O atendimento das necessidades informativas da população era um privilégio exclusivo das grandes cidades onde estão os maiores jornais e grandes empresas jornalísticas, que determinam a agenda noticiosa consumida pelo público e que têm maiores condições de impor seus interesses corporativos.
Nas pequenas cidades predominava o amadorismo, o empirismo e o oportunismo. Mas essa situação está mudando rapidamente, porque tanto nos Estados Unidos como aqui no Brasil a população começou a abandonar as grandes cidades por causa dos problemas urbanos como tráfego, violência, degradação do meio ambiente e deterioração das condições de vida.
O fortalecimento da imprensa local e hiperlocal passou a ser uma necessidade determinada pela mudança do perfil demográfico dos novos polos de crescimento populacional, especialmente nas regiões que hoje começam a atrair investimentos de infraestrutura e produção industrial . Isso torna necessária uma readequação das estratégias de informação jornalística em nível local. Mas para que isso seja possível é necessário, primeiro, conhecer melhor o que está acontecendo em matéria de interesses noticiosos fora da avenida Paulista, da Barra da Tijuca e da Esplanada dos Ministérios.