O incêndio de ônibus tornou-se uma imagem recorrente nos telejornais brasileiros desde que os líderes do crime organizado deflagraram ações tipicamente guerrilheiras em desafio ao aparato estatal de segurança pública.
É o que vemos quando um grupo usa a mobilidade de motocicletas e carros roubados para atingir alvos isolados, como ônibus em ruas pouco movimentadas ou instalações fixas da policia.
Trata-se de um confronto desigual, porque o crime organizado ataca quando onde quer ou pode, enquanto a policia e os bombeiros correm para apagar incêndios sem poder fazer grande coisa.
Os delinquentes desafiam o poder da polícia, que por seu lado preocupa-se em mostrar para a população que está usando bem o dinheiro dos impostos para pagar salários e equipamentos de segurança.
As máfias procuram impressionar as autoridades e estas jogam para a plateia da opinião pública, porque não conseguem resultados rápidos nesse confronto que só tende a crescer porque a estratégia do comando policial está 100% equivocada.
Mais do que ninguém, os jornalistas sabem que em episódios como a que estamos assistindo em algumas cidades brasileiras, os exemplos históricos mostram que a polícia só consegue neutralizar ações como as registradas em Florianópolis e São Paulo quando usa a inteligência. Na base da força, o único resultado previsível é mais violência e mais insegurança.
Nesta guerrilha urbana sem ideologias, mas como muitos interesses em jogo, é indispensável insistir no papel da imprensa como único elemento capaz de desmistificar tanto a estratégia dos criminosos, cujo verdadeiro objetivo são regalias nas penitenciárias, como as da polícia, que promete à população uma segurança que materialmente não pode oferecer.
É impossível, por exemplo, escoltar todos os ônibus que circulam à noite numa grande cidade. E se não dá para fazer isso, sempre haverá a possibilidade de um ataque de surpresa que realimentará a sensação de desproteção por parte da população.
A imprensa tem a responsabilidade de evitar um clima de histeria coletiva, fugindo da opção fácil pelo sensacionalismo e pela emotividade. Mas também tem que dar à população informações realistas para que as pessoas tenham elementos para orientar comportamentos individuais e coletivos.
É essencial que a imprensa constate que tem um papel específico em situações como as que vivem cidades conturbadas por episódios de guerrilha urbana como os de São Paulo e Florianópolis. Até agora a imprensa adotou a atitude passiva de cobrar medidas das autoridades de segurança.
O governo tem sua própria agenda de preocupações em matéria de segurança publica, uma agenda condicionada por interesses político-partidários, eleitorais, financeiros, sem falar nos egos pessoais. Nada disso interessa ao cidadão exposto à violência aleatória nas ruas — e se a imprensa está preocupada com quem compra jornal, é este cidadão que deve estar no centro da estratégia informativa dos noticiários.
É importante que a mídia tome consciência disso porque o fenômeno da violência urbana tende a continuar e crescer, inclusive para as médias e pequenas cidades, como mostram os assaltos a agências bancárias do interior. Se vamos ter que conviver com isso por mais tempo, é necessário começar a usar a inteligência, que em última análise é o resultado da combinação de neurônios, dados e informação.
Por definição a imprensa tem os três elementos, mas já não é mais possível ser tão taxativo quanto aos demais protagonistas da crise da segurança pública.