Blogueiros de todo mundo estão acompanhando a experiência do norte-americano Andrew Sullivan, que decidiu abandonar a proteção de um portal para aventurar-se num voo solo sem a rede de proteção da publicidade comercial. Sullivan não é o primeiro a optar pela autonomia total ,mas é o pioneiro na tentativa de manter um blog informativo usando o polêmico recurso do paywall (acesso pago individual).
Sullivan, um experimentado jornalista político, que se autodefine como um conservador independente, mantém há uma década o blog The Dish, publicado inicialmente no portal online da revista literária Atlantic. Em 2011 ele migrou para o portal Daily Beast (da revista semanal Newsweek) e agora vai se estabelecer como autônomo, cobrando US$ 19.90 ( cerca de R$ 41 reais) por ano de aproximadamente 45 mil usuários. A expectativa é ter uma receita líquida de 900 mil dólares anuais.
A aposta é arriscada, mas, se depender da reação dos usuários, as perspectivas são muito animadoras: nas primeiras 24 horas de lançamento do projeto, um terço da receita esperada já havia sido materializada. A outra grande surpresa é que a 56% dos primeiros assinantes, como demonstração de confiança na proposta, pagaram oito dólares a mais do que assinatura mínima pedida.
Na sua primeira reação aos resultados iniciais, Andrew Sullivan disse que seu otimismo era justificado pelo fato de que as 12 mil pessoas que fizeram assinaturas no primeiro dia após o lançamento do projeto constituem apenas 1% do total mensal de visitantes do site em seu endereço atual.
A experiência do Dish é a primeira do gênero envolvendo o uso do acesso cobrado a blogs produzidos por jornalistas independentes. O acesso cobrado (paywall, em inglês) está sendo testado em diversos jornais do mundo na tentativa de encontrar um novo modelo de negócios para a indústria da comunicação jornalística. Aqui no Brasil, o caso mais recente é o da Folha de S.Paulo.
Se o blog de Andrew Sullivan conseguir sobreviver financeiramente com as suas próprias pernas estará criado um precedente que pode levar outros jornalistas, individualmente ou em grupo, a tentar o mesmo caminho. Será também um caso para estudo, porque o sistema de acesso pago em jornais não chegou a resultados conclusivos até agora, com exceção de jornais econômicos, que têm um público cativo disposto a pagar por informações comerciais e financeiras.
A confiança dos usuários passa a ser o fator fundamental e decisivo para a sobrevivência de blogs como o de Sullivan. É claro que essa confiança está associada à qualidade do serviço noticioso recebido e a uma rede de usuários, que surge informalmente em torno dos leitores que comentam textos publicados e trocam ideias entre si.
Até agora os blogs se sustentam pelo esforço pessoal, como uma espécie de hobby não remunerado, pela publicidade inserida ou pelo patrocínio de algum portal informativo. No primeiro caso, a sobrevivência depende da poupança e da paciência do blogueiro. Quando um dos dois acaba, o blog segue o mesmo caminho. Muitos blogs brasileiros inserem publicidade e outros chegam até a receber dólares do serviço Adsense, do Google, mas os blogueiros mais populares estão quase todos abrigados sob o guarda chuva de portais informativos dos quais recebem um percentual relativo à publicidade.
O blog The Dish parece estar apontando um caminho, mas não necessariamente um modelo, pois trata-se de um campo muito novo. Muita gente não terá sucesso porque estará explorando um território desconhecido. Os inevitáveis revezes e erros pavimentarão o caminho para os que acabarem descobrindo a fórmula — ou fórmulas — para garantir s sobrevivência de projetos jornalísticos independentes e autossustentáveis.