Todo mundo só fala de Copa na mídia e o que não é futebol está vinculado a denúncias de possíveis atos de corrupção ou então sinais pessimistas de que a economia estaria indo para o brejo. Só que ninguém informa que tudo o que não é Copa, na verdade, é campanha eleitoral disfarçada.
O festival Copa está ofuscando todo o processo eleitoral e quando chegar agosto, em plena ressaca futebolística, o eleitorado brasileiro terá que enfrentar 90 dias de campanha eleitoral sob um intenso bombardeio de informações desencontradas, descontextualizadas, incompletas e nem sempre verídicas.
É com esse material que teremos que decidir nosso voto, o que desde já surge como uma tarefa nada fácil porque a sensação geral é de confusão diante do noticiário da imprensa. Já não dá mais para saber se a seca em São Paulo é mais ou menos importante do que as enchentes no Acre. Se a economia caminha para o precipício ou está tudo sob controle. Se devemos temer mais a polícia do que os bandidos. Se uma eventual derrota de Dilma Rousseff muda tudo ou continua tudo igual.
São apenas algumas das inúmeras perguntas que povoam a nossa mente e para as quais não achamos respostas e nem muito menos ajuda na imprensa para entendê-las. Fica claro que existe um esforço conjunto na mídia para reverter a vantagem da presidente Dilma na pesquisa pré-eleitorais. Trata-se de uma clara manobra política, mas que não aparece associada à campanha para a sucessão presidencial. Desconfiamos mas não temos certeza.
Por outro lado, o governo bate na tecla de que tudo está sob controle e que não há razão para pânico – nem econômico e nem político. Mas também não dá uma resposta clara às denúncias levantadas pela oposição. A impressão que transmitem os porta-vozes oficiais é de que o mundo político do governo se resume a Brasília, Rio e São Paulo, e que o resto do país não precisa de explicações detalhadas. Resultado: desconfiamos de que nem tudo está bem, mas mais uma vez não temos certeza.
Esta e todas as demais incertezas resultantes de perguntas sem respostas aumentam a suspeição de que seremos empurrados para uma eleição sem ter as informações mínimas sobre o que realmente estará em jogo, e como deveremos votar. O velho apanágio de que a imprensa era nossa conselheira já não tem mais o menor fundamento. O noticiário é tão enviesado quanto o discurso dos políticos e as explicações oficiais. Não nos transmite confiança alguma.
Por enquanto, a Copa ofusca as nossas preocupações e adia o choque da insegurança para agosto. Depois serão 90 dias de correria eleitoral que poderiam ser comparados a um “salve-se quem puder”, porque o que não foi articulado silenciosamente sob o rugido das torcidas do campeonato mundial será jogado de qualquer jeito na arena da opinião publica nacional, por falta de tempo e de condições para articular ideias e projetos.
Seguramente teremos uma eleição atípica, não só pelo fato de a campanha eleitoral ter sido ofuscada pela euforia comercial e esportiva da Copa, mas principalmente porque o divórcio entre eleitores e políticos alcançará um patamar ainda mais amplo. Uns dirão que isso é péssimo para a democracia, mas o fato é que não é o regime que está em crise, mas sim os que dizem representá-lo. As dúvidas do público não são sobre a democracia e o divórcio eleitoral não envolve o abandono do sistema político. Quem está da berlinda são os formadores da opinião. O eleitor só tem dúvidas e incertezas.