Parece jogo de palavras, mas não é. A notícia deixou de ser algo estático, definitivo e acabado. A avalancha informativa na internet permite agregar novos detalhes, de forma ininterrupta. A notícia torna-se assim algo, por natureza, mutável, líquida como a água. Isso faz com que o jornalismo acabe assumindo também características fluidas, sem verdades definitivas, sem categorias fixas e, sobretudo, assumindo a dúvida e a relatividade como constantes no ato de informar.
Esta nova forma de caracterizar a notícia e conceber a atividade jornalística tem a ver com a nova realidade que estamos vivendo, onde dicotomias tipo bom/mau, bonito/feio, verdadeiro/falso ou justo/injusto são cada vez mais relativizadas na medida em que a diversidade de dados veiculados pela internet permite multiplicar as visões de um mesmo fato, número ou evento.
Nessas circunstâncias, o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta acaba tendo que revisar seus comportamentos e seus valores gerando dois tipos de postura: assumir a fluidez do ambiente informativo ou agarrar-se aos comportamentos e valores conhecidos e seguros, apesar de questionados pela realidade que nos cerca.
A imprensa brasileira, e também a de outros países, vive hoje o dilema de abandonar rotinas, valores e procedimentos tidos como seguros para aventurar-se no terreno desconhecido e inseguro do novo, daquilo que ainda não foi testado e experimentado. Isso reflete um divisor de águas de toda a sociedade contemporânea, que vive um momento de transição de modelos, que lembra o início da revolução informativa provocada pela descoberta dos tipos móveis, por Gutenberg, na metade do século 15.
A atual campanha eleitoral não é apenas uma corrida entre candidatos e uma disputa entre grupos políticos e econômicos pela conquista de mais quatro anos de controle da máquina estatal. Ela é também um laboratório para as empresas de comunicação e para os jornalistas, onde está sendo posta à prova a relação entre a imprensa e os leitores.
A “onda” Marina mostrou que existe um movimento difuso, sem líderes, sem propostas estruturadas e fora dos padrões ideológicos convencionais que, volta e meia, emerge no cenário político nacional, como aconteceu nas manifestações de junho do ano passado e na eleição de Lula, em 2002. São manifestações de uma bolha de inconformismo social que a imprensa não consegue entender e, por isso, é sempre apanhada de surpresa, adotando geralmente a posição conservadora ao não conseguir enquadrar o fenômeno dentro do seu modelo de análise da realidade.