São cada vez menores as dúvidas sobre o fim da hegemonia da comunicação em massa na sociedade contemporânea. Até agora os recursos tecnológicos disponíveis viabilizavam apenas a comunicação tipo um para muitos, onde uma mesma notícia era produzida para atender muitos leitores, ouvintes ou telespectadores devido às limitações de distribuição impressa ou audiovisual.
Mas, com a chegada da internet e da computação passou a ser possível produzir notícias para públicos agrupados em torno de interesses ou necessidades específicas, os chamados nichos informativos, formados por comunidades sociais de todos os tipos. Entramos numa era em que haverá a coexistência entre projetos de comunicação em massa e iniciativas jornalísticas em comunidades, porque a sociedade como um todo também está se reorganizando com a valorização dos espaços locais e hiperlocais.
Este contexto abre perspectivas novas para o jornalismo, cujo principal diferencial em relação a outras formas de comunicação como teatro, cinema, música, literatura e oratória é o fato de trabalhar com dados inéditos de atualidade. A descentralização urbana provocada pelos problemas das megalópoles torna-se viável na medida em que as pessoas disponham de informações para criar novos relacionamentos sociais ou culturais e identificar condições de sustentabilidade financeira.
O jornalismo em comunidades torna-se assim uma opção estratégica no campo da comunicação porque passa a ser um elemento essencial no desenvolvimento e consolidação de um novo contexto social. Mas para atender às necessidades informativas de comunidades, o jornalismo precisa encontrar soluções para três grandes desafios:
1. Desenvolver um novo tipo de relacionamento com o público;
2. Pesquisar uma nova forma de contar histórias e transmitir notícias;
3. Encontrar um modelo de sustentabilidade econômica baseado na diversificação financeira.
Cada um desses três itens, por si só, já constitui numa exploração complexa da nova realidade provocada pelo uso das novas tecnologias digitais de comunicação e informação no âmbito social, político, cultural, científico e econômico. Os próximos textos ampliarão o detalhamento de cada item, visando ampliar o debate.
O jornalismo em comunidades se distingue do conceito usual de jornalismo local porque dá mais importância ao fator social do que ao empresarial. A imprensa local e regional está integrada ao modelo global de produção em massa, o que é lógico e inevitável levando em conta as tecnologias disponíveis até agora.
A chamada pequena imprensa está diante do desafio da sobrevivência porque precisa migrar para um novo modelo informativo de empresarial, por meio da administração da herança de instalações mecânicas e dependência da publicidade vinculada a audiências e circulação. Esta herança é suficientemente complexa para ocupar 24 horas do dia da maioria dos empresários do segmento da imprensa local e regional, o que acaba deixando pouco, ou nenhum tempo, para pensar no problema mais importante que é o da relação com o público.
O dilema é o que fazer com rotativas, prédios, sistemas de comunicação e de distribuição tanto impressa como audiovisual que perderam eficiência e valor de venda com a disseminação dos equipamentos digitais. O que fazer com leitores, ouvintes e telespectadores que estão envelhecendo enquanto os jovens abandonam os veículos tradicionais de comunicação? Como manter a fidelidade de anunciantes que estão perdendo a credibilidade na publicidade analógica, mas ainda não sabem como usar a digital?
Muitos empresários apostam que a tecnologia poderá lhes dar as respostas procuradas, mas é cada vez mais claro que o grande problema da imprensa não está na compra de novos equipamentos mas na relação com o cliente. O problema da migração para o ambiente digital não está na tecnologia, mas no fator humano. A aquisição ou aluguel de um novo software ou hardware pode produzir resultados rápidos, enquanto uma mudança de hábitos informativos geralmente consome anos. A pressa empresarial por resolver um impasse financeiro prejudica a percepção do problema humano.
A imprensa comunitária, que até agora era considerada uma proposta alternativa, quase subversiva, também tem os seus dilemas para sobreviver na era digital. Ela tem a vantagem de poder contar com novos equipamentos de baixo custo relativo e ampla capacidade de difusão de notícias jornalísticas, mas ainda deve superar os vícios deixados pela preocupação com a militância centralizada e com a defesa de causas ideológicas. As novas comunidades precisam de muita informação de serviços, produção coletiva de conhecimentos e interatividade social.