Nos diversos questionamentos sobre o papel da mídia, vemos que há algo de fundamental que às vezes fica de fora dos processos de discussão: a questão cultural de nosso povo. Vemos que é urgente desenvolver no seio da sociedade um processo de melhoria do nível cultural de nosso povo para promover uma reviravolta na comunicação e para a geração de uma democracia midiática. Claro que os espetáculos de baixaria hoje em vigor pela maioria dos meios de comunicação só tem ocorrido pelo fato de gerarem audiência e participação do público que infelizmente ainda faz parte de um contingente cada vez mais crescente de exclusão cultural. No modelo de sociedade em que vivemos em que a promiscuidade faz sucesso temos de entender que há algo de errado que é o processo educativo que temos em vigor hoje que não conscientiza, não gera criticidade nem garante a formação de indivíduos que certamente aprenderão a questionar a baixaria nos meios de comunicação.
O contexto dessa sociedade que cultua Eros e Tanatos precisa ser mudado e tal mudança só será possível se houver uma ação decisiva para romper os caminhos da ignorância e da alienação cultural. Hoje é preciso que tenhamos iniciativas públicas no sentido de dar ao nosso povo cultura, formação e consciência que acaba premiando a quem faz dos meios de comunicação uma latrina que vem sendo pouco questionado pelos órgãos públicos que deveriam fiscalizar e pelo próprio público que poderia selecionar programas que só se perpetuam devido ao quadro de ignorância que ainda vigora em nosso país.
Passividade, ignorância e falta de engajamento
A situação de mudança que precisa ser gerada deve buscar na educação uma nova forma de encarar o processo comunicativo, pois a educação é um dos elementos fundamentais para alcançar uma nova forma de encarar os meios de comunicação. Claro que sabemos que os programas apelativos têm sempre mais audiência o que acaba gerando poder, capital e influencia. Vemos nos meios de comunicação mais modernos de hoje um espetáculo de baixaria e de propostas de cultura inútil que só encontra guarida pelo fato de termos em nossa nação um processo educativo que não forma, não muda atitudes nem gera lideranças.
A busca por uma comunicação séria, verdadeira e ética está sempre ancorada em uma nova lógica de ação que deve envolver investimentos maiores na geração da educação, de aprendizado político, de formação crítica e conscientizadora e de erradicação completa do analfabetismo e da incultura. Na conjuntura atual de nosso país a educação de qualidade deve ser uma proposta encampada por todos os setores da nossa sociedade que deve lutar firmemente para que haja um processo educativo que gere questionamentos ao modelo de sociedade que hoje temos e que acaba gerando passividade, ignorância e falta de engajamento que não estão no nível de escolaridade, e sim, no modelo de educação adotado e referendado pelos poderes públicos.
Políticas excludentes e descomprometidas
O que se passa nos nossos meios de comunicação refletem hoje a completa alienação que hoje povoa nossa sociedade e que gera pessoas desprovidas de questionamento dos modelos em vigência na atualidade e que tem dado índices de audiência crescentes na comunicação dominada pela baixaria. É preciso organizar os usuários de comunicação na formação de uma consciência crítica em relação às comunicações que tem gerado pessoas cada vez mais famosas que tem um vazio intelectual constatado facilmente. É preciso que os governos que negligenciam a educação sejam denunciados e cobrados veementemente buscando ampliação nos investimentos da educação para dar aos indivíduos a formação competente diante de um mundo em mudanças.
É preciso que os profissionais de comunicação comprometidos com a busca de uma sociedade melhor incluam em suas práticas a lembrança forte e permanente de que há problemas em nossa educação e que o processo de alienação cultural de nossa população contribuem claramente para a criação de um processo comunicativo que é gerado pela ignorância e que procura perpetuar a alienação que dá bons índices de audiência e acaba promovendo comunicação descomprometida com a mudança e que provoca em nosso povo uma situação de marasmo e imobilismo que faz com que cada vez mais se ampliem as políticas públicas excludentes e descomprometidas.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE