Buscando desesperadamente por seu filho, desaparecido durante os protestos após as polêmicas eleições presidenciais do Irã, em junho do ano passado, uma mulher implora por ajuda a um guarda do lado de fora da penitenciária de Evin, na capital do país. ‘Não tenho mais ninguém para pedir auxílio. Você pode me ajudar a encontrá-lo’, diz Zahra. Diante da recusa do policial, ela olha, sem esperança, para o mar de gente nas ruas de Teerã após o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter declarado vitória. Ao mesmo tempo, lembra-se de uma mulher que tem o mesmo nome que o seu: Zahra Kazemi, fotojornalista canadense-iraniana morta em 2003 depois de ser espancada em Evin.
A cena acima faz parte de Zahra’s Paradise, história em quadrinhos online escrita e ilustrada por dois iranianos que hoje vivem nos EUA. Os autores optaram pelo anonimato por temerem retaliação a seus parentes no Irã. Atualizadas três vezes por semana, as tirinhas mostram, por meio de imagens em preto e branco, a história dos manifestantes iranianos e o horror que eles enfrentam desde as eleições presidenciais de 2009. Milhares de leitores de todo o mundo acompanham cada tirinha, em idiomas que vão do persa ao coreano – há inclusive em português. Quando a história acabar, os autores planejam lançar um livro.
Cemitério
O título – ‘Paraíso de Zahra’, tradução livre – tem um impacto especial nos iranianos, por ser o nome de um cemitério no sul de Teerã. Ao longo dos anos, muitas das vítimas da República Islâmica acabaram sendo enterradas no local; há tantos túmulos que eles só podem ser encontrados por um mapa. Iranianos de todos os tipos estão enterrados no cemitério – do aiatolá Ruhollah Khomeini, pai da revolução iraniana, a Neda Agha Soltan, jovem morta durante um dos protestos do ano passado e que virou símbolo da oposição.
A história de Zahra é familiar à de muitas mães. Centenas de manifestantes estão desaparecidos depois dos protestos. Um grupo de mulheres, chamado Mães de Luto, ainda se encontra nos parques de Teerã para lembrá-los e pedir pela libertação dos presos. Informações da Economist [20/5/10].