Para muitos leitores do Washington Post, o crítico de TV do jornal, Tom Shales, passou dos limites ao criticar o Need to Know, novo programa da emissora pública americana PBS. Shales classificou a entrevista com o ex-presidente americano Bill Clinton de ‘uma monstruosidade enganadora’ conduzida pelos ‘âncoras semicompetentes’ Jon Meacham e Alison Steward. Segundo ele, Alison ‘estaria muito mais confortável se estivesse no colo de Clinton’. Após ter sido atacado na blogosfera e na TV a cabo pelos comentários, considerados sexistas, Shales desculpou-se em um chat. ‘Não tive a intenção de fazer uma referência sexual; estava falando sobre uma conversa acolhedora, nada mais que isso’, defendeu-se.
Em geral, leitores reclamam quando consideram que o Post usou linguagem sexista ou focou gratuitamente na aparência de uma mulher. Referências a um casal como ‘homem e esposa’ também incomodam àqueles que consideram o termo uma volta à era na qual mulheres casadas eram vistas como possessões. Uma coluna recente foi criticada por afirmar que Rielle Hunter, amante do ex-candidato presidencial John Edwards, falou ‘como uma loira’ em uma entrevista na TV. Leitores também se queixaram de uma matéria que descreveu detalhadamente a roupa da ex-candidata à vice-presidência Sarah Palin.
Parcela importante
Nenhum dos casos mencionados levou ao cancelamento de assinaturas, mas a resposta negativa constante a situações do tipo certamente contraria os esforços de reter ou atrair um grupo importante de leitores: o de mulheres. Um estudo interno divulgado em março do ano passado mostrou uma queda – que começou a acelerar em 2003 – no número de leitoras. Foi citada uma pesquisa nacional que revelava que mulheres entre 18 e 34 anos gastam 15 minutos ao dia na leitura de jornais – um pouco mais que os homens na mesma faixa etária. O documento sugeria ao Post que produzisse jornalismo que ‘crie uma expectativa nas leitoras de que o diário está sendo publicado com elas em mente’.
Para tal, diz o ombudsman Andrew Alexander, seria fundamental evitar comentários irrelevantes. No entanto, para a professora da Universidade Georgetown Deborah Tannen, autora de estudos sobre as diferenças de gênero nas comunicações, isto acaba sendo difícil porque ‘as mulheres são mais julgadas pela aparência do que os homens’. É aceitável usar descrições de roupas quando se há um contexto. O manual de redação do Post diz que ‘referências à aparência pessoal – olhos azuis, loira etc – devem geralmente ser omitidas, a não ser que sejam claramente relevantes na matéria’.