‘Ué, vocês ainda se falam?’, perguntou Paulo Francis, ao me ver chegar com nosso amigo comum, o jornalista Fernando Pessoa Ferreira, ao lançamento de um livro seu, nos anos 90. Para Francis, num meio como a imprensa, as pessoas sempre teriam um motivo – político, profissional ou pessoal – para se desentender e cortar relações. Acontecera muitas vezes com ele próprio.
Mas não entre mim e Fernando. Conhecemo-nos em 1979, em São Paulo, quando fui trabalhar na Playboy, onde ele já estava. Ali começamos uma conversa que só se encerrou nesta quarta-feira [12/5], quando ele se foi, depois de longa luta contra um câncer. Nesses 31 anos, estivemos juntos em várias redações, inclusive na Folha, fomos vizinhos por muito tempo e viajamos, com mulheres e namoradas, para praias e Carnavais.
Era um profissional à antiga, adepto da rua, e extraía uma boa história de qualquer besteira. Mas era também inestimável na cozinha: escrevia com humor, era craque em editar entrevistas e insuperável em titular matérias. ‘Curitiba, onde Jânio Quadros comia moscas’, sapecou, numa revista dirigida por Francis. O qual o adorava e, com típica brutalidade amorosa, o chamava de ‘o analfabeto mais culto do Brasil’. Fernando, monoglota assumido, gostava da definição.
Era pernambucano de Olinda, passara pelo Rio nos anos 60 e se fixara em São Paulo –conhecia a cidade como poucos e fez dela o cenário de um livro de contos, O Umbigo do Anjo, e do romance Os Demônios Morrem Duas Vezes. No hospital, na véspera da morte, assinou o contrato para a publicação de um novo romance, ironicamente intitulado O Assovio da Foice, que não verá impresso.
Não nos falaremos mais. Embora nos telefonássemos quase todos os dias, faltou dizer muita coisa.
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Morre o jornalista Antonio Fernando Pessoa
Reproduzido do sítio do
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, 13/5/2010
Faleceu na última quarta-feira (dia 12) o jornalista e escritor, Antonio Fernando Pessoa Ferreira. Nascido na cidade de Recife, em Pernambuco, inicialmente, radicou-se em Curitiba, Paraná. Pela similaridade do nome com o do grande poeta português, praticamente o Antonio acabou sendo abolido pelos amigos e conhecidos e chamado como Fernando Pessoa.
Posteriormente transferiu-se para o Rio de Janeiro e São Paulo, onde trabalhou na revista Quatro Rodas e em diversos jornais como a Folha e o Estado de S.Paulo.
Publicou, entre outros, os livros Os Instrumentos do Tempo (ganhador do Prêmio Fábio Prado, 1958); Em Torno do A (poesias, 1958); Fantasmas da Gaveta (contos). O velório ocorreu no cemitério do Araçá e seu corpo foi cremado na Vila Alpina.
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Jornalista