Como serão as comunicações móveis de 2020? Estudos e pesquisas elaborados pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) e por consultorias de renome têm a resposta a essa pergunta: o mundo poderá ter um total de 55 bilhões de dispositivos de comunicação móvel no fim desta década.
Desses 55 bilhões, cerca de 12 bilhões de dispositivos móveis serão, acima de tudo, smartphones, tablets, celulares convencionais, leitores eletrônicos (e-readers) e outros, dedicados à comunicação pessoa-pessoa e homem-máquina. Os restantes 43 bilhões de dispositivos móveis, num cenário de quase ficção, serão voltados à comunicação máquina-máquina nas mais diversas funções. Por outras palavras, as máquinas se comunicarão muito mais com outras máquinas, numa proporção quase quatro vezes maior do que as pessoas entre si. Assim será o que já se chama de mobilidade 3.0.
Esse tema despertou o entusiasmo da maioria dos palestrantes do Congresso Mundial de Mobilidade (Mobile World Congress 2011), de 14 a 17 de fevereiro em Barcelona, que sintetizamos aqui com base nas apresentações de oito líderes setoriais, presidentes ou CEOs das maiores operadoras e corporações da área de comunicações: Randall Stephenson, da AT&T; Wnat Jianzhou, da China Mobile; Vittorio Colao, da Vodafone; Ryuji Yamada, da NTT DoCoMo; Hans Vestberg, da Ericsson; Ben Verwaayen, da Alcatel-Lucent; Eric Schmidt, do Google; e Steve Ballmer, da Microsoft.
Desafios vindouros
Como será esse diálogo entre bilhões de sensores, dispositivos móveis e máquinas? Steve Ballmer, presidente da Microsoft, afirma que a conectividade mais ampla possível dominará a mobilidade nesta década: ‘Nesse ambiente de mobilidade generalizada, todos os dispositivos se conectarão entre si’, prevê.
Um dos melhores exemplos que conhecemos dessa comunicação entre máquinas e objetos é o sistema de localização via satélite (GPS, sigla de Global Positioning System), que já conecta quase 500 milhões de veículos em todo o planeta e é formado por uma constelação de 24 satélites do sistema GPS. Em 2020, seremos quase 4 bilhões de usuários de sistemas de navegação e localização muito mais avançados, sucessores do GPS, para orientar nossos caminhos e dizer onde estão as pessoas ou objetos que procuramos.
Outro exemplo de comunicação máquina-máquina usado em nosso dia a dia é aquele baseado na tecnologia de dispositivos de identificação por radiofrequência (RFID, sigla de Radio Frequency Identification Devices), nos pedágios automáticos, como no sistema ‘Sem Parar’, nas rodovias paulistas. Pois bem. No futuro, haverá milhões e milhões de sistemas RFID, até em uso pessoal e doméstico.
‘Mas nem todas as operadoras, governos e reguladoras estão cientes dos desafios que comunicação máquina-máquina poderá representar nos próximos anos’, adverte Hans Vestberg, presidente da Ericsson.
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Nuvem, internet das coisas e internet semântica
Ao longo desta década, pelo menos três avanços notáveis da internet estarão amadurecidos e vão acelerar ainda mais a mobilidade de terceira geração: a nuvem, a internet das coisas e a internet semântica.
Relembremos que nuvem significa ‘em algum lugar da internet’ (em data centers públicos ou privados) ou a nova forma de computação conhecida como cloud computing. A nuvem nos permitirá armazenar quase tudo que hoje guardamos em nossos computadores e smartphones. Ela será o repositório quase inesgotável de nossos conteúdos pessoais, programas e aplicativos.
Tudo o que você quiser, leitor, estará disponível na nuvem: programas, jogos, filmes, aplicativos e todos os tipos de conteúdos. Um exemplo típico dos benefícios da nuvem nessa nova fase da revolução da mobilidade 3.0 é o projeto que a sueca Ericsson desenvolve com a empresa americana Akamai para criação de programas e aplicativos que permitirão aos usuários dos smartphones baixar todo tipo de conteúdo direto da nuvem.
O segundo avanço extraordinário que beneficiará a todos será a ‘internet das coisas’ – um salto da web que estará intimamente ligado à nuvem e nos permitirá estabelecer elos virtuais ou links entre objetos materiais: livros, discos, móveis, documentos, mercadorias, produtos físicos e outros. Essa nova internet terá grande aplicação não apenas em ambiente doméstico ou industrial, mas, principalmente, em ambientes de mobilidade.
A internet das coisas permitirá que nossos carros troquem informações não apenas com os pedágios eletrônicos, mas também com outros veículos e com as estradas, com os sistemas de sinalização e de segurança. Mais ainda: poderão estacionar com precisão e segurança, sem bater nos outros nem na sarjeta.
Nossas roupas, smartphones e objetos pessoais falarão entre si e com o mundo à sua volta, com as portas, paredes e com outros aparelhos domésticos. Com a internet das coisas, o mundo viverá o auge da comunicação máquina-máquina. Bilhões de sensores falarão entre si e estabelecerão um novo diálogo com semáforos, sistemas de transporte, de segurança pública e doméstica, de vigilância de prédios e ruas, de controle do consumo de energia e outras aplicações.
A terceira inovação que vai revolucionar a web e as comunicações pessoais será a ‘internet semântica’, que pode ser definida como um conjunto de métodos ou tecnologias que permitem às máquinas entender o significado da informação. Ou, em outras palavras, entender a semântica da informação. Esse conceito de uma internet avançada foi estabelecido por Tim Berners-Lee, o criador da teia mundial (www, de worldwide web), para quem essa nova internet poderá ser processada direta e indiretamente pelas máquinas.
O melhor benefício que o cidadão de 2020 terá com a internet semântica, em sua fase mais avançada, talvez sejam as pesquisas que seus aplicativos poderão fazer na web. Essas transformações terão enorme impacto na economia, na produtividade, no estilo de vida e no comportamento, em especial com a expansão acelerada do uso dos dispositivos de tecnologia pessoal, como smartphones e tablets. (Ethevaldo Siqueira)
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Para especialistas, tablets vieram para ficar
Na visão da maioria dos palestrantes do recente Congresso Mundial de Mobilidade de Barcelona, a comunicação móvel está ingressando na década dos tablets. Como parece óbvio, a demanda por novos conteúdos da internet vai crescer de forma explosiva e assustadora. Até há poucos anos, a internet nos oferecia um conteúdo formado, em sua maioria, por textos e dados e em volume relativamente pequeno.
Imagine, leitor, que hoje, a cada minuto são postadas 36 horas de vídeo, apenas no YouTube. Essa tendência começou com o download crescente de música, vídeo e de imagens em geral.
Num futuro próximo, tudo tende a mudar radicalmente. Além disso, ao longo da última década, o número de novos dispositivos tem sido ampliado largamente, com os laptops e netbooks com seus modems 3G, iPods, tablets e iPads.
Alta velocidade. Mesmo no Brasil, num horizonte de apenas cinco anos, estima-se que mais de 50 milhões de cidadãos estarão ingressando na era da mobilidade 3.0, com utilização crescente de seus smartphones e tablets. E a demanda de alta velocidade por volta de 2016 será, no mínimo, da ordem de 10 vezes maior do que a atual. Nenhum usuário aceitará velocidades menores de 30 ou 40 megabits por segundo (Mbps). Eis aí o grande desafio.
A previsões de aumento de tráfego e demanda são assustadoras, ao longo desta década. Por volta de 2016, com o ritmo acelerado de expansão da banda larga em alguns países desenvolvidos, a demanda de banda larga talvez seja de 15 a 20 vezes maior do que a atual. E o mais surpreendente (ou aterrador) é que, em 2020, a demanda mundial poderá alcançar um patamar 50 vezes maior do que a atual.
Terceira revolução
Na verdade, a mobilidade 3.0 corresponde a uma terceira revolução na comunicação pessoal em todo o mundo (depois do celular 3G), deflagrada em especial por tablets e leitores eletrônicos (e-readers), que deverão ser utilizados por mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo em 2020, seja na recepção de TV móvel, de filmes, shows, videoconferências, comércio móvel (e-comm), transmissões esportivas ao vivo ou gravadas, download de música, de videogames, para a leitura de jornais, revistas e livros, além de todas as funções proporcionadas pelos smartphones.
Os visionários e estudiosos do futuro nessa área não têm dúvida: os tablets ampliarão em muito as funções dos smartphones. Centenas de milhões desses dispositivos oferecerão uma multiplicidade impressionante de serviços, com as funções cartões de crédito virtuais, prontuários médicos, carteiras eletrônicas, terminais de mobile-banking, de biblioteca virtual, de servidor portátil de todos os conteúdos que nos possam interessar, a qualquer momento, em qualquer lugar.
Tudo o que vemos até aqui, entretanto, não passa de uma minúscula ponta do iceberg, pois o número desses novos dispositivos tende a multiplicar-se de forma explosiva nos próximos dez anos, especialmente se contemplarmos o da comunicação máquina-máquina. (E.S.)
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Jornalista