Rebelde, quanto ao significado do termo, remete ao que se revolta, ao que se recusa a obedecer. E é exatamente isso que a internet tem feito, muitas vezes de maneira extremamente feliz e positiva, já que se revolta contra os modelos convencionais do jornalismo e se recusa a obedecer regras prévias e ultrapassadas que ainda persistem atualmente.
A internet, como já apontou Carlos Nepomuceno, é uma plataforma, não uma mídia. A web é formada por diversas mídias diferentes que utilizam a plataforma digital da rede mundial de computadores para propagar novos pensamentos, visões diferenciadas e ousadas maneiras de se produzir notícia, já que possibilita que a informação seja formulada paralelamente ao jornalismo das grandes corporações, sendo produzida por internautas.
O que vem evidenciando essa movimentação são as recentes revoltas do mundo árabe e as grandes catástrofes naturais de destaque, como as enchentes no Brasil ou o terremoto seguido por tsunami no Japão. Esses acontecimentos possibilitaram a observância ímpar de que a participação dos consumidores informacionais e midiáticos é fundamental para a concretização do jornalismo digital. A plataforma internet vem sendo inundada por fragmentos de informação nos mais variados meios, seja em texto, áudio, imagens ou, principalmente, vídeos. Ao contrário do que muitos especialistas estão profetizando, os grandes pilares para a divulgação do que vem acontecendo no mundo árabe e seus ditadores, por exemplo, não se resumem às redes sociais, mas à internet como um todo, além daqueles que produzem informações paralelas aos grandes meios.
Uma via de mão dupla
O mesmo aconteceu com o tsunami japonês, quando a imprensa tradicional, ao realizar a cobertura do acontecido, se municiou com vídeos realizados por diversos usuários japoneses e estrangeiros que deixaram o pânico de lado e investiram no modo 2.0 de consumir conteúdo informacional: a melhor maneira de ler uma notícia é ajudando a produzi-la.
A internet possibilita uma espécie de jornalismo rebelde. Não no sentido de ser contrário ao fluxo da imprensa, mas no sentido de não obedecer às regras do jornalismo tradicional. Ao se adaptar mais rapidamente às transformações imputadas pelo digital, o jornalismo rebelde criado pelos usuários serve como pauta para a grande empresa de comunicação tentar mudar alguns conceitos que ainda são mantidos por importantes jornais. O jornalismo rebelde consegue estar um passo à frente da grande imprensa quanto à produção frenética de conteúdo frente a alguns acontecimentos, pois não obedece a quase nenhum critério e o usuário só deve responder a ele mesmo, não se preocupando, muitas vezes, com qualquer linha editorial ou ética.
Entretanto, essa rebeldia necessita do jornalismo profissional como aliado para realizar a filtragem do conteúdo e selecionar o que é de real importância para que a sociedade esteja realmente informada quanto a um fato, não gerando contrainformações que muitas vezes atrapalham a cobertura jornalística e o contorno de um ocorrido grave. É uma via de mão dupla. Um necessita do outro e todos ganham no final. O jornalismo rebelde poderá auxiliar e forçar o jornalismo profissional a se adaptar ao digital mais rapidamente.
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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP