Em outra arriscada incursão aos sebos paulistanos, descobri em profundas estantes um livro esquisito… original… misterioso: O culto idioma, de Antônio Sodré C. Cardoso. Publicado em 1980, pela Edicon, que não registra mais esse título em seu catálogo.
Capa negra, livro sem orelhas. Subtítulo: ‘método sutil de ensinar a pensar’. Comprei o livro, sabendo não se tratar de uma preciosidade (pelo preço), mas de algum modo me senti preso por ele.
Descubro que o autor foi um dos primeiros professores da ESPM, lecionou também na USP/ECA, foi orientador pedagógico da Faculdade de Ciências Modernas da Santa Casa de São Paulo, pesquisador da Secretaria de Cultura de São Paulo, afora outras funções e cargos.
E descubro também que o autor mudou de nome?! É ele Tide Hellmeister? Tudo indica… Nome infernal, espontânea e consciente irreverência. Será? Não? Ele, o que assinava as ilustrações do Diário da Corte, de Paulo Francis, no Estado de S. Paulo? Buscas internáuticas a serem por alguém corroboradas ou desmentidas.
O mais importante, no entanto, é o livro em si, proposta esotérica. Não há bibliografia, e o autor explica a desrazão:
‘De que adianta citar autores e livros para impressionar o leitor com sapiência e paciência do autor? Importante é impressionar no melhor sentido, deixando impressão ou marcando na mente de quem lê um registro forte e bem A-tingido. Isto porque, assim, é a proposta vá lida e só lida desta obra.’
Desva… lido o livro, confesso-me, não sólido, lívido, perplexo. O tempo todo assim, piruetas verbais, inteligência manifesta numa festa de letras, e o leitor, pelo menos eu, perdido, hipnotizado. E um tanto assustado. Pois há recomendações fortes, incisivas:
‘Proponham-se os interessados em aplicar a filosófica essência existente no diálogo peripatético; não para formar patetas jogados como petecas, colecionando bibliotecas; e sim valores diferenciado (sic), semanticamente, sem mantas bitoladas ou brancas, confusas em vestimenta de avental recente, porém sem nada (…).’
Livro esquisito (maldito?), não só no sentido imediato da língua cotidiana. Esquisito pelo requinte, é algo delicioso, delicado ao gosto. E esquisito como se usa a palavra no Paraná: caminho difícil, escarpado, pedregoso.
O culto idioma é o idioma oculto, que na arte de escrever e pensar, segundo o autor, se desvela em novos começos – esta é a finalidade: ‘quanto mais imaginação tiver o pesquisador, maior percepção terá para ver’.
Será? Não?
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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)