Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Os planos do barão da mídia

Este artigo fará algo que Rupert Murdoch jamais contemplaria: olhar para trás. O empresário acaba de celebrar seu 80º aniversário, mas isso não reduzirá suas ambições quanto a expandir a já gigantesca News Corporation. Ele só olha o futuro.

O fato de que essa companhia descomunal existe se deve inteiramente à aguçada compreensão de Murdoch sobre a mídia como negócio, como proposição comercial.

Ao adquirir o News of the World, em 1967, e o Sun, no ano seguinte, ele ilustrou sua capacidade de realizar negócios contra todas as probabilidades. Na primeira, ele se apresentou como salvador para combater a proposta de Robert Maxwell e desempenhou com perfeição seu papel de defensor do jornal e de seus melhores interesses.

Na segunda situação, convenceu os sindicatos de que sua proposta era a melhor esperança. Permitiu que os vendedores do Sun, que também controlavam o rival Daily Mirror, acreditassem que ele não representaria séria concorrência.

Todos – a família Carr, que lhe vendeu o News of the World; os sindicatos; Hugh Cudlipp, o chefão do Mirror e os céticos da Fleet Street – o subestimaram.

Desconsideraram sua determinação impiedosa e não foram capazes de compreender o cerne da abordagem: deixar que o mercado decida.

É um conceito aparentemente simples, mas era completamente desconhecido para os proprietários de jornais rivais no Reino Unido.

E eles assistiram, desagradavelmente surpresos, enquanto ele transformava o Sun de um jornal deficitário e pouco conhecido em uma empreitada imensamente lucrativa, ao encorajar o editor da publicação a desrespeitar as normas de bom gosto vigentes e determinar se o público se interessava pelas novidades.

Depois disso, aonde ir? O Sun se saía bem, mas continuava em desvantagem diante dos demais concorrentes. Murdoch queria avançar ainda antes que os lucros do Sun e do News of the World pudessem começar a ser realizados.

Incursões

De 1969 em diante, começou a comprar ações da London Weekend Television, um canal da ITV com lucrativa licença de operação para a Grande Londres, e terminou por controlar a maioria das ações da empresa. Depois, determinou mudanças de programação e de horários, tornou o LWT mais populista e ampliou sua audiência.

A empreitada levou a desentendimentos com elites e autoridades regulatórias.

Logo depois fez suas primeiras incursões no mercado norte-americano de mídia, adquirindo o San Antonio Express-News, do Texas, e criando um jornal em formato tabloide, o Star. Nos dois casos, usou jornalistas britânicos para mostrar aos norte-americanos como gostava que seus jornais operassem.

Ele não guardava segredo sobre seu desejo de expansão e provavelmente estivesse também em busca de respeitabilidade. A oportunidade de satisfazer os dois desejos surgiu em 1981, quando o grupo Thomson decidiu vender o Times e o Sunday Times, dois títulos prejudicados por problemas sindicais.

A tomada de controle não seria simples. Havia preocupações de interesse público porque a operação obviamente criaria uma concentração sem precedentes na propriedade de jornais britânicos, e todos supunham que a oferta de Murdoch seria encaminhada à Comissão de Monopólios e Fusões.

Murdoch não se deixou abater. Sabia, como sabiam os sindicatos, que sua oferta era a única viável e ameaçou retirá-la caso o secretário do Comércio, Jon Biffen, encaminhasse o caso à avaliação das autoridades regulatórias.

O trunfo de Murdoch era o governo. Por ter apoiado firmemente a campanha de eleição de Margaret Thatcher, dois anos antes, a primeira-ministra era uma de suas maiores admiradoras.

Nos anos seguintes, Murdoch se dedicou a duas ambições separadas – no Reino Unido domar os sindicatos dos gráficos enquanto introduzia tecnologia computadorizada nos jornais; e lançar uma rede de TV via satélite.

Parecia um sonho sem esperança, e Murdoch uma vez mais encarava oposição ‘oficial’ com a proposta para a criação da British Satellite Broadcasting.

As duas empresas não demoraram a começar a sofrer prejuízos pesados. A operação de Murdoch era mais popular e, ainda que ele tivesse de reduzir sua participação acionária quando as duas redes concorrentes se fundiram, saiu por cima.

A BSkyB é a maior das realizações de Murdoch. Ele teve a visão. Ele fez a aposta. Ele fez com que a ideia funcionasse. E continuará a colher as recompensas. O empresário veio, viu e venceu.

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Foi editor-assistente do Sun de 1981 a 1986