Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo sem ‘escolhas de Sofia’

A premiação das Escolas de Samba no Rio e São Paulo foi anunciada sem qualquer restrição. Nossa imprensa só consegue ser crítica em matéria política. Nos dois casos as vencedoras optaram por enredos biográficos de celebridades vivas, Roberto Carlos e o pianista João Carlos Martins. Isso chama-se pegar carona, puxa-saquismo. A força dos enredos das Escolas sempre repousou na originalidade. E na capacidade de transmitir visualmente temas instigantes. Homenagens póstumas ainda se justificam, mas a louvação dos vivos é puro marketing. No caso de Roberto Carlos não esqueçamos que o ‘Rei’ mandou apreender e queimar uma biografia escrita sem a sua autorização.


Morreram nas estradas do Brasil, neste Carnaval, 213 pessoas, um aumento de 50% com relação ao ano passado. O número de feridos chegou a 2.441. É assustador, sobretudo quando se sabe que o alcoolismo e a imprudência são os grandes responsáveis pelos desastres. Mas se a mídia fosse menos burocrática e mais veemente ao noticiar os grandes desastres, seria possível criar uma consciência nacional contra este morticínio. Logo no início do Carnaval um novo acidente com ônibus em Santa Catarina matou 27 pessoas. A mídia preferiu destacar a folia e escondeu a tragédia. A estatística só foi para as manchetes depois do Carnaval. Tarde demais.


A mídia brasileira mal conseguia cobrir um Tsunami, a onda de rebeliões no mundo árabe, e agora se afoga num segundo Tsunami, este verdadeiro, que se seguiu ao maior terremoto já sofrido no Japão e às ameaças de uma calamidade nuclear. O que é mais importante? Tudo é importante. O jornalismo do século XXI produzido pelo mundo globalizado para leitores globalizados não pode ser prisioneiro das antigas ‘escolhas de Sofia’ em que só cabia um assunto relevante. Hoje, tudo é relevante e se os editores não sabem conviver com esta diversidade, melhor desistir.