Enquanto o mundo compartilha a tragédia japonesa e assiste à epopeia de povos árabes, o Brasil, ou Bruzundanga, como queria Lima Barreto, se prepara para receber Barack Obama, pauta jornalística que crescerá como bola de neve no noticiário dos próximos dias. Na política local, o Partido Novo, criado por empresários, gasta 400 mil reais para se lançar, enquanto o DEM, capítulo final da Arena, o partido do regime militar, gasta 10 mil reais para tentar juntar os cacos e reagir à saída de Gilberto Kassab. Este vai criar um partido-trampolim, para não ter o mandato cassado, já que a infidelidade explícita passou a ser punível. Com apoio monolítico do PT, Barros Munhoz será reeleito nesta terça-feira (15/3), salvo acidente de percurso, presidente da Assembleia Legislativa paulista.
Essas notícias estão na mídia. Seria bom, entretanto, que viessem acompanhadas de análises capazes de mostrar como os problemas do quadro partidário de Bruzundanga retardam uma democratização mais ampla da sociedade.
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O debate econômico
Cristiano Romero, do jornal Valor, avalia positivamente a cobertura jornalística dos fatos gerados pelo governo, mas quer que a imprensa mostre as implicações previsíveis das decisões tomadas, assuma a vanguarda do debate sobre a economia.
Cristiano Romero – O que falta é mostrar um pouco as consequências de decisões que são tomadas em Brasília. Quando, por exemplo, o governo Lula negociou com as centrais sindicais essa regra de correção do salário mínimo, uma regra que estabelece que o salário mínimo tem que ser corrigido pela inflação do ano anterior mais a variação do PIB do ano anterior a esse, a imprensa tem a obrigação, na minha avaliação, de mostrar os impactos disso na economia. Você tem que cobrir o fato, mostrar: ‘a regra é essa’. Mas você tem que mostrar que essa regra traz um mecanismo de reindexação da economia que pode ter efeitos danosos sobre a inflação. Isso é obrigação da imprensa. Ela tem que mostrar quantas pessoas são beneficiadas por isso, mas também mostrar os impactos que isso pode ter na inflação. A gente não tem como fugir desse fato. Um aumento do salário mínimo muito acima da inflação já estabelece uma espécie de piso para a inflação do ano seguinte, porque pressiona muito os preços dos serviços. É um setor da economia onde não tem muita concorrência. Você não tem como importar cabeleireiro, restaurante, e esses preços são muito movidos pela pressão da demanda. A imprensa deveria ter um papel de vanguarda no debate econômico, no sentido de promover, de instigar esse debate, para deixar os leitores mais informados acerca dos vários aspectos das decisões tomadas em Brasília – a imprensa deveria liderar esse processo.