Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornalismo e o conteúdo pago

Por incrível que pareça, bem no momento em que discutimos – mais do que nunca – a criação de modelos econômicos alternativos e viáveis para se aplicarem ao jornalismo frente ao mundo digital, quem sai ganhando é o leitor do tradicional e condenado jornal impresso, de papel, aquele em que ninguém mais credita ciência, fé ou qualquer chance de se sobressair em um futuro não muito longínquo.

Pelo menos é isso que podemos traçar, em uma primeira análise superficial, sobre o novo sistema de pagamentos de um dos maiores jornais do planeta, o norte-americano The New York Times, ao anunciar que os leitores da edição impressa terão acesso ao conteúdo integral da versão online, gerando, de certo modo, um conforto e certo grau de segurança, pois além da excelente publicação de papel entregue todas as manhãs na porta de casa, o assinante não irá gastar nem um centavo a mais para consumir a opção digital.

Fato que não ocorre para quem quiser ser um consumidor informacional apenas digital e móvel. O Times irá cobrar taxas diferenciadas para quem já é assinante do impresso daqueles que querem acessá-lo de tablets, internet e celular, dando um ar de que quer manter seu público tradicional, mais velho, assinante do impresso, que talvez acesse bem menos a edição online, do que nativos digitais mais jovens e propensos a nunca assinarem a versão de papel.

Esperar para ver

Entretanto, um dos pontos mais importantes do sistema de assinaturas do Times foi a mixagem nas maneiras de acessá-lo. No novo estilo de conteúdo pago, quem consome mais pagaria, teoricamente, mais. Porém, o jornal oferece uma margem de 20 artigos gratuitos para serem lidos no mês e até cinco por dia para quem chegar ao jornal através do Google. Quem vier de links originados no Facebook e no Twitter poderia ultrapassar esse limite previamente imposto de 20 artigos mensais, o que deixa claro para o jornalismo mundial que o NYT leva muito a sério o tráfego que as redes sociais podem gerar em sua receita de publicidade.

De certo modo, o Times já tem uma passagem na cobrança de conteúdo, de 2005 a 2007. Com essa nova empreitada, talvez não seja muito arriscado apontar que o jornal pretende formular maneiras diferenciadas de rentabilizar seu conteúdo digital agradando a gregos e troianos. Explico: com flexibilizações e cobrança caracterizada, o jornal demonstra que sua missão é assegurar seus já fiéis leitores e atrair com pequenos investimentos atrativos um público extremamente digital, acostumado a buscar informações através de redes sociais e consumir tudo o que for possível da forma mais ‘móvel’ possível.

Talvez o novos sistema de assinaturas do New York Times deva ser acompanhado mais de perto e de forma mais atenciosa. Ao contrário do que muitos estudiosos apontam, o Times, aparentemente, não irá apostar no fechamento total de seu conteúdo online, muito menos na abertura integral do mesmo. O jornal tem demonstrado que arriscará algumas fichas da conciliação de todos esses meios, tanto no conteúdo pago quanto no gratuito e, principalmente, no alinhamento dos públicos impressos e digitais. É esperar para ver.

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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP