Os últimos acontecimentos internacionais nos âmbitos da política e da natureza – a crise do Oriente Médio e o tsunami sofrido pelo Japão, seguido de terremoto e vazamento em usinas nucleares – testam a resiliência das corporações e dos governos em relação aos geralmente belos valores que expressam em seus ideários, na forma de constituições e material institucional.
Diante do sofrimento produzido pelas ações de ditadores, acidentes industriais, desastres naturais e decisões empresariais balizadas pelo antigo paradigma financeiro, as palavras das administrações divulgadas são percebidas socialmente como meras abstrações ou padrões sólidos, coerentes com o prometido pela retórica, que orientam os comportamentos organizacionais.
As decisões nos ambientes de crises deveriam ser balizadas muito além da racionalidade e dos padrões estabelecidos pelo que se intitula governança corporativa tradicional. O que quer dizer que o tema dos controles organizacionais deveria não só tratar de prevenção, mas também de reparação. Uma perspectiva que soma os aspectos institucionais e estratégicos dos negócios e das gestões públicas.
O futuro a nós pertence
Do ponto de vista da sociedade, um posicionamento baseado no presente e que não deixa o futuro pertencer aos administradores e aos políticos. A gestão, incluindo a comunicação, passa a ser operada de maneira colaborativa, cooperativa e, não mais, persuasiva. O que significa que a concepção dos valores de uma empresa ou instituição será, cada vez mais, socialmente construída.
Um estudo dos professores John Brummette, Lynn M. Zoch e Randy Taylor, da Radford University, apresentado na Internacional Public Relations Research Conference, realizada, em março, em Coral Gables, Estados Unidos, discutiu o que vem balizando os ideários das empresas e identificou os principais grupos de valores professados frequentemente pelas 500 principais corporações mundiais, listadas pela revista Fortune.
Analisando as promessas dessas organizações, os professores da Radford University relacionaram segmentos de negócios e grupos de valores, colocados em ordem de maior frequência de aparição. E, no estudo apresentado essas relações assim se dão:
Setor de atividade | Grupos de valores |
Varejo | Responsabilidade, Governança, Eficiência |
Serviço | Qualidade, Foco no consumidor, Eficiência |
Manufatura | Eficiência, Qualidade, Experiência/Treinamento |
Transporte | Ética, Diversidade, Experiência/Treinamento |
Tecnologia | Responsabilidade, Ética, Inovação |
Agricultura e Alimentos | Transparência, Governança, Responsabilidade |
Financeiro | Equidade, Verdade, Eficiência |
Farmacêutico | Qualidade, Transparência, Ética |
Energia | Confiança, Diversidade, Transparência |
Os resultados encontrados pelo estudo dos professores John Brummette, Lynn M. Zoch e Randy Taylor mostram como é belo o mundo da retórica organizacional, onde o papel tudo aceita, e quanto trabalho devem fazer as administrações preocupadas verdadeiramente em legitimar socialmente aquilo que escrevem e divulgam para aproximar, no mundo real, técnica, ética e estética.
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Professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP), diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), autor de O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa e Tudo é Comunicação