Os assinantes da Folha de S.Paulo tomaram um susto na manhã de terça-feira (22/3), ao receberem o jornal com os cadernos aparentemente fora de ordem. Era apenas mais uma iniciativa do departamento comercial interferindo na organização da leitura: para destacar o lançamento de uma campanha da maior cervejaria do mundo, decidiu-se que o caderno ‘Mercado’ viria por cima de tudo, destacando a cor azul que domina o anúncio.
Mas a criatividade ficou limitada a esse movimento de papéis. O conteúdo do noticiário econômico não apresenta qualquer avanço em relação ao mesmo de sempre.
A Folha, como quase toda a imprensa brasileira, segue presa aos dogmas do chamado liberalismo econômico, segundo o qual tudo gira exclusivamente em torno do capital financeiro. A vulnerabilidade do sistema fundado sobre esse princípio, demonstrada na crise de 2008, vem produzindo mudanças profundas nos negócios, nas relações internacionais, nas instituições multilaterais e até no comportamento das pessoas. Paralelamente, a evidência dos problemas ambientais agrega novos valores a todas as atividades produtivas.
Debate pífio
A imprensa faz pequenas concessões diante desse cenário, mas não muda no essencial. Observe-se, por exemplo, como vem sendo tratada a questão do desastre nuclear que se seguiu ao terremoto e ao tsunami no Japão.
Imediatamente após a eclosão da catástrofe, manifestantes saíram à ruas em várias capitais do mundo para questionar as escolhas de seus governos por uma fonte de energia que pode provocar o fim da civilização. Mas sabe-se que a oferta de energia é essencial para países emergentes como o Brasil, que precisa se antecipar à crescente demanda. No entanto, o debate por aqui foi superficial e pífio, como se alguém pudesse afirmar que o conglomerado de usinas nucleares situado entre as duas maiores cidades do país fosse uma solução fora de controvérsias.
A questão nuclear
A imprensa, como instituição, arrasta ao longo do tempo certas crenças que só se diluem sob uma longa imersão na realidade. Uma delas é a de que a tecnologia tudo pode.
O desastre nuclear no Japão, cujas consequências ainda não são totalmente conhecidas, é um desses momentos em que a realidade impõe questionamentos. Mas o assunto se esvazia rapidamente nos jornais sem que se tenha produzido informação suficiente para o público fazer seus julgamentos.
O Valor Econômico chegou perto de se aprofundar na questão, na segunda-feira (21), quando trouxe para a manchete a proposta de um diálogo estratégico sobre energia, tema de um dos principais acordos firmados durante a visita do presidente americano Barack Obama ao Brasil, no final de semana.
Um dos textos informa que os dois países avançaram em conversações sobre a troca de tecnologia para ampliar a geração de energia através de usinas nucleares, ‘mesmo após o acidente com as usinas nucleares no Japão’.
A bola ficou quicando na área, mas até esta data a imprensa não esclareceu de que trata esse acordo ou colocou em debate essa escolha do governo.
Observatório na TV
Alberto Dines:
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tem uma das mais espinhosas tarefas deste primeiro ano da presidente Dilma Rousseff: iniciar o debate público sobre o marco regulatório para a mídia, contornando a situação de estresse que marcou os dois últimos anos do governo Lula. Marcos regulatórios ou regulamentações não significam intervenções nem controles. No caso da imprensa não significam ameaças à liberdade de expressão. O ministro Paulo Bernardo vai hoje ao Observatório da Imprensa na TV para explicar, ao vivo, como vê a questão. Não perca. Às 22h na TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo no canal 4 da NET e 181 da TVA.