A pesquisa ‘O Observador Brasil 2011’, divulgada na quarta-feira (23/3) pelo Estado de S.Paulo, revela que 31 milhões de brasileiros ascenderam na escala social em 2010. O trabalho, realizado pelo Instituto Ipsos Public Affairs, a pedido do grupo francês BNP Paribas, merece grande atenção dos analistas.
Juntamente com os últimos estudos sobre mobilidade social, realizados pelo IBGE e outras instituições, esse levantamento é fundamental para orientar o planejamento das empresas, dos responsáveis pelas políticas públicas e da própria imprensa.
Em sua 6ª edição, a pesquisa do Instituto Ipsos revela que os ganhos de renda produzidos no Brasil entre os anos de 2005 e 2010 foram tão significativos que chegam a tornar obsoleta a expressão ‘pirâmide social’, classicamente utilizada para definir uma sociedade formada por uma ampla base de cidadãos pobres e um cume de poucos privilegiados. O novo desenho da estrutura social brasileira é um losango, e tem como característica mais interessante a ampliação da classe média.
Informação e conhecimento
Em relação aos estudos divulgados anteriormente, é importante ressaltar, como faz o Estadão, que em 2010 os orçamentos das famílias brasileiras registraram em média sobras de R$ 360 por mês, resultado 60% maior do que o registrado no ano anterior. As classes de renda D e E foram as que tiveram o maior aumento da renda disponível, com crescimento de 70% em relação a 2009.
A renda disponível, como é chamado o montante que sobra depois de pagas todas as despesas do mês, é o motor do consumo para as famílias de menor renda, elemento consolidador da ascensão social.
Mas a pesquisa mostra também que o ganho de renda beneficiou todas as classes sociais, o que induz a uma série de ponderações, como o provável aumento no nível de investimentos das pessoas de renda mais alta – o que leva a prever incremento do mercado de ações e títulos, ampliação do mercado de luxo, aumento na frequência das viagens aéreas, melhoria do acesso à educação de qualidade.
Tudo isso é de interesse fundamental para os gestores da imprensa: esse novo perfil da sociedade brasileira abre uma oportunidade histórica para quem supostamente vive de oferecer informação de qualidade e conhecimento.
A pauta essencial
Mas as empresas brasileiras de comunicação estariam preparadas para esse novo Brasil?
O observador que tenha se ausentado do país por um mês, ficando ao largo do carnaval e do processo de ajustes no cenário político, que costuma ocorrer no início de um novo governo, certamente se surpreende com a mudança no tom do noticiário.
As reportagens sobre escândalos políticos não apenas se tornaram mais raras, mas principalmente parecem mais democráticas, atingindo indiscriminadamente partidos situacionistas e da oposição.
A rigor, para o leitor distraído pode parecer que o Brasil vive uma democracia sem oposição. Até mesmo a imprensa tradicional, que até poucos meses era chamada por alguns leitores exaltados de PIG – Partido da Imprensa Golpista – anda ronronando como gato castrado. Para o observador habituado à guerra midiática, a calmaria soa estranha demais.
No entanto, assim é nos países desenvolvidos: superados os grandes desafios da cidadania, a imprensa se dedica a temas mais sofisticados do que o bate-boca entre políticos. Ou, no caso da imprensa popular, a escândalos sexuais.
A pesquisa do Instituto Ipsos não afirma que o Brasil pode finalmente descansar em seu berço esplêndido. Pelo contrário: agora que o aumento da renda média dos brasileiros parece um fato consolidado e persistente, convém lembrar que consumo lembra desperdício, que lembra exploração de recursos naturais, que lembra risco para o próprio berço esplêndido.
Além disso, junto com o crescimento da renda aumenta a necessidade de incrementar o nível de educação dos cidadãos. Não apenas da educação formal, que comumente produz rankings e avaliações muito apreciadas pelos jornalistas. Falamos aqui da educação para a cidadania, que em resumo é o processo de estímulo ao desenvolvimento da consciência social.
A imprensa tem muito a ganhar com o Brasil que aparece nos estudos sobre mobilidade social. Mas também ela precisa se reciclar, aposentar velhos dogmas e preconceitos e se abrir para a compreensão do fenômeno que estamos testemunhando.
A pauta que, mais do que nunca, se impõe aos jornalistas tem uma pergunta essencial: o desenvolvimento do Brasil é sustentável?