‘O plágio é um dos pecados jornalísticos sem perdão’. A frase está no código interno de padrões e ética do Washington Post. O ombudsman Patrick B. Pexton tratou, na coluna desta semana [18/3/11], o caso da repórter veterana Sari Horwitz, vencedora de três prêmios Pulitzer, que violou esta norma duas vezes em uma semana. Sari copiou conteúdo do diário Arizona Republic nos dias 4/3 e 10/3 em matérias online, publicadas na versão impressa nos dias 5 e 11, sobre Jared Lee Loughner, homem acusado do tiroteio de Tucson, em janeiro – que matou seis pessoas e deixou gravemente ferida a congressista Gabrielle Giffords. Como resultado, a jornalista foi suspensa por três meses, sem pagamento.
O editor-executivo do Post, Marcus Brauchli, emitiu desculpas públicas e um pedido de desculpas em especial para o Republic e sua equipe. Assim que soube do plágio, no dia 14/3, por um email do jornal, ele investigou o caso e rapidamente tomou medidas para punir Sari.
Roubo
Para Pexton, plágio é roubo. O ombudsman conta que cresceu no jornalismo trabalhando em publicações menores que competiam com os grandes jornais – com muito mais recursos e repórteres – mas que conseguiam, por vezes, furar os rivais. Ele lembra que, regularmente, via repórteres dos grandes jornais roubando material dos pequenos.
Por isso, Pexton se solidariza com o Arizona Republic e com Dennis Wagner, repórter que escreveu a matéria que foi plagiada. Ele fez os telefonemas, apuração e escolheu as partes mais interessantes dos documentos da corte divulgados sobre Loughner. ‘Não é incomum que você veja material copiado. Mas, quando vi que era idêntico, tanto na estrutura e palavras, fiquei perplexo’, contou o repórter.
Wagner e sua editora, Kristen DelGuzzi, analisaram outras matérias de Sari, mas não encontraram mais exemplos de plágio. O Post também fez uma pesquisa abrangendo uma década de trabalho da repórter e não encontrou nenhum outro plágio. Ainda assim, o dano foi feito. ‘É ruim porque prejudica a credibilidade não apenas do Post, mas dos jornalistas em geral’, opinou Wagner.
Mas, por que uma vencedora do Pulitzer tomou uma atitude destas? Em entrevista, Sari disse que, como nativa de Tucson, se importa com sua cidade natal e se ofereceu para ser a única repórter fazendo o follow-up das matérias de lá. Segundo seus colegas, ela estava sob pressão para abastecer o site e ainda tinha que ajudar a mãe, que mora em Tucson, com problemas de saúde. Scott Higham, seu colaborador em matérias investigativas, afirmou que a conduta de Sari foi atípica. ‘Ela é uma repórter surpreendente, meticulosa e a pessoa mais ética que conheço. Isto foi uma completa aberração’, disse. ‘Esta é uma boa lição para respirarmos e diminuirmos o ritmo’.