Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasil corre para adotar novo padrão de internet


Folha de S. Paulo, 26/3


Camila Fusco


Brasil corre para adotar novo padrão de internet


Formato IPv6 mobiliza empresas, mas apenas um quarto delas já se adaptou. Mudança acontece porque o número atual de códigos distribuídos pelos provedores está próximo de se esgotar


Operadoras de telefonia e portais de conteúdo brasileiros correm contra o tempo para se preparar para o novo padrão mundial de navegação na internet.


Com o esgotamento dos endereços IP atuais -conjunto de números e códigos distribuídos pelos provedores no ato da conexão-, as empresas enfrentam o desafio de preparar sua infraestrutura para o novo padrão, previsto para vigorar em pouco mais de um ano.


Das 800 companhias que distribuem protocolos IP para os cerca de 75 milhões de internautas, apenas 200 estão preparadas para o novo formato, chamado IPv6.


‘Temos 16 meses para aprontar toda a cadeia. O formato permitirá que novos internautas naveguem. Sem ele, a internet não cresce’, diz Frederico Neves, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, que distribui os endereços no país.


Segundo Neves, esse é o tempo que deve durar o estoque do padrão atual, o IPv4, hoje com 25 milhões de endereços disponíveis para a América Latina. O Brasil vai consumir 50% desse volume.


A primeira ponta da preparação para o novo formato de endereços vem das empresas provedoras de acesso à internet, com instalação de equipamentos e treinamentos.


Embora não confirmem números, as operadoras não devem gastar pouco. Os esforços de preparação da rede, segundo estimativas de órgãos americanos para países emergentes, devem custar cerca de US$ 1 bilhão.


A Telefônica afirmou que começou a implantar IPv6 em 2011 e a expectativa é preparar a rede em até dois anos. Hoje a operadora tem 3,3 milhões de usuários do Speedy e beira 300 mil endereços de redes corporativas.


‘São necessários novos sistemas, alterações de configuração e até equipamentos para chegar até a distribuição do IPv6 ao usuário’, diz o diretor Ari Falarini.


Já a Net informou que estuda e testa o IPv6 desde 2008. GVT e Embratel disseram estar se preparando.


Portais


Ao lado dos provedores de acesso, estão os portais que compõem a internet com textos, fotos e vídeos. Como o padrão IPv6 é diferente do atual, todo o conteúdo precisará ser adaptado. Isso é feito sobretudo por meio de configurações, software e equipamentos de redes.


‘É um projeto extenso que lembra o bug do milênio’, afirma Enildo Barros, diretor de engenharia e infraestrutura do UOL, portal controlado pela Folhapar, integrante do Grupo Folha, que publica a Folha e o ‘Agora’.


Na ocasião do bug do milênio, houve a preparação dos computadores corporativos para, entre outras coisas, ‘compreender’ o novo milênio e os dígitos do ano 2000 e continuarem trabalhando.


Segundo o executivo, a preparação envolve migração de sistemas e servidores. Há dois anos a empresa vem trabalhando no protocolo e, hoje, mapeia a infraestrutura que determinará as aquisições de equipamentos.


O Terra há dois anos prepara o portal. ‘Teremos um equipamento que identifica o endereço do usuário e entrega o conteúdo em IPv4 ou em IPv6’, afirma Ruy Neto, gerente de tecnologia.


O iG informou que em um mês publicará os principais conteúdos no novo formato.


O padrão IPv4 rendeu cerca de 4,3 bilhões de endereços. O novo padrão permitirá a conexão de centenas de vezes mais pessoas (39 seguido de 37 zeros).