É pouco? Não, não é pouco: como a concorrência no setor de TV a cabo é muito pequena, o preço que o consumidor brasileiro paga por seus serviços é um dos mais altos do mundo (e o que recebe em troca não chega a ser nenhuma maravilha). Multiplicando-se este preço alto pelo número de assinantes, chega-se a uma quantia imensa. Definitivamente, não é pouco.
E é isso que está em jogo: a Justiça Federal decidiu proibir a NET de cobrar por ponto extra na região de Marília, SP. A NET não poderá também cobrar aluguel dos decodificadores. A coisa fica assim: quem assina a TV a cabo tem direito de solicitar, sem qualquer custo extra, a qualquer título, a instalação de mais pontos no mesmo endereço. A ação foi proposta pelo Ministério Público Federal.
Então, por que a imprensa ficou tão quieta a respeito de uma decisão judicial que pode mudar esse panorama? Boa pergunta: talvez os meios de comunicação achem que, em instâncias superiores, o oligopólio das TVs a cabo conseguirá reverter a decisão; talvez acreditem que uma decisão que atinge apenas 14 municípios numa das regiões mais ricas de São Paulo não merece espaço nem tempo em seus noticiários. Talvez a notícia lhes tenha passado despercebida.
O fato é que, efetivamente, a decisão pode ser revertida em instâncias superiores; mas é fato também que, por enquanto, está em vigência. De acordo com a sentença do juiz Luiz Antônio Ribeiro Martins, a multa diária por descumprimento da decisão é de R$ 1 mil. E, sendo uma decisão federal, pode ser facilmente estendida a todo o país, tão logo o Ministério Público o solicite. Será uma boa economia para os assinantes; e será uma medida correta. Valeria a pena colocar os repórteres no caso, até para identificar os limites da boa notícia.
Por que a medida é correta? Imagine uma empresa como, digamos, a Bic, que distribui canetas, pilhas, lâminas de barbear, uma imensa gama de produtos. A Bic busca, pelo aumento do volume de produtos, diluir o custo da distribuição. Por que isso não vale para as TVs a cabo? Por que, a cada item, cobra-se como se houvesse uma compra avulsa, e não um pacote, em que vários custos da operadora são compartilhados?
Reportagem neles, pois. Não é sempre que temos uma boa notícia nos nossos veículos de comunicação. A Anatel (sim, existe!), que é que acha disso? Que é que acha da sentença que considera que o serviço colocado à disposição dos consumidores ‘está sendo realizado de forma irregular e abusiva’?
E, além disso, é preciso dar ao pessoal da TV a cabo o espaço e o tempo de que precisa para divulgar a sua posição. Quem sabe não consigam explicar o alto preço das assinaturas de TV a cabo no Brasil?
A cada um o que é seu
Num comentário publicado em seu blog ‘Conversa Afiada’, o blogueiro Paulo Henrique Amorim critica o pioneiro dos blogs políticos do Brasil, Ricardo Noblat. Até aí, tudo bem. Mas a coisa desanda na área dos comentários do ‘Conversa Afiada’: alguém, como de hábito oculto por um pseudônimo (ou nick), desandou para a área das ameaças pessoais. Um certo ‘Pereira’ diz que vai comprar um AK-47 (fuzil de guerra, fartamente utilizado também por traficantes brasileiros) ‘e o primeiro tiro será na cara do Noblat, em seguida em seus patrões, comprar armas está fácil, agora é logo ali no vizinho Paraguai, já estou começando a mobilização, enfim uma guerra civil para acertar as contas passadas’. Outro, que se assina ‘Digger’, ameaça: ‘Eles que não se atrevam numa tentativa golpista, porque vai escorrer muito sangue pelo solo de nossa pátria chamada Brasil’.
Paulo Henrique Amorim pediu desculpas e disse que os comentários (logo retirados do blog) eram inaceitáveis. Assunto encerrado? Não: as declarações de ‘Pereira’ e ‘Digger’ podem levar a processos-crime. E o assunto só estará encerrado quando a internet exigir dos que a utilizam uma identificação para que possam ser responsabilizados, civil e criminalmente, pelo que escrevem. É lindo defender um território livre de restrições, sem interferências legais – mas não podemos esquecer que o far-west americano já foi exatamente isso, uma terra sem lei. Terra sem lei só é bom para quem anda armado.
A internet abre caminho para um velho sonho, o do jornalismo sem patrão; abre caminho para que todos possam manifestar-se sem autorização do dono das máquinas. Mas não pode abrir caminho para a falta de responsabilidade, para o insulto e a ameaça acobertados pelo anonimato.
O Brasil sem censura
Como já disse um juiz famoso, a Constituição não passa de um papel. E estamos deixando que ele tenha razão:
1.
O Estado de S.Paulo continua sob censura há quase um ano, a pedido de Fernando, o filho do senador peemedebista José Sarney encarregado de administrar o patrimônio da família. Objetivo: impedir que o jornal noticie irregularidades sobre o império dirigido por Fernando Sarney apuradas pela Polícia Federal, na Operação Boi-Barrica (hoje, por algum motivo, com nome mudado para Operação Faktor);2.
O Diário do Grande ABC está sob censura, a pedido do prefeito petista de Santo André, Luiz Marinho. Objetivo: evitar a publicação de reportagens mostrando que mobília escolar em bom estado está sendo encaminhada para reciclagem, abrindo caminho para novas compras.3.
Nos dois casos citados, a censura prévia, embora vá contra a Constituição Federal, foi determinada por juízes. No caso que se segue, a formalidade foi dispensada: Gilvan Luís, editor do jornal semanal Sem Nome, de Juazeiro do Norte, Ceará, foi sequestrado e agredido por quatro homens encapuçados, que ainda lhe enfiaram um revólver na boca. Objetivo: não se sabe com certeza. Mas o Sem Nome acusa o prefeito de Juazeiro do Norte, Manuel Santana, do PT, de superfaturar R$ 3 milhões em reformas de escolas; e mostrou que a esposa do vereador Roberto Sampaio, do PSB, recebeu Bolsa-Família entre 2004 e 2008, mesmo não se enquadrando em nenhum dos parâmetros necessários para o recebimento.4.
Os repórteres Felipe Pereira e Flávio Neves, do Diário Catarinense, e Rafael Faraco, da RBS TV, foram agredidos com cassetetes e presos pela PM catarinense quando cobriam manifestação de estudantes contra o reajuste das tarifas de ônibus de Florianópolis. Os três foram levados de camburão, algemados, para uma delegacia de polícia, onde os PMs agressores, fazendo-se passar por vítimas, ainda os denunciaram por desacato à autoridade. A Polícia Civil e a PM de Santa Catarina estão sob a autoridade do governador tucano Leonel Pavan.
E eu com isso?
Maradona, ao prometer desfilar pelado na Argentina se for campeão do mundo (só essa medonha perspectiva já é suficiente para torcer contra os argentinos na Copa), não está sendo nada original: apenas segue uma tendência que cresce no mundo.
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‘Sem perceber, australiana ajuda a apagar incêndio de topless’Tash Bennett, 27 anos, bonita, tomava sol quando percebeu o incêndio. Saiu correndo para ajudar. E só depois notou que tinha esquecido a parte de cima do biquíni. Sem problemas: como o pássaro que combatia o fogo, ela fez sua parte.
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‘Padre preso nu e bêbado no PR admite que dirigia embriagado’E ainda por cima tinha oferecido dinheiro a um garoto de 15 anos para obter favores sexuais. A notícia, infelizmente, é incompleta: não esclarece quais.
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‘Turista dorme nu na praia e leva picada de aranha venenosa no pênis’Foram 16 dias de hospital, mas o jovem passa bem e está inteiro.
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‘Americano é flagrado caminhando nu em rodovia com calcinha na cabeça’**
‘Homem anda nu pela rua e diz que Deus o mandou arrancar as roupas’Local? Claro: essas coisas sempre ocorrem nos Estados Unidos.
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‘Idosa de 89 anos posa de `garota do calendário´’Christiane Luckardt será a Miss Setembro num calendário beneficente. Está feliz: ‘Sinto-me numa adolescência tardia’.
Christiane não sabe, mas por pouco não perdeu a primazia para mulheres brasileiras. Playboy já quis Hebe Camargo, há uns vinte anos; Hebe não quis. E a edição brasileira de Penthouse pensou em Dercy Gonçalves na capa. Dercy, com mais de 90 anos à época, topou; mas a revista morreu antes de realizar o sonho.
Como…
De um grande jornal:
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‘Dunga libera sexo, mas só nas folgas’Dunga tem razão: na hora do jogo ia ficar esquisito.
…é…
De um portal noticioso de internet:
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‘Molecada anda bebendo vodca pelo olho’Na verdade, o que os maluquetes fazem é pingar a vodca no olho, como se fosse colírio. As reportagens sobre os riscos de beber vodca pelo olho não se justificam, portanto – a menos que o redator tenha pensado em coisas mais escabrosas como sinônimo de ‘olho’.
…mesmo?
De uma importante agência de notícias:
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‘Ex-PM é o principal suspeito de advogada que desapareceu’Deve fazer sentido, ou não publicariam. Alguém deve saber do que se trata.
Mundo, mundo
A notícia vem da cidade escocesa de Inverurie: dizem que o cachorro dribla, cabeceia e chuta com as quatro.
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‘Cão vira atração na Escócia por jogar futebol’Além disso, deve ser disciplinadíssimo, certamente cumpre ordens sem discutir, jamais pensaria em desobedecer ao técnico. Ainda bem que não é brasileiro.
E eu com isso?
Muitas vezes, debaixo da aparência frufru, surgem notícias importantes.
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‘Pesquisa diz que 15% dos motoristas já fizeram sexo enquanto dirigiam’Este colunista já trabalhou com uma jovem que garantia ter descido a Estrada Velha do Mar, antigo e tortuoso caminho que ligava São Paulo a Santos, no colo do namorado, que guiava enquanto faziam sexo. Ninguém acreditava nela. Mas, diante das estatísticas, quem sabe a moça não tinha razão?
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‘Carro leva multa enquanto mulher dá à luz lá dentro’Tudo bem, a multa deve ter uma justificativa. Mas a autoridade que a aplicou não deve saber nem quem é a sua mãe.
E às vezes, debaixo da aparência frufru, o que há é frufru mesmo.
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‘Sarah Jessica Parker exibe mão esquelética em Londres’**
‘Taís Araújo foge do tapete vermelho’**
‘Elton John não sabe cozinhar’**
‘Deborah Secco é clicada resolvendo coisas do dia a dia’**
‘Britney Spears `vai ser congelada´ quando morrer, conta amigo dela’**
‘Acompanhante de Sabrina Boing Boing vai a festa de salto alto’**
‘Garçonete é demitida porque reclamou no Facebook de gorjeta’**
‘Professora se engana e entrega pornô para aluna em vez de DVD de fotos’
O grande título
Há uma boa safra. Comecemos por uma data que se aproxima:
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‘Dia dos Namorados – expectativa de 12%’Sempre há alguém que entenderá do que é que se trata.
Continuemos com aquelas coisas que sabe-se lá por que acontecem:
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‘Abrigo lança campanha de doação de Viagra para pitbull’Quem dá o remédio para o bicho? Quem fica perto dele depois?
Há aqueles títulos em que o redator já se defende ao escrever:
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‘Suspeitos explodem caixa eletrônico na zona leste de São Paulo’Se ‘explodem’, não são ‘suspeitos’. Se são apenas suspeitos, ‘teriam explodido’. Mas não são suspeitos, não: foram flagrados quando explodiam o caixa. A Justiça decide se são criminosos ou não, mas que explodiram o caixa, explodiram.
E há o grande título:
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‘Dinossauros chifrudos também viveram na Europa’E por que os chifrudinhos teriam se restringido só a outros continentes?
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados