O Jornal Nacional, da TV Globo, veicula reportagens sobre os 23 convocados do Brasil para a Copa do Mundo de futebol. Com músicas emotivas, entrevistas chorosas e sem contestação, os vídeos são instrumentos publicitários no espaço jornalístico para incentivar o telespectador a assistir à Copa pela própria Globo.
O JN não informa se o jogador está em boas condições técnicas e físicas, se o titular tem reserva a altura, se o Brasil treina fundamentos, se a comissão técnica estudou a seleção adversária. O programa não passa as divididas estabanadas de Felipe Melo, as jogadas perdidas de Robinho, a inércia de Doni no banco da Roma, a incapacidade de o time vencer em casa Bolívia e Colômbia.
O JN mostra o assovio do pai que o atleta escuta em campo, o apelido de infância do lateral, a opinião – evidentemente favorável – da mãe sobre o filho jogador, o desgosto do zagueiro pelo próprio nome.
Após ver uma das reportagens, um torcedor avesso à lista de Dunga comentou comigo, ‘Não gosto desse time, mas vendo as histórias dá uma vontade de torcer’. Esse é o intuito da emissora: propagandear a própria programação (com o perdão da aliteração e do eco), mesmo que isso sacrifique o dever jornalístico.
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A Folha de S. Paulo mudou o projeto gráfico, tanto da [versão] impressa quanto da online. É pelo menos a terceira mudança em cinco anos. O jornal passou da sobriedade ao estilo internet até chegar à configuração atual, que mais parece versão html mal carregada.
A mudança traz novidades revolucionárias como a troca de FolhaOnline por Folha.com e do nome das editorias de Brasil para Poder, Dinheiro para Mercado. Agora vai. Nos textos sobre a nova Folha, jornalistas exaltam as notícias menores, alegando que o leitor não tem paciência para as maiores, e o conteúdo mais analítico. Pergunto-me como escreverão textos aprofundados se aumentaram o tamanho da letra e das fotos, diminuindo o espaço das palavras. Haja síntese.
Acostumar-nos-emos ao layout, resigno-me; apenas não vejo o motivo de mudanças tão frequentes. Nem tudo o que é novo é bom, nem tudo o que é antigo é ruim. Investir na tradição é também vantajoso, embora no Brasil não tenhamos tradição de conservar a tradição. Tivemos várias Constituições e remendamos a atual a toda hora; tivemos vários regimes, várias maneiras de a seleção de futebol jogar. Enquanto isso, os americanos conservam a mesma constituição e moeda de duzentos anos atrás, assim como a França mantém o código civil de Napoleão.
Se a mudança da Folha simboliza o futuro, erros de conteúdo no primeiro dia da nova cara simbolizam o pessimismo. Vide o crime ‘em fragrante’ descrito numa matéria da Folha.com (Guilherme Sousa Rocha, jornalista, servidor público, Taguatinga, DF)
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Na reportagem da última edição da revista Veja, de 2 de junho de 2010, intitulada ‘Depois de 148 dias… chega o 1º dia livre de impostos’, vê-se uma estranha conclusão retirada de dados obtidos para o livro O Dedo Na Ferida: Menos impostos, Mais Consumo, do cientista político Alberto Carlos Almeida.
A matéria mostra, na página 208, um quadro com perguntas feitas pelo instituto Análise sobre a opinião dos brasileiros sobre os impostos. Uma delas questiona: para criar mais empregos, o que daria mais certo? Cobrar menos impostos ou reduzir juros? A primeira opção recebeu 68% dos votos e a segunda, 27%, sendo que 5% não souberam opinar.
Mais adiante, na página 209, a revista reformula sutilmente a pergunta e conclui com os dados da pesquisa:
‘Para estimular o emprego, qual a alternativa mais eficaz: diminuir os encargos trabalhistas ou reduzir a taxa de juros? A grande maioria dos entrevistados (68%) indica a primeira opção. Nisso, a propósito, a população concorda com os empresários. Uma pesquisa feita pelo Ibope sob encomenda da Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo, mostrou que 65% das empresas citam o sistema tributário como a maior trava ao aumento de investimentos.’
Uma leitura superficial levaria as pessoas a acreditar que a população acredita que uma medida eficaz para a criação de empregos seria a redução dos encargos trabalhistas. Ora, além da pergunta não mencionar os encargos trabalhistas, nos quais estão incluídos os direitos que o trabalhador tem, mesmo que a resposta dos entrevistados fosse em relação a estes encargos, nenhuma conclusão positiva poderia se retirar disso.
Menos encargos trabalhistas resultaria em menos benefícios ao trabalhador. Logicamente, a empresa lucraria mais e poderia contratar mais gente. Seriam mais empregos com qualidade menor. Se me fizessem esta pergunta, também responderia o que a maioria disse, mas seria obrigado a ressalvar que isso não é bom para o país.
Paradoxalmente, na mesma revista, a matéria ‘A Maçã de Ouro’ (página 186) apresenta uma sub-matéria intitulada ‘Vale do Suplício’, que mostra que boa parte do lucro de empresas como a Apple (assunto da matéria) vem do uso de mão-de-obra barata dos países asiáticos, no caso a China. Acho que a melhor conclusão da pesquisa se localiza nesse pequeno trecho que mostra o drama dos trabalhadores chineses. (Nelson Vitor Pereira Júnior, metalúrgico, Campinas, SP)
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O Brasil é um Estado Democrático de Direito, certo? Democracia também é liberdade de escolha bem informada, certo? Notadamente, a Sociedade Brasileira não está sendo bem informada sobre todos os pré-candidatos a Presidente da República do Brasil. Nossa Democracia está amadurecendo, evoluindo. Na contra-mão, os agentes responsáveis por bem informar assumem atitude de não cobrir isonomicamente todos os pré-candidatos. Tal atitude abre espaço para abusos de poder político e econômico manobrar arbitrariedades. Como cidadão brasileiro, pai de família, que aspira a um Brasil cada vez mais democrático e justo para nossos filhos e descendências, peço atenção para este particular de nossas eleições. Caso esteja errado nesta minha percepção, por favor, me informem, a fim de que eu proceda meu ajuste de conduta. (Ed Garcia, professor, Goiânia, GO)
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A cobertura feita na segunda-feira (31/5) pelo Jornal Nacional do ataque ao comboio humanitário foi claramente pró-israelense. Os jornalistas deram uma ênfase desmedida e quase laudatória à versão oficial do governo de Israel. A matéria admitiu que os barcos foram abordados por militares fora das águas territoriais israelenses, mas não extraiu deste fato a consequência necessária.
Pela legislação internacional em vigor, qualquer membro da ONU (este é o caso de Israel) só pode usar a força militar de maneira legítima em duas hipóteses: (1) para se defender de um ataque ao seu território; (2) mediante autorização expressa do Conselho de Segurança da ONU.
Os militares israelenses abordaram os navios fora das águas territoriais de Israel e o país não tinha autorização do Conselho de Segurança da ONU para usar a força bruta. Portanto, a abordagem israelense foi ilegal. A reação das pessoas que estavam no navio era previsível e pode ser considerada legítima, pois estavam sendo vítimas de uma injusta agressão militar. Portanto, nem a reação dos tripulantes dos barcos justificaria o uso da força.
Israel não respeitou a lei internacional e agiu como um verdadeiro Estado fora da lei. Em razão da jurisprudência internacional, os israelenses deveriam ser tratados com rigor: isolamento diplomático, sanções econômicas e ocupação por tropas da ONU. Entretanto, se depender dos pupilos de Ali Kamel, Israel continuará a ser tratado como um Estado ‘mais igual’.
A irritante insistência da Globo de divulgar meias verdades, de distorcer os fatos e de ignorar o Direito Internacional para justificar os abusos e brutalidades cometidas por Israel dá o que pensar. O que os cidadãos brasileiros devem fazer para obrigar a Globo a produzir menos propaganda israelense e mais jornalismo? Apoiar a revogação da concessão atribuída ao clã Marinho que possibilita a Globo explorar uma banda pública de sinal televisivo? (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)
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Jornalista e servidor público, Taguatinga, DF