Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Religiões recebem cuidado excessivo, diz cartunista


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 7 de junho de 2010


 


CARTUM


Fábio Zanini


Religiões são tratadas com cuidado excessivo


‘Um desenho de Maomé deitado no divã, reclamando que seus seguidores não têm senso de humor. A reação dos muçulmanos mostrou a exatidão do cartum: protestos e ameaças anônimas contra seu autor, o sul-africano Zapiro, 52, nome artístico do cartunista Jonathan Shapiro. O Conselho de Juristas Muçulmanos da África do Sul chegou a alertar para a possibilidade de retaliação durante a Copa do Mundo, que se inicia nesta semana.


Em entrevista por telefone, Zapiro, que vive na Cidade do Cabo, diz que é preciso reafirmar os direitos de cartunistas no mundo todo.


‘Eu sinto que as religiões são tratadas com cuidado excessivo pela sociedade. Acho difícil aceitar isso’, afirma.


Folha – O sr. imaginava a repercussão de seu cartum?


Zapiro – Depois do que aconteceu em 2005 na Dinamarca, sabia que iria criar algum tipo de agitação. Mas pensava que ia me safar sem tanto furor. Avaliei mal.


O sr. teme virar uma versão sul-africana de Salman Rushdie [escritor indiano ameaçado de morte por ter feito um livro considerado profano]?


Recebi ameaças, mas é difícil dizer se são sérias. Comuniquei à polícia, que está investigando. Não quero ficar paranoico.


E o argumento de que a religião deve ser respeitada?


Levei isso em consideração, mas obviamente considerei outras coisas mais importantes, aspectos de liberdade de expressão e de direitos humanos. Sinto que as religiões são tratadas com cuidado excessivo pela sociedade. Acho difícil aceitar isso.


É a hora de os cartunistas declararem guerra ao radicalismo muçulmano?


Não gostaria de encorajar pessoas a encararem isso como uma grande e única campanha. No caso do profeta Maomé, há séculos de belas ilustrações sobre ele, na Índia, na Turquia, no Irã.


Não há nenhum lugar no Corão dizendo que o profeta não deve ser desenhado.


Cartunistas de uma forma geral devem respeitar limites?


Cartunistas devem alargar os limites. Não temos um direito maior do que os outros, mas temos um grau mais alto de irreverência e potencial de causar ofensa. Devemos estar sujeitos aos mesmos tipos de controle.


É, em linhas gerais, o que a ONU define de ‘discurso do ódio’, sujeito a controle.


Sempre lembro dos cartuns antes do genocídio em Ruanda [em 1994] que estimulavam as pessoas a ‘matarem as baratas’ [referência à minoria tutsi].


E o em que o sr. mostra o presidente Jacob Zuma se preparando para estuprar a Justiça?


Sobre esse não tenho nenhuma reserva. No desenho, a figura da Justiça é simbólica. Uma metáfora.


O sr. satirizou muitas vezes o ex-presidente Nelson Mandela. Qual a dificuldade de fazer isso a alguém visto como um santo vivo?


Não é fácil, mas não é impossível. Em 1995, fiz meu primeiro cartum sobre ele.


Um ativista antiapartheid foi pego num escândalo de corrupção e ia ser preso, mas foi presenteado por Mandela com o cargo de embaixador em Genebra.


Fiz um cartum dele como um gigante, com uma auréola caindo num precipício, e um guindaste tentando puxá-la de volta.


Imagino que seja bem mais fácil com Zuma.


Claro! É bem mais fácil com alguém que tem vários defeitos e que pode ser engraçado em várias ocasiões.


E quanto à Copa do Mundo? Dará muito material para o seu trabalho?


Há muito que satirizar no futebol. A começar da nossa seleção, que sempre esteve perto do número 90 do ranking da Fifa.


Recentemente melhorou um pouquinho, para número 80 [83ª posição em maio]. Em 1996, o Bafana Bafana [apelido da seleção] foi número 20.’


 


 


Artista coleciona polêmicas e sofre processo de Zuma


‘Polêmicas são comuns nos 23 anos de carreira de Zapiro. O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, é um alvo frequente, sempre desenhado com um chuveiro sobre a cabeça.


É uma sátira a uma explicação sua de por que não se preocupou ao ter uma relação sexual com uma mulher com Aids, sem proteção. ‘Tomei uma ducha depois’, disse.


Em 2008, Zapiro desenhou Zuma preparando-se para estuprar uma mulher representando a Justiça.


O presidente, que fora absolvido num processo por estupro, está processando Zapiro, que disse ser uma metáfora com a politização do Judiciário.


Outras figuras também frequentam suas charges.


Ele desenhou o papa Bento 16 preso em uma camisinha, em referência à sua oposição ao preservativo. ‘Quando o mundo finalmente terá proteção’, diz a legenda. Judeu, ele também é um crítico das políticas de Israel em relação aos palestinos. Seus trabalhos podem ser vistos no site zapiro.com.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Contra Brics, mais armas


‘Ecoando nos EUA, das agências à ‘Harper’s’ e em artigos do próprio autor na ‘Foreign Policy’ e no ‘Wall Street Journal’, ‘O Fim do Livre Mercado’, de Ian Bremmer, da consultoria de risco político Eurasia, saiu finalmente no ‘New York Times’, ‘Uma guerra por corações e mentes, economicamente falando’.


Estatais chinesas e russas e as ‘rivais americanas’, resume o jornal, disputam hoje ‘corações e mentes de gigantes como Brasil e Índia’. E o ‘maior temor’ do autor é que os ‘Brics negociem mais entre si e deixem os EUA de fora, no frio’. Mas ‘o que fazer?’. Segundo o ‘NYT’, Bremmer propõe ‘que os EUA elevem gastos militares e atuem como a polícia do mundo -o que Bric nenhum está equipado para fazer, ainda’.


//EUA VS. BRASIL


Na Reuters, ‘secretária de Estado inicia viagem à América Latina, buscando suavizar relações apesar de disputa crescente com a potência Brasil’. Na France Presse, ‘turnê por laços maiores de segurança e comércio, apesar da fricção com a potência Brasil’.


A americana AP mal cita o Brasil, mas destaca que um assistente de Hillary, Arturo Valenzuela, questionou que ‘há alguns países que acreditam que Honduras precisa dar mais passos’ para voltar à OEA, ‘o que é uma posição diferente daquela dos EUA’. O ‘NYT’, por fim, na reportagem ‘América Latina está dividida sobre o golpe em Honduras’, sublinha a resistência ‘especialmente do Brasil’, mas também do México, ‘para grande frustração de Washington’.


Conselho Os EUA querem votar as sanções ao Irã em duas semanas, no Conselho de Segurança, segundo as agências. E o Huffington Post deu análise sugerindo que Turquia e Brasil trabalhem para ‘atrasar a resolução apoiada pelos cinco membros permanentes’ -o que exigirá que os dois estejam ‘prontos para enfrentar ameaças dos EUA’.


Inquérito Saiu no ‘Guardian’ e ecoou na BBC Brasil a notícia de que os mortos do ataque de Israel ao navio Mavi Marmara ‘levaram tiros na cabeça, a curta distância’. Já é resultado da ‘investigação turca’. Manchete do G1, por outro lado, ‘Israel rejeita inquérito externo sobre ataque’.


Erdogan… O turco ‘Hurriyet’ noticiou declarações amistosas da Casa Branca sobre temas como o ataque de Israel e até o Irã. Já o ‘Washington Post’ e o ‘NYT’ publicaram editoriais agressivos contra o primeiro-ministro Erdogan, por levar a ‘retórica longe demais’, cobrando uma reaproximação. Os nove mortos no ataque de Israel eram turcos.


E Lula Saiu no site tailandês Asia Times o post ‘Brasil e Coreia do Norte: irmãos em comércio’, afirmando que ‘indícios recentes’ apontam o Brasil do ‘esquerdista Lula’ como ‘aparentemente o maior aliado comercial’ norte-coreano. Destaca que o país teria apoiado Carlos Marighela nos anos 60.


//BRASIL VS. EUA


Na cobertura sem fim do vazamento no Golfo do México, o ‘NYT’ destacou a reportagem ‘Com a paralisação das perfurações, as perdas podem se multiplicar’. Em suma, segundo a Associação de Petróleo e Gás de Louisianna, ‘a maior preocupação é que os proprietários e operadores dos equipamentos acabem cancelando seus contratos e levando as operações -em massa- para as costas da África e do Brasil’.


E a ‘Foreign Policy’ postou, com manchete no site, que a ‘motivação de Lula’ no acordo com Turquia e Irã ‘pode ser bem menos complicada’ do que se vem especulando. Para Gal Luft, diretor do Instituto para Análise da Segurança Global, de Washington, a tarifa para importação do etanol brasileiro, nos EUA, estimulou o país a buscar novo mercado: o Irã.


‘THE KING’ Em alto de página, o ‘NYT’ marcou seu especial de domingo sobre a Copa com longo perfil de Pelé, ainda ‘A última palavra num mundo mudado’’


 


 


DIREITO AUTORAL


Editorial


Herdeiros da arte


‘Descendentes de um grande escritor brasileiro já desaparecido tentaram evitar que uma publicação veiculasse fotografia do pai com um determinado tipo de gravata. Consideravam que o autor só poderia aparecer com o modelo borboleta, seu predileto.


O episódio é apenas um exemplo dos excessos cometidos por famílias na suposta tentativa de proteger a imagem de seus famosos parentes mortos. Há muitos casos análogos, que envolvem, além da imagem e do nome, o direito de relatar fatos biográficos, criticar e reproduzir obras em meios como livros, revistas e catálogos.


Ambições pecuniárias, leis problemáticas e decisões judiciais infelizes conspiram para conferir aos herdeiros um poder desmedido sobre bens que possuem evidente dimensão pública.


O episódio mais recente envolveu a Bienal de São Paulo e a associação O Mundo de Lygia Clark, dirigida pelo filho da pintora. Diante de imposições, os responsáveis preferiram retirar a artista da mostra. ‘Queriam até controlar quem poderia escrever sobre ela’, afirmou o curador Agnaldo Farias.


A associação argumenta que tem custos e precisa cobri-los. Ainda que fosse assim (e que se precise avançar em políticas públicas de aquisição de acervos na área das artes visuais), o argumento não bastaria para impedir a presença de obras da artista na Bienal, a reedição de um livro e o uso de seu nome numa exposição com depoimentos em vídeo acerca de seu trabalho.


Em breve o Ministério da Cultura levará a consulta pública a revisão da Lei de Direito Autoral. É provável que aspectos relativos às novas tecnologias dominem o debate -mas isso não deveria impedir que se criassem regras para reequilibrar as relações entre direitos de herdeiros e o caráter público do patrimônio cultural.’


 


 


MÍDIA E POLÍTICA


Fernando de Barros e Silva


Mensalão: antes e depois


‘Completam-se nesta semana cinco anos das duas entrevistas que Roberto Jefferson, então ilustre deputado governista, concedeu à jornalista Renata Lo Prete. Elas trouxeram à tona o escândalo do mensalão e deram início à maior crise política dos anos Lula. O mensalão marca um capítulo do jornalismo e da história brasileira.


Para dimensionar sua importância, podemos fazer um exercício de imaginação: o que seria hoje do país sem o conhecimento do mensalão? José Dirceu provavelmente ainda estaria na Casa Civil, comandando as ações do governo. E Dilma Rousseff não seria nunca candidata à sucessão de Lula. O candidato talvez fosse o próprio Dirceu. Ou quem sabe Antonio Palocci. São apenas especulações.


Mas o mensalão também foi um divisor de águas para Lula. A crise obrigou o presidente a testar seus próprios limites, colocando à prova a extensão do seu poder. Paradoxalmente, o mensalão serviu para emancipar Lula do PT. E, de certa forma, dele mesmo.


Numa analogia psicanalítica, o mensalão foi uma espécie de terapia expressa para Lula. A superação do trauma veio desembocar no líder ‘bem resolvido’ do segundo mandato. É evidente que na base material que explica esse processo estão o desempenho da economia e os efeitos dos programas e ações sociais do governo.


No que se refere aos costumes políticos, no entanto, não houve nenhuma superação virtuosa do mensalão. Pelo contrário. O PT recalcou seus dilemas éticos. A conversa da refundação não era séria. A popularidade de Lula acabou se convertendo em pretexto e razão suficiente para abafar qualquer autocrítica. Prevaleceu o pragmatismo da realpolitik.


Lula superou pessoalmente um problema que o PT desistiu de enfrentar. Vários ‘companheiros’ ficaram pelo caminho e vão ter de responder à Justiça. Entre mortos e feridos, o país caminha, como o malandro da canção, assim de viés.’


 


 


ZIMBÁBUE


País africano ganha jornal independente


‘Quinze meses após o governo de coalizão entre o presidente Robert Mugabe e seu agora primeiro-ministro Morgan Tsvangirai ser inaugurado, sob forte pressão internacional, o Zimbábue ensaia uma miniabertura.


Na semana passada, pela primeira vez em cinco anos, um jornal independente diário começou a circular no país, após ter obtido autorização estatal.


‘Conseguimos autorização para operar após uma espera de dois anos, mas as boas notícias terminam aí. Jornalistas ainda estão sendo presos com base em uma lei que veda difamação criminosa’, disse Vincent Kahia, editor-chefe do ‘Newsday’.


Em quatro anos, ele foi preso quatro vezes. ‘A polícia aparece, te leva para a delegacia e te detém por dois dias. É para intimidar e fazer o jornalista pensar bem da próxima vez.’’


 


 


TELEVISÃO


Andréa Michael


Unesco medirá democracia na mídia de 193 países


‘A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) começa hoje a passar em revista a mídia mundial para mapear, até 2015, o quanto a mídia é democrática (ou não) nos 193 países membros.


‘Será uma análise complexa: sobre o conteúdo, o grau de liberdade dos profissionais e o acesso das pessoas às diferentes mídias’, diz Guilherme Canela, coordenador de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil.


O trabalho conta como suporte dos consultores Toby Mendel (canadense) e Eve Salomon (inglesa).


Hoje será divulgada em www.unesco.org.br versão em português do documento ‘Indicadores de Desenvolvimento de Mídia’, texto aprovado em 2008 pelo Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação (IPDC) da organização.


O material mostra os cinco focos de análise, que se desdobram em mais de cem indicadores, uma tecnologia em desenvolvimento no escritório de Montreal do órgão.


São eles: composição do mercado, conteúdo veiculado, independência profissional, acessibilidade e composição das empresas (privadas, estatais ou públicas).


No próximo dia 23, o trabalho será discutido em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.


Passarela


Em ‘Ti-ti-ti’, próxima novela das 19h da Globo, serão da linha Susi, da Estrela, as bonecas que Cecília, vivida por Regina Braga, usará para criar os modelos assinados por Victor Valentim, personagem de Murilo Benício na trama de Maria Adelaide Amaral.


Saudade


Na ‘Semana Michael Jackson’, o GNT estreia, em 25/6, às 20h, o documentário ‘Cedo Demais para Morrer’, de Ian Halpering, o mesmo que causou polêmica em 2008 ao afirmar que o rei do pop era homossexual e estava seriamente doente.


Casamento


Folha e Rede TV! coordenarão os debates eleitorais da emissora, em 12/9 e 17/10, com mediação do repórter especial da Folha Kennedy Alencar, também apresentador do ‘É Notícia’.


Dilma?


Marina Silva e José Serra já acertaram com o ‘Roda Viva’ (TV Cultura) o dia de suas apresentações: 14 e 21/6, respectivamente. Agora, só falta a petista.


Caneta


Presidente da SIC, primeiro canal privado português, Luis Marques acaba de assinar contrato com a Globo para a produção de duas novelas. Ele estará na abertura do ‘Fórum Brasil – Mercado Internacional de Televisão’, que começa no dia 16 de junho em São Paulo.


Pescoço


Hoje, no ‘CQC’ (Band), Danilo Gentili entrevista os astros do filme ‘Esquadrão Classe A’, que está previsto para estrear no Brasil nesta sexta. No México, ele ficou de tocaia no tapete vermelho para falar com Quinton ‘Rampage’ Jackson, Bradley Cooper e Sharlto Copley.’


 


 


Vitor Moreno


Canal adianta estreia de ‘Ídolos’ para emplacar vendas no Natal


‘Saem os mauricinhos engravatados com tino para os negócios, entram os artistas com pinta de descolados e talento musical duvidoso.


Nesta semana, ‘Aprendiz Universitário’ passa o bastão para a terceira edição do ‘Ídolos’ na Record.


Com a meta de colocar o CD do vencedor entre os mais vendidos do Natal, a emissora decidiu adiantar a estreia do musical para que o lançamento chegue às prateleiras a tempo de virar presente.


A grande novidade deste ano é que os dez finalistas serão confinados em uma mansão em São Paulo. Lá, terão mordomias como piscina, sala de ensaios e academia.


Em contrapartida, irão expor mais a intimidade e as rusgas. ‘É um grupo mais competitivo que o dos anos anteriores. Vêm para ganhar’, diz a diretora artística Fernanda Telles.


Neste ano, o programa baixou a idade mínima para 16 anos, idade de cerca de 30% dos 43 mil inscritos.


Para o jurado Marco Camargo, isso deu gás ao programa. ‘Eles vêm com mais sede ao pote.’


NA TV


Aprendiz Universitário e Ídolos


Fim do reality e estreia do musical


QUANDO amanhã, às 23h15 (‘Aprendiz’), e quinta, às 23h (‘Ídolos’), na Record


CLASSIFICAÇÃO não informada’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


(www.estadao.com.br)


Segunda-feira, 7 de junho de 2010


 


FOTOGRAFIA


Camila Molina


Tempo em foco


‘‘É fácil reconhecer que uma das qualidades mais indiscutíveis da fotografia é sua capacidade de induzir e conferir interesse aos assuntos mais inesperados’, define o moçambicano Sérgio Mah, diretor artístico do PhotoEspaña, o festival internacional do gênero fotográfico que vem cada vez mais se tornando uma referência no cenário europeu, ao lado dos franceses de Arles e de Perpignan. Conhecido apenas pelas iniciais PHE, o evento, em sua 13.ª edição, dá o início oficial de suas atividades amanhã e se estende até 25 de julho, promovendo 69 mostras, debates, oficinas e leituras de portfólios nas cidades espanholas de Madri e Cuenca e, pelo terceiro ano, também incluindo Lisboa (Portugal), que abriga no Museu Coleção Berardo exposição da nova-iorquina Collier Schorr.


‘O diferencial em seu modelo foi a história de que é um festival em Madri e, por isso, espalhado em infinitas programações, diferentemente de outros em cidades pequenas, onde todos os participantes, de uma forma ou de outra, se esbarram pelas ruas ou nas programações’, diz o fotógrafo brasileiro Pio Figueiroa, do coletivo paulistano Cia de Foto, selecionados para o PHE 10. O festival espanhol, por exemplo, se espraia por espaços importantes da capital, como o Museu Reina Sofia, a Casa de Américas, o Real Jardim Botânico, o Matadero Madrid e o Instituto Cervantes. E ainda consegue oferecer exposições de peso, como a mostra que apresentará antologia da produção da americana Helen Levitt (1913-2009) ‘suprema fotógrafa-poeta das ruas e da gente de Nova York’, como definiu o crítico Adam Gopnick – é sua a imagem, feita em 1940, que ilustra acima esta página -, ou do húngaro László Moholy-Nagy (1895-1946), um vanguardista, professor da Bauhaus.


Território. Para voltar um pouco na história, o PhotoEspaña foi criado na década de 1990, quando Madri ainda era quase que uma capital provinciana em termos de fotografia, com poucos espaços expositivos dedicado ao gênero e ínfima inserção de obras fotográficas nos acervos de suas instituições. O festival nasceu, assim, como um disparador para que a Espanha começasse a marcar seu espaço no território da fotografia. Por trás do evento está a La Fabrica, editora e galeria centrada no gênero fotográfico, mas também o aporte do governo espanhol e de patrocinadores, numa maneira de internacionalizar o festival tal é o objetivo da diretora-geral do PHE, a francesa Claude Bussac.


O PhotoEspaña tem como característica convidar um curador para que ele faça um projeto linear de três edições seguidas do evento. Este é o último ano de Sérgio Mah como diretor artístico do PHE. O moçambicano tem apreço por temas simples, que conseguem aglutinar estrelas da fotografia e uma gama de questões – em 2008, o mote escolhido por ele foi Lugar; em 2009, Cotidiano; e agora é a vez do Tempo.


Singularidade. ‘Foi uma sequência de três temas muito abrangentes mas decisivos para refletir a pertinência e a singularidade do fotográfico na cultura contemporânea, não só em termos estéticos e conceituais, como em termos ontológicos e políticos’, diz Mah, em entrevista por e-mail ao Estado.


‘Por outro lado, procurei promover um entendimento do fotográfico muito para além da fotografia porque, atualmente, o cinema, a escultura, a pintura são também formas de conceber e experienciar o fotográfico’, continua ele, exemplificando que na edição passada um dos destaques do festival foi a mostra de fotos pintadas do artista alemão Gerhard Ricther. Outro ponto central de sua curadoria é um interesse pela década de 1970, marcada por mudanças sociais e políticas e, ainda, época de aproximação entre os chamados ‘fotógrafos-artistas’ e os ‘artistas que utilizam a fotografia’, como define Mah.’


 


 


POLÊMICA


Reuters


Repórter mais antiga da Casa Branca se aposenta após declarações sobre Israel


‘A veterana correspondente da Casa Branca Helen Thomas, que cobriu todos os presidentes dos Estados Unidos desde John F. Kennedy (1961-1963), inesperadamente anunciou sua aposentadoria nesta segunda-feira, 7, em meio a uma avalanche de críticas sobre suas polêmicas declarações a respeito de Israel.


A saída de Thomas, de 89 anos, como uma colunista dos jornais Hearst foi anunciada após ela ser filmada afirmando que israelenses deveriam ‘dar o fora da Palestina’ e sugerindo que eles fossem ‘para casa’ na Alemanha, Polônia e os Estados Unidos.


Os comentários provocaram diversas críticas, inclusive da Casa Branca, e fizeram com que Thomas fosse expulsa de sua agência de relações públicas. A Associação dos Correspondentes da Casa Branca classificou as declarações como ‘indefensáveis’.


Thomas, considerada a reitora dos jornalistas que cobrem a Casa Branca, se desculpou por seus comentários, gravados amadoramente em entrevista de 27 de maio, e divulgados no site http://www.rabbilive.com.


‘Helen Thomas anunciou nesta segunda-feira que ela está se aposentando’, informou o serviço de notícias Hearst. ‘A decisão dela ocorre após suas declarações polêmicas sobre Israel e palestinos que foram capturadas em vídeo e amplamente divulgadas na Internet’.


O anúncio da Hearst foi feito após o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, ter considerado as falas ‘ofensivas e censuráveis’.


Thomas não compareceu ao briefing da Casa Branca de segunda-feira, onde ela tinha um assento reservado no centro da primeira fileira.


A jornalista divulgou um comunicado no fim de semana no qual disse: ‘Eu me arrependo profundamente dos meus comentários feitos na semana passada sobre os israelenses e palestinos. Eles não refletem minha crença de coração de que a paz chegará ao Oriente Médio somente quando todos os lados reconhecerem a necessidade de respeito mútuo e tolerância. Que este dia chegue logo’.’


 


 


TECNOLOGIA


Rafael Cabral


A quarta geração do iPhone


‘‘Mudará tudo, novamente’. É esse o slogan que a Apple quer colar no iPhone 4, lançado nesta segunda-feira, 7, na abertura da Worldwide Developer’s Conference, o maior evento ligado à empresa. O aparelho que transformou a computação móvel em 2007 ganhou uma boa recauchutada, com mudanças que vão do conceito ao design, agora mais quadradão.


O presidente-executivo da companhia, Steve Jobs, subiu ao palco do Moscone Center em São Francisco logo após às 14h de Brasília. Palestrou para um auditório com mais de cinco mil pessoas, que esgotaram os ingressos em oito dias. Primeiro comentou o sucesso do iPad (2 milhões vendidos, um a cada três segundos) e anunciou uma atualização do iBooks, o aplicativo para leitura de livros do tablet e agora também do iPhone e do iPod Touch. O novo iBooks ainda lê PDFs e permite comentários no meio dos e-books (os livros em formato digital). Só depois Jobs passou ao que todos já sabiam ser o assunto principal: a quarta geração do iPhone.


Hiperbolicamente anunciado, o aparelho é exatamente o mesmo que foi esquecido em um bar e acabou parando nas mãos do blog Gizmodo. O smartphone virá em um desenho mais pesado, mas será 24% mais fino (‘o telefone mais fino do mundo’, segundo Jobs, com espessura de 9,3mm).


Nos Estados Unidos, o celular chegará às lojas no dia 24 de junho, nas cores preto ou branco, e custará US$ 199 dólares (16GB) ou US$ 299 (32GB). Valores que, vale dizer, não devem refletir os preços do Brasil.


As mudanças para o modelo anterior são muitas. A bateria ficou melhor, aguentando cerca de seis horas de navegação na internet. A câmera agora tem 5 megapixels, com flash, e grava vídeos em alta resolução (720p) que poderão ser editados na própria máquina, com a ajuda do iMovies. Além disso, ganha o reforço de outra câmera, frontal, para fazer videoconferências (de iPhone 4 para iPhone 4, pelo programa Facetime, demonstrado hoje).


Já a tela terá quatro vezes mais resolução (960×640 pixels). ‘É o limite da retina humana. As letras agora aparecem como se fossem impressas em livros’, vendeu Jobs.


Além disso, o novo produto virá com o iOS 4, a nova versão do sistema operacional iPhone OS. O iOS 4 contará com pastas para a organização de aplicativos e, principalmente, com a capacidade de ser multitarefa (ou seja, rodar mais de uma aplicação ao mesmo tempo).’


 


 


 


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Jornal do Brasil


Segunda-feira, 7 de junho de 2010


 


STEFAN ZWEIG


Deonísio da Silva


‘Coup de foudre’: no jogo e na vida


‘Os franceses têm a expressão coup de foudre para designar a paixão súbita, que muda tudo na vida de uma pessoa. Na verdade, muda na vida de dois e de todos aqueles que lhes estão vinculados, sejam laços de amor, amizade ou ódio, pois odiar é também ligar-se ao inimigo.


Stefan Zweig, o escritor judeu-austríaco que teve seu triste fim em Petrópolis, abre um de seus romances, 24 horas na vida de uma mulher, com um coup de foudre. A tradução deste livro de Stefan Zweig, cuja trágica existência levou o jornalista Alberto Dines a fazer sua notável biografia, é de Lya Luft e está publicada pela L&PM.


Desconheço as razões de poucos lerem Stefan Zweig, hoje. Aliás, a julgar pelas livrarias, ninguém mais está lendo nada que tenha mais do que 24 horas. As editoras estão vivendo de lançamentos, lançamentos e mais lançamentos. E livros fundamentais na formação e consolidação dos leitores, principalmente dos jovens, desapareceram do mercado e sobrevivem em pequenos nichos, de que são exemplos as boas escolas e universidades, pequenas livrarias e livros disponíveis na internet. Ou os maravilhosos livros de bolso, bons e baratos.


O mesmo fenômeno atingiu o cinema. Sylvio Back fez um documentário e um longa sobre Stefan Zweig. Lost Zweig foi o título que Back deu, resumindo numa só palavra o estado do escritor. Ele estava realmente perdido! O filme não está em cinema nenhum e só pode ser encontrado em DVD.


Bem, mas as perdas podem ser muito maiores e envolver mais gente. Tivemos a lost generation, a geração perdida, expressão criada por Getrud Stein e popularizada por Ernest Hemingway em O sol também se levanta. Lembro que o étimo da palavra lost aponta paradoxalmente para ser destruído e ser livre. Quem está perdido, vai para onde quer e em geral se destrói.


Voltemos ao coup de foudre, depois dessas divagações, que naturalmente têm um propósito. Veio do latim e significou na origem algo como o soco do raio. Na noite escura ou mesmo de dia, no meio da tempestade, o raio assusta, mas também ilumina.


No livro de Zweig, o coup de foudre pega de surpresa os pacatos convivas de uma pensão na Riviera no início do século passado.


Madame Henriette, de 33 anos, esposa de um deles, mãe de duas filhas adolescentes, foge com um jovem francês, caracterizado como gentil, educado, elegante e dono de extraordinária e simpática beleza. A barba loura e sedosa emoldurava lábios quentes e sensuais’, olhos doces acariciavam a cada olhar, diz o narrador.


Enquanto todos condenam Henriette, o narrador diz: Prefiro ser defensor. Pessoalmente tenho mais alegria em compreender as pessoas do que em julgá-las.


É quando uma outra senhora, de 67 anos, convida-o a ir ao quarto dela e lhe narra a trama que justifica o título do livro: 24 horas que passou em Monte Carlo, quando um coup de foudre a tomou de surpresa, fazendo-a viver, aos 43 anos, uma paixão de um dia apenas, ocorrida há 24 anos, mas inesquecível para ela, vivida com um jovem apostador do famoso cassino. (xx)


Deonísio da Silva é escritor.’


 


 


 


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