Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Feios, bobos, malvados e chatos

A guerra de jornalistas está declarada. Um blogueiro chama o outro de pançudo, o outro diz que não vai bater palma pra louco dançar, um especialista em internet exige que um jornalista, em respeito à ética, revele suas fontes, um jornalista chama outro de ‘notório’ e lê, em resposta, que vai levar em algum lugar de insondáveis profundezas. Aliás, levou; mas levou quieto, não passou recibo.

A guerra entre jornalistas está declarada. Mas que guerra mais ridícula!

A Terceira Guerra Imundial começou com a história de um dossiê que uma equipe ‘da pesada’, trabalhando para a candidata Dilma Rousseff, estaria preparando contra o principal candidato adversário, José Serra, seus parentes e amigos. É puro jogo de cena eleitoral: há um bom tempo, pode o caro colega ter certeza, há em todas as campanhas gente especializada em acompanhar com pente fino os adversários (se bem que, para acompanhar Serra, pente não chega a ser um objeto adequado).

Os inimigos, os ex-amigos, os que se sentem injustiçados são permanentemente acompanhados, em busca de revelações, de documentos, de episódios; os arquivos de jornal são uma excelente fonte de pesquisa. Muitas vezes, aliás, a única: o senador Antônio Carlos Magalhães costumava anunciar dossiês contra seus adversários em que os documentos eram transportados em carrinhos de pedreiro, de tantos que eram – ou não eram, porque se tratava apenas de recortes de jornal. Enfim, os dossiês fazem parte da campanha, e no ramo todos sabem disso. O escândalo que fazem de vez em quando é para consumo do público e para gerar notícias que eventualmente possam prejudicar a atuação do adversário.

Como se explica, então, que jornalistas conhecidos se envolvam em disputas desse tipo, conhecendo sua nenhuma importância, e percam tempo com isso? Há casos de paixão política, que cega as suas vítimas. Houve época em que dizer para alguns jornalistas que o camarada Stalin era menos bonito do que Ingrid Bergman equivalia a um insulto pessoal. Há também casos em que um objeto misterioso, quando atinge determinada massa crítica, muda opiniões e incendeia o instinto belicoso de quem está na luta.

Mas o pior vem depois: os próceres políticos sempre acabam se compondo – estão aí Lula, Sarney, Collor, Maluf, Renan, Jobim, para demonstrar a tese. E os jornalistas ficam marcados pela veemência excessiva da guerra midiática. Ficam tão marcados, marcados a tal ponto, que muitas vezes são afastados pouco antes de os próceres se unirem, com base no princípio de que é preciso livrar-se dos radicais para garantir a governabilidade, essas coisas que tem gente que leva a sério.

 

Terapia de choque

O colega Luciano Martins trouxe a este Observatório uma imensa falha de toda a reportagem do país: o ministro Guido Mantega, instantes antes de lançar um programa de incentivo à produção de automóveis elétricos, cancelou o anúncio (ver ‘Carro elétrico, um mistério no ar‘). E a imprensa não foi atrás do caso, para verificar o que teria acontecido. Só o colunista Antônio Machado cuidou do assunto.

Luciano Martins levanta a possibilidade, dentro do ‘divertido jogo da teoria da conspiração’, de que uma ruptura tecnológica, que levasse à rápida substituição do petróleo como combustível, criaria dificuldades à Petrobras. A estatal precisaria de um período de transição de vinte a trinta anos, e uma ruptura que levasse à substituição do petróleo como combustível automotivo em, digamos, cinco anos, criaria tremendos problemas, por exemplo, na área do pré-sal.

Completemos a teoria conspiratória levantada por Luciano Martins com um pouco de história da conspiração. Na década de 1910, Los Angeles tinha um excelente sistema de transportes elétricos, que foi substituído por veículos a petróleo. Um dos principais impulsionadores da mudança foi Al Sloan Jr., presidente da General Motors. A GM, aliás, fabricou alguns carros elétricos muito bem aceitos e, de repente, recolheu-os. Só agora volta ao mercado, com o Volt. Quem lidera as pesquisas sobre carros elétricos? Os japoneses, os israelenses, os franceses da Renault, associados aos japoneses da Nissan (os alemães lideram as pesquisas sobre o hidrogênio combustível). Sempre países que não têm petróleo, e cuja capacidade de produção de álcool fica longe da necessária.

A lembrança (e cobrança) de Luciano Martins, mais essas pequenas histórias conspirativas, talvez contribuam para que bons repórteres desvendem o caso. Pode ser que a gente esteja pensando besteira. Só reportagens bem feitas podem nos dar essa certeza.

 

O poeta do povo

Há certos eventos que não podem ser perdidos. Anote: quinta-feira, 10/6, às 19h, na Rua Tabapuã, 445 – São Paulo, haverá dois gênios divertidíssimos à disposição da platéia. O CIEE, Centro de Integração Empresa-Escola, homenageia o centenário de Adoniran Barbosa, o compositor de ‘Saudosa Maloca’, ‘Trem das Onze’, ‘Samba do Arnesto’, ‘Iracema’, e de uma esplêndida parceria com Vinícius de Moraes, ‘Bom Dia, Tristeza’. Para a homenagem, convocou o conjunto que gravou todos os sucessos de Adoniran, os Demônios da Garoa. E trouxe outro gênio, o compositor e biólogo Paulinho Vanzolini, glória da ciência e da música, um dos mais engraçados contadores de histórias do país. Há ainda um bônus extra: a possível presença de Maria Helena Rubinato de Souza, filha única de Adoniran, colunista de excelente qualidade (e como não o seria, com esse DNA?) Lenita está neste endereço.

E, ainda por cima, é tudo de graça. Inscrições aqui.

 

Vassi e os gregos

Ela ligou sua história à da Eletropaulo: durante muitos, muitos anos Vassiliki Constantinidou comandou o setor de comunicação da empresa. Já naquela época, Vassi pesquisava a memória dos imigrantes gregos – imigrantes como ela, que nasceu em Atenas e veio para o Brasil aos três anos. A pesquisa está completa: na quarta, 9/6, em Brasília, Vassi lança Os guardiães das lembranças – memórias e histórias dos imigrantes gregos no Brasil. O livro é bilingue, em português e grego, traz 380 fotos e abrange 170 anos de história. Lançamento às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, SHIN CA 4, Lote A, Lago Norte.

 

Erramos

Dez leitores atentos de Santo André, SP, corrigem um erro desta coluna: dissemos que o prefeito da cidade é o petista Luiz Marinho – aquele que conseguiu impor censura prévia ao Diário do Grande ABC, para que não publique reportagens sobre o descarte de mobiliário escolar em bom estado e a compra de móveis novos para substituí-los. Corrigem o erro e estão felizes. Diz um deles: ‘O prefeito petista Luiz Marinho é de São Bernardo do Campo. Santo André, graças aos céus, não tem petista na Prefeitura’.

 

Pesquisas doentes

Esquisitíssimo: todos os institutos de pesquisas apontavam empate técnico entre os dois principais candidatos à presidência da Colômbia. Contados os votos, o candidato governista teve o dobro dos votos de seu adversário verde, e por pouco não leva no primeiro turno. No Brasil, nas eleições presidenciais, cada instituto aponta um resultado. Haverá algum problema com a metodologia das pesquisas, tornando inconfiável aquilo em que nos acostumamos a confiar?

A pergunta é pertinente. Nos Estados Unidos, as pesquisas davam a vitória ao candidato oposicionista Thomas Dewey, mas quem ganhou foi Harry Truman, candidato à reeleição. Alguns anos depois, uma pesquisa monumental elaborada a pedido da Ford traçou o perfil do automóvel que os americanos queriam. A Ford fez o Edsel – e foi um dos maiores fracassos de sua história. Nos dois casos, houve aperfeiçoamento posterior no mecanismo das pesquisas, para evitar erros desse tipo.

Pode haver desonestidade, e não erros? Pode: bandalheira é algo que nunca pode ser descartado. Mas no caso da Colômbia seria esquisito: quem se beneficiou do erro da pesquisa foi exatamente o candidato menos poderoso e mais pobre. Neste momento, em que os ânimos estão quentes, não adianta botar repórteres atrás do assunto. Mas, passadas as eleições, será um bom tema a explorar.

 

Nem supostamente

A mania de se esconder atrás do ‘supostamente’ está chegando a níveis engraçados: desta vez, o caso é de um ator pornô americano que esfaqueou três pessoas. Diz o texto de uma grande agência de notícias: ‘O ator Stephen] Hill (…) supostamente apunhalou três pessoas usando um facão (…)’.

Quem usa facão esfaqueia. Quem apunhala usa punhal. E não há supostamente que dê jeito nessas coisas.

 

Como…

De um grande portal noticioso:

** ‘Polônia divulga conversa de avião que matou presidente; ouça’

Esses aviões ficam a cada dia mais modernos: não apenas conversam como ainda são capazes de cometer homicídios!

 

…é…

De outro grande portal noticioso:

** ‘Em recuperação, L. Fabiano admite ajuda de bola; T. Silva diz saber que é banco’

Este colunista talvez possa ir para a seleção: como o craque, sabe o que é banco. Mas como será a tal ajuda de bola?

 

…mesmo?

Sempre de um grande portal, cuja ajuda nos é inestimável:

** ‘Modelo Caroline Ribeiro quer engravidar do segundo filho’

Como diria o Faustão, este colunista é do tempo em que mãe querer engravidar do filho dava filme – Sopro no Coração, com Lea Massari – e era incesto.

 

Mundo, mundo

** ‘Homem pede namorada em casamento durante visita ao esgoto’

 

Vasto mundo

** ‘O feriado promete clima de muito romance com a pessoa amada’

Pois é: o clima romântico predomina até mesmo numa visita ao esgoto.

 

E eu com isso?

Há uma febre de revelações íntimas, algumas divertidíssimas:

** ‘`É muito bom ficar nua´, diz ex-BBB Lia sobre Playboy

** ‘Casal processa conselheiro conjugal que indicou amante para cliente’

** ‘Casal é pego fazendo sexo em desfile da estilista de Sex and the City

** ‘Cameron Diaz diz que abandonou as noitadas e que está no mundo para fazer sexo’

** ‘Claudia Jimenez está viciada em barriga tanquinho’

É um critério, é um critério. Mas tanquinho, como qualquer utilidade doméstica, não resolve sozinho: é preciso esfregar com força. E a torneira é importante.

E não se pode esquecer as novidades, o frufru de verdade. Sem isso, qual será o tema da conversa?

** ‘Por US$ 125, diarista oferece limpeza de casa seminua’

Ela esclarece: não é prostituta. Quer apenas oferecer algum entretenimento.

** ‘Americano é multado por manter porco como animal de estimação’

Esperando piada de futebol? Esqueça: esta coluna não bate em porco adormecido.

** ‘Garçonetes loiras e peitudas conseguem mais gorjeta’

** ‘Papagaios `bêbados´ caem do céu no norte da Austrália’

** ‘Sarah Jessica Parker repete sandálias em três eventos’

** ‘Paris Hilton diz que não sabe quem é Jesus Luz’

E é melhor que continue sem saber. A Madonna é bem mais forte do que ela.

 

O grande título

É erro de digitação, claro. Mas às vezes fica engraçado, especialmente quando a reportagem é sobre os maiores erros cometidos em entrevistas:

** ‘Lista aponta dez princiais erros cometidos em entrevistas e dinâmicas’

Um deles é comer letra no título.

Há frases que valem pelo arrepio

** ‘Americano mete bala nos testículos’

Não é exatamente assim, ‘mete bala’: ele tinha colocado a pistola na cintura, com o cano para baixo. Isso não se faz, como ele descobriu com o disparo acidental.

E há um grande título futebolístico, em homenagem à Copa do Mundo:

** ‘México limita sexo e o põe como `prêmio´ por vaga na 2ª fase’

Pensemos nos procedimentos. Se o México chegar à segunda fase, vão levar mulheres para os jogadores? Permitirão que eles busquem sua própria companhia num dos países em que a incidência de Aids está entre as maiores do mundo?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados