Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Jobs: ‘As pessoas têm que pagar por conteúdo’

O diretor-executivo da Apple, Steve Jobs, defendeu ontem a cobrança do conteúdo editorial. E deu o seu recado:

‘Não quero que nos tornemos um país de blogueiros. Acho que precisamos de mais (conteúdo) editorial que nunca. O que temos de encontrar é uma maneira de fazer as pessoas pagarem por esse conteúdo obtido a duras penas.’

Ao ser perguntado como fazer isso, Jobs, que participava da abertura da conferência All Things Digital, na noite de terça-feira (1/6), respondeu:

‘Coloquem preços agressivos e busquem volume.’

Hoje, boa parte do que é oferecido pela indústria de mídia no mundo é gratuito. O pagamento pelo conteúdo editorial de qualidade tem sido ferozmente defendido pelo empresário Rupert Murdoch, da News Corp., dono do Wall Street Journal, que já adota a cobrança.

Os repórteres do Journal, no entanto, lembraram que a Apple nunca fez isso: seus produtos custam bem mais que os concorrentes. Ao que Jobs replicou que a empresa tem apenas ‘um sucesso atenuado’.

Hora dos tablets

Jobs disse ainda que pode ajudar as empresas de mídia a venderem jornais, revistas e programas de TV, mas que elas terão de’ adotar uma postura mais agressiva’ de preços. Apesar de o movimento do setor estar indo na direção contrária – jornais cujos sites eram gratuitos, como o britânico The Times, já avisaram que vão cobrar pelo acesso on-line –, o diretor-executivo da Apple argumentou que isso já ocorre em alguns setores. Ele citou como exemplo os acordos de preços de livros eletrônicos que as editoras fecharam com a Apple e a Amazon.

‘O mercado, agora, está pronto para ser mais receptivo à demanda do consumidor por preços adequados que há seis meses’, disse Jobs. ‘Os preços podem subir no futuro próximo, mas se os consumidores quiserem que os preços caiam, as empresas serão mais receptivas a esses sinais.’

No evento, Jobs disse ainda que os computadores tal como os conhecemos hoje – tanto laptops como os de mesa, ou desktops – vão perder seu domínio para tablets como o iPad. Ele ressaltou que a substituição não será completa, que o distanciamento dos PCs (personal computers, como são chamados no mundo techie) é inevitável. Jobs ainda respondeu a perguntas de dois jornalistas do Wall Street Journal, que promove a conferência, abordando temas como Google, Microsoft e mídia na internet.

Dois milhões de iPads vendidos

‘A transformação do PC para novos formatos, como o tablet, deixará algumas pessoas desconfortáveis porque o PC nos levou longe. O PC é brilhante… Gostaríamos de falar sobre a era pós-PC, mas é desconfortável’ afirmou Jobs. Para ilustrar a substituição do PC pelo tablet, Jobs citou os primórdios da indústria automotiva nos EUA, quando boa parte dos veículos era de caminhões dirigidos por fazendeiros:

‘PCs serão como caminhões. Eles ainda estarão por aí, mas representarão um número menor de pessoas.’

Ele afirmou que a ameaça aos PCs vai se intensificar à medida que o tablet ganhe novas funcionalidades, como programas para criação e edição de conteúdo. As previsões de Jobs estão caminhando para se tornar realidade. Ontem, um analista do Macquarie Group afirmou em nota que as vendas do iPad podem atingir 5,5 milhões este ano e 13 milhões em 2011.

O analista Phil Cusik explicou à agência Bloomberg News que elevou suas projeções em 57% para este ano e em 63% par 2011 depois que a Apple informou, em 31 de maio, ter vendido dois milhões de iPads desde seu lançamento, em 3 de abril.

Ideia demorou para ser desenvolvida

Sobre o Google: ‘Minha vida sexual anda ótima estes dias.’ O chefão da Apple mostrou ainda bom humor para se esquivar de perguntas delicadas. Quando o repórter do Journal perguntou sobre o relacionamento entre Apple e Google, questionando se ele se sentia traído, Jobs respondeu:

‘Minha vida sexual anda ótima estes dias. E a sua?’, brincou. ‘Bem, eles decidiram concorrer conosco. Não entramos no ramo de buscas.’

O fato de a Apple ter ultrapassado a gigante do software Microsoft em valor de mercado, no mês passado, foi classificado por Jobs de ‘surreal’.

Jobs revelou ainda que o iPad veio antes do iPhone. Ele contou que teve a ideia de uma tela de toque que levou seis meses para ser desenvolvida. Depois, os técnicos desenvolveram o rolamento da tela:

‘Eu pensei: `Podemos fazer um celular com isso´, e colocamos o tablet de lado para trabalhar no telefone.