‘Alguns trechos de um email recebido da telespectadora Lúcia Helena de Lima, selecionados por mim e transcritos abaixo, resumem de forma emblemática as contradições apontadas aqui na coluna de ontem, 7 de julho, sob o título ‘O conselho do Beraba’. A ele:
‘Peguei o bonde andando e a esta altura, nem sei o que é que foi que ‘deu no que deu’. Pelo visto e lido seu último artigo, parece que ‘não deu’. Como telespectadora que sou , preciso lhe confessar que infelizmente nunca soube sequer da existência de seu cargo, sendo certo que a culpa não é minha. Acho que faltou efetiva divulgação, coisa que evidentemente demanda interesse do órgão diretivo. E só soube disso, logo hoje, quando me ocorreu consultar o sítio para reclamar da forma dada ao destino do apresentador atual de Roda-Viva’.
Outro email, agora da telespectadora Maria Amélia Saad, situa as mesmas contradições tratadas acima de maneira mais pragmática. Principalmente quando constatamos, por exemplo, que a atração da TV Cultura no horário especialíssimo das oito da noite desta quinta-feira, 8 de julho, foi uma produção inglesa dublada cujo tema eram os contos de fadas. O email de Maria Amélia:
‘Sou telespectadora da Cultura, amo a programação e sempre me deparo com as reclamações da ausência de audiência e tal. Bem, embora acredite que isso seja balela, hoje algo me chamou a atenção: o especial sobre o Vinícius de Moraes será vinculado à meia noite… Poxa, assim como eu, acredito que muita gente gostaria de assistir a este programa, porém, assim como eu a maioria das pessoas precisam acordar cedo (no meu caso 5 da manhã) para trabalhar… Talvez por atitudes como esta a audiência não decole…’
Finalmente, o email de um telespectador cujo nome prefiro não revelar e que ilustra à perfeição o compartilhamento de parte do reduzido público atual da TV Cultura com a concepção elitista, excludente e nada pública que predomina há décadas na emissora:
‘Audiência não importa. A TV Cultura será sempre lembrada como a emissora que ajudou a salvar uma geração!!!! Tá tudo beleza’.
Resta observar que, da parte dos setores da TV Cultura com alguma responsabilidade sobre as questões tratadas aqui nos últimos dias, não houve uma palavra sequer.
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Há mais de um ano, em texto publicado aqui em 26 de janeiro de 2009 sob o título ‘Ombuds quem?’, eu lamentava a falta de visibilidade da coluna e o número constrangedoramente inexpressivo de emails dirigidos a este suposto representante do público da TV Cultura, considerando-se, claro, o universo potencial de telespectadores da TV aberta.
Na época, como atualmente, nem mesmo o objetivo inicial de inserir um link com o endereço do ombudsman nos créditos finais de todos os programas da emissora havia sido alcançado completamente. E também não tinham avançado os entendimentos práticos com a direção da Fundação Padre Anchieta para viabilizar a exibição regular de um programa do ombudsman na grade da emissora.
Sem essas duas providências básicas, estava mais do que claro que o alcance e a relevância do trabalho do ombudsman seriam consideravelmente limitados e quase que restritos a uns poucos profissionais e diretores da TV Cultura que recebem e reagem à análise interna da programação feita aqui. E ao reduzido contingente de abnegados telespectadores que se dão ao trabalho de ir ao site da emissora e, dentro dele, localizar a página e o link para contatos com o ombudsman.
Faltando menos de um mês para o término do atual mandato de dois anos do ombudsman da TV Cultura – e passados dois dias sem qualquer resposta interna para a coluna de 5 de julho (‘Audiência atenta’) que reproduz emails nos quais telespectadores apontam dois erros importantes de informação e uma controvertida seqüência em que uma ovelha é sacrificada – a sensação de clandestinidade quase absoluta (em termos de TV) deste ombudsman está mais do que confirmada pelos fatos.
Da minha parte, cabe reconhecer que estava coberto de razão o jornalista Marcelo Beraba, amigo e ex-ombudsman da Folha de S. Paulo que, já em meados de 2008, ao conhecer o formato desta ouvidoria, alertou: ‘O ombudsman, se é de TV, tem de ter um programa regular na grade da emissora. Não bastam apenas a análise interna e a coluna no site. Não abra mão disso’.
Abri.
Deu no que deu.
Ou deu no que não deu.
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Audiência atenta (5/7/10)
Transcrevo abaixo três emails que merecem a atenção dos responsáveis pelos programas citados.
‘Sou um assíduo telespectador da TV Cultura e, nesta semana que passou, durante o programa Mesa Brasileira, foi mostrada uma imagem que, para mim, foi chocante demais. Estavam mostrando comidas do sul do Brasil e foi para o ar um senhor que, com toda a frieza do mundo, degolou uma ovelhinha. Tal cena não precisaria ser mostrada. Se para mim que tenho 62 anos foi muito marcante, imagine se uma criança estiver assistindo ao programa. Simplesmente foi mostrada uma ovelha amarrada de cabeça para baixo e um homem atravessando o pescoço (…) Com o animal ainda se mexendo, ele começou a abrir a barriga da ovelha. Por favor, não façam mais isso. Esta cena poderia ser pulada e não faria falta na reportagem. Foi muito cruel e chocante. (Jose Marcos Marangoni Perazzo, Santos, SP)’.
‘No programa ‘Almanaque Brasil’ de domingo, 4 de julho,às 19:30, durante o assunto ‘o homem voa’? foi dito pela narradora que Santos Dumont nasceu numa fazenda do interior de S.Paulo. Ora, todos sabemos que ele nasceu na fazenda Cabangá, distrito de Palmira, hoje Santos Dumont, Minas Gerais. Como pode um programa de tal responsabilidade cometer tal erro? Haverá uma comunicação no próximo programa desfazendo o engano? (Arthur de Araújo, Pouso Alegre, MG)’.
‘A transmissão pela internet da abertura do Festival de Inverno de Campos do Jordão, no último sábado, dia 3, exibia um erro grave para uma emissora chamada ‘Cultura’. Abaixo do vídeo lia-se Campus do Jordão e não CAMPOS do Jordão, que é o nome correto da cidade.( Keila Correa, São José dos Campos, SP)’.’