Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leitores mandam, editores obedecem

No passado, havia pouca necessidade de se compartilhar informações de marketing com a redação do Washington Post. Os lucros eram altos; a circulação, robusta; editores decidiam o que achavam ser a necessidade dos leitores. Nos dias de hoje, com o implacável foco no meio online, editores recebem, de hora em hora, relatórios sobre o tráfego no site do Post, revela o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [11/7/10].

Quando os números de audiência ficam abaixo das metas, entram em jogo maneiras para atrair visitantes. Fotos de Anna Chapman, por exemplo, servem de ímã para os que buscam notícias sobre a atraente espiã russa. Uma galeria de fotos da atriz Lindsay Lohan, chorando no tribunal ao saber da sentença de 90 dias de prisão, também gera aumento de cliques. Pesquisas online são monitoradas para que os editores saibam o que os usuários querem. Em um dia da semana passada, o termo mais buscado era ‘LeBron’. Editores, então, colocaram na home fotos do jogador de basquete LeBron James, que anunciaria em breve seu novo time na NBA. Na era da internet, os leitores mandam. E, com o futuro do Post tão dependente da crescente audiência online, o consumidor é mesmo rei.

Temores

Este modo de funcionamento, entretanto, provoca preocupações na redação sobre a manutenção dos padrões jornalísticos. A rapidez da web faz com que, muitas vezes, sejam colocadas no ar informações que não foram completamente apuradas. Isso incomoda os jornalistas veteranos, focados na cultura impressa. Eles temem que, ao se publicar notícias sobre celebridades para aumentar o tráfego, isso prejudique a marca Washington Post e o compromisso com o jornalismo como serviço público.

Raju Narisetti, chefe de redação do site do Post, tenta acalmar estes profissionais, insistindo que a marca do jornal, sua ética e seu rigor estão seguros. Ele observa que, ao expandir a audiência por meio de fotos de celebridades e outros artifícios, o acesso ao jornalismo do Post, incluindo seus ambiciosos projetos investigativos, também é ampliado. Além disso, a existência de uma plataforma online viável e sustentável garante ao diário a habilidade de financiar seu jornalismo de qualidade.

Nos últimos anos, enquanto a tiragem do Post vem caindo, a audiência online mantém-se estável. Aumentar o público na web é algo crítico para atrair anunciantes, de modo a equilibrar as perdas com lucros publicitários no impresso. O jornal estabeleceu uma meta ambiciosa, para que, em outubro, o tráfego online esteja 25% maior que no mesmo período no ano anterior. Até junho, o número de visitantes únicos estava 16,7% acima do registrado no primeiro semestre de 2009. Para Alexander, a fim de manter os padrões é fundamental que haja diálogo na redação – com os leitores convidados à discussão.