‘QUEM ESTIVER com saudade de Levy Fidelix, aquele do aerotrem, e do Eymael, o democrata-cristão, ou ainda quem quiser conhecer o boletim do Tijolinho, candidato ao governo do Acre, poderá visitar o novo blog de política da Folha (tinyurl.com/presidente40). Se nada disso interessá-lo, restam ainda uma caixa de grampos com um desenho que lembraria Dilma Rousseff e o Twitter de Itamar Franco.
Nada contra besteirol de campanha, mas fazer disso a linha central do único blog da Folha destinado à eleição presidencial beira o ridículo.
O terceiro verbete postado traz a foto de uma placa do Rodoanel, com um borrado branco embaixo, onde seria a logomarca do governo federal. ‘Quem fez isso?’, pergunta o blog. E, em seguida: ‘Diretórios petistas têm suspeitas’, com link remetendo a um site do partido, que acusa os tucanos de sumirem com a participação federal na obra.
Sendo um blog ‘abastecido por editores, redatores e repórteres do caderno Poder e da Sucursal de Brasília’, como está na apresentação, não daria para apurar se de fato pintaram a marca na placa?
A outra estreia da semana, o blog internacional (tinyurl.com/pelo mundo), alimentado por nove correspondentes, também gira em torno de notícias curiosas, mas com alguma substância. Há trailers de novos filmes, relato sobre o frio na Argentina, a rainha da Inglaterra vendendo casas e a Espanha querendo proibir anúncios de prostituição.
Nada imperdível -é uma colcha de retalhos sem foco, que não mira um leitor específico como deve fazer um blog. Por enquanto, o item mais comentado tem só três mensagens.
O começo errático dos novos blogs é consequência do pouco-caso da Folha com essa nova forma de jornalismo. São 29 blogs que formam um leque que não reflete nem as prioridades do jornal nem os interesses primeiros dos leitores.
No impresso, há uma ênfase grande em Poder e em Mercado. Já o site tem só um blog de política (dois, com o ‘presidente 40’) e um econômico. Em cultura, são seis, mas nenhum sobre TV, um dos assuntos preferidos do internauta. Não há blogs sobre saúde, tema citado como prioritário pelos leitores, nem sobre bichos, apesar de qualquer nota sobre cachorro provocar uma avalanche de comentários.
Muitos blogs existem por interesses pessoais de jornalistas, como um sobre corridas e outro para deficientes -iniciativas meritórias, mas feitas na base do voluntarismo.
Em audiência, o primeiro colocado é disparado o blog político de Josias de Souza, seguido pelo de Fórmula 1, de Fábio Seixas.
A Folha deveria investir de verdade em blogs. Não precisam ser sisudos e empolados, como muitas reportagens do impresso. Podem ser mais livres, mas precisam ter informação, acrescentar algo ao leitor. Não basta alinhavar brincadeirinhas e curiosidades. Blog não deveria ser playground de jornalista.
MENOS UM
A lamentar: o UOL anunciou, no último dia 8, a extinção do cargo de ombudsman. Era um dos poucos órgãos de imprensa no Brasil que mantinham um profissional independente para criticar o conteúdo e atender os leitores.
FOLHA LIGHT
A Folha fez um ajuste nas letras dos seus títulos, que estão menos pretos, com menos ‘bold’. As páginas ficaram ligeiramente mais leves. O excesso de negrito era uma das reclamações de muitos leitores depois da reforma gráfica.
APARTIDARISMO
Saíram com destaque, na Folha, as declarações de Alberto Goldman, governador de São Paulo, enaltecendo José Serra em eventos oficiais, como havia feito o presidente Lula em relação a Dilma Rousseff.
Foi prova de equilíbrio político.’