A telinha da TV apresenta coisas surpreendentes, outras nem tanto e muitas de triste destino. A cada dia, os que precisam, os que gostam e até quem não precisa ou não gosta assiste uma mutação horrorosa na programação, cheia de clichês batidos. Há novidades, mas a maioria delas vem sempre em detrimento do que poderíamos esperar de mais sadio. Assim, só dá para relembrar algumas passagens artísticas, como aquelas do cantor que dizia: ‘Tá todo mundo louco, oba!’, do apresentador que confessava: ‘Vim pra confundir, não pra explicar’ ou daquele outro que afirmava: ‘A televisão é uma máquina de fazer doido’.
Resgatando uma saudosa lembrança da professora Nadja Cardoso, ensinando Jornalismo Comparado, imagino um cotejamento entre uma edição do Jornal Nacional de hoje com outra de vinte anos atrás. Com certeza o percentual de matérias sobre ocorrências policiais hoje é bem maior. E não acredito que seja por conta do simples aumento da violência; trata-se da baixa qualidade decorrente da briga pela audiência. O Jornal Nacional recebeu um tom de Aqui e Agora. O pior é que a mesma tonalidade chega paulatinamente ao Fantástico, ensangüentando as noites de domingo.
Não quero achar que seja sabotagem
Mas pelas ondas (coisa que agora soa meio antigo) ou pelos cabos da TV nos chegam coisas inusitadas, a exemplo do técnico e jogadores da Seleção Brasileira fazendo propaganda de bebida alcoólica, uma das coisas menos saudáveis já vistas desde que a chamada mídia televisiva chegou ao Brasil. Estas propagandas me fazem lembrar aquele hospital do governo do estado, em Natal – o Maria Alice Fernandes, que foi terceirizado por uns anos e seus administradores resolveram fazer uma propaganda mostrando a qualidade dos equipamentos e o funcionamento do órgão. Lembram qual foi o apelo? ‘Nem parece hospital público.’ Ou seja, o contribuinte, através do governo, pagou para falarem mal de seus hospitais na TV.
Agora tenho aqui em meu birô algo incomum. Uma esponja Bom Bril – ‘Esponja multiuso para limpeza pesada (esponja plurienpleo para limpeza pesada), antibactéria (contra las bacterias)’, com as dimensões 110mmx75mmx22mm. A embalagem diz: ‘É bom. É da Bombril (Es Bueno. Es de Bombril).’ Explica mais: ‘Esponja de limpeza de alta qualidade antibactéria (Esponja de limpeza de alta calidad contra las bacterias). Fala ainda na composição: espuma de poliuretano, bactericida e fibra sintética com material abrasivo. E trata do modo de usar, explicando: ‘lado verde para limpeza mais difícil em superfícies resistentes e lado amarelo para limpeza de superfícies delicadas.
Diante de tudo isso, gostaria de entender a mensagem publicitária da Bombril falando mal de todas as esponjas de limpeza, apresentando todos os danos que podem provocar ao meio-ambiente e às pessoas. Tendo em vista que sei bem a origem dessa esponja que tenho em mãos, adquirida no Supermercado Nordestão, não quero, nem de longe, achar que se possa tratar de alguma sabotagem, que alguém teria produzido uma esponja com a marca Bombril e colocado clandestina ou enviesadamente nas prateleiras do supermercado. Desta forma, estou com uma rara interrogação. Aguardo os próximos passos de Carlinhos Moreno na TV. Ele começou mostrando Bombril, a palha de aço e a esponja (do concorrente?). Agora diz que aconselharam tirar a esponja. Qual será a próxima novidade? E olhe que não estamos em 1º de abril.
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Jornalista